O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, logo após voltar de uma viagem aos Estados Unidos, onde foi articular a fracassada tentativa de golpe de Estado na Venezuela, iniciou outro périplo internacional.
Mais uma vez, o ministro não está preocupado com viagens e ações que possam ajudar a reerguer a combalida economia brasileira. Seus objetivos são puramente ideológicos.
Araújo deixa isso claro através da escolha das lideranças que irá visitar: o ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, o presidente húngaro Victor Orbán, e os chefes de governo da Polônia.
No twitter, Araújo fez comentários bastante estranhos sobre seu encontro com Salvini:
O governo italiano, parlamentarista, é fruto de um acordo entre o “movimento cinco stelle”, que tem algumas posições de esquerda, e a Lega Norte, de extrema-direita.
O primeiro ministro da Itália é Giuseppe Conte, sem partido.
Salvini, com quem Araújo se encontrou, é vice-primeiro ministro e, repetindo, ministro do Interior.
Ou seja, foi um encontro de fundo puramente ideológico.
E tem ainda alguns fatos curiosos. Salvini, classificado como “extrema-direita” é extremamente crítico à União Europeia e a favor de maior protecionismo econômico para a Itália. Ou seja, é contrário ao neoliberalismo da economia de Bolsonaro.
O twitter de Araújo cita um trecho do hino italiano de 1946: “a Itália acordou, colocou o elmo de Cipião”. O ministro ainda acrescenta a informação histórica de que Cipião teria sido o “vencedor de Cartago”.
Em seguida, Araújo diz que o Brasil também acordou, também cingiu o elmo e “estamos prontos para a luta decisiva”.
A maneira de pensar de Araújo é intrigante. A que luta decisiva se refere Araújo? Se for pela luta pelo desenvolvimento econômico, seus encontros não deveriam se pautar por fatores econômicos? É uma luta puramente ideológica, num país com 13 milhões de desempregados, e sem nenhuma medida que vise gerar postos de trabalho?
Araújo tem uma agenda extremamente ideológica na cabeça, mas, à diferença de seus “companheiros” de extrema-direita europeus, que ao menos tem o compromisso de proteger e desenvolver suas indústrias domésticas, isso não parece ser uma preocupação para o nosso chanceler.
Algumas informações sobre os governos da Hungria e Polônia, colhidas de uma reportagem no Estadão:
(…) Defensor do que chama de “democracia não liberal”, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, conseguiu em abril do ano passado sua terceira vitória consecutiva nas urnas, unindo nacionalistas e ultraconservadores. Sua vitória consolidou o país como líder na aliança regional anti-Europa.
(…)O primeiro-ministro húngaro, que se apresenta como o grande defensor e o salvador dos valores cristãos tradicionais, continua sendo um modelo para seus vizinhos. Ele foi o pioneiro nas reformas das instituições para manutenção do seu partido no poder, como o sistema eleitoral, a Constituição e o sistema de Justiça. Também foi um dos primeiros a rejeitar a política migratória. A vitória do Fidesz também reforça o chamado Grupo de Visegrad (V4), formado por Polônia, Hungria e Eslováquia, além da República Checa, países que defendem este modelo “não liberal”.
Desde sua chegada ao poder, em 2010, Orban promoveu uma uma série de reformas para consolidar seu poder, valendo-se da supremacia que tinha no Congresso. Modificações que modelaram o Estado húngaro para transformá-lo numa nação que promove a primazia dos valores cristãos e o nacionalismo.
As principais reformas foram no sistema eleitoral, que facilitaram as vitórias do Fidesz, e no Judiciário. Sua reforma da Justiça viveu seu último capítulo no ano passado, com a aposentadoria forçada de 30 juízes do Supremo que pavimentaram o caminho para indicações de Orbán. Dentro de seu novo esquema social, o Governo limitou os subsídios a organizações de direitos civis e eliminou do currículo escolar qualquer menção à educação sexual, além de retirar o financiamento para tratamentos de reprodução assistida.
(…)
O Governo do partido Lei e Justiça (PiS) empreendeu na Polônia uma profunda guinada à direita. O partido ultraconservador chegou ao poder em dezembro de 2015, o ano da crise migratória. Seu programa combinava ataques às elites sociais e políticas − de Varsóvia e da União Europeia − e mensagens contra a imigração. Os nacionalistas obtiveram maioria absoluta. Depois de quase cinco anos sob a batuta do nacionalista PiS, a sexta economia da UE deu um considerável giro para um autoritarismo disfarçado de democracia.
O PiS promoveu uma série de medidas para controlar o Judiciário, atacando a Corte Constitucional pela cooptação ou pela nomeação legalmente contestável de juízes, e o Ministério da Justiça polonês tentou fazer o mesmo com relação aos juízes de direito comum. O sistema educacional é aparelhado, de maneira a veicular um ensino patriótico, de exaltação à identidade nacional.
Os serviços de informação, sob o controle do partido, gozam de um poder crescente, e, prescindindo de censura formal, o Executivo tenta a todo custo controlar os jornalistas, expostos a uma rotina de intimidações. O partido Lei e Justiça (PiS) continuará a implementar políticas nacionalistas controversas pelo menos até a eleição parlamentar de 2019 – onde ainda é favorito para ganhar. Seu fracasso em lidar com questões de estado de direito pode levar a UE a tentar impor sanções à Polônia.
O Banco Mundial estima um crescimento do PIB de 5,1% em 2019, impulsionado pelo crescimento do consumo privado e pela recuperação do investimento.