Gastos com publicidade nos 100 dias de Bolsonaro batem recorde

O internauta pode checar por si mesmo, clicando aqui, os gastos executados da Secom, a secretaria do governo responsável pela publicidade da presidência da república e dos ministérios.

O que me parece interessante é que a crise parece nunca afetar os donos do poder no país: bancos, mídia e juízes nunca ganharam tanto dinheiro como agora, mesmo após três anos de profunda crise econômica e um cenário de desemprego devastador.

O governo Bolsonaro alega que são pagamentos referentes a contratos anteriores. Pode até ser, mas estão sendo executados agora, em seu governo.

A Globo está recebendo menos dinheiro que a Record, e mesmo assim a Globo está recebendo mais dinheiro do que recebeu no ano passado.

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No UOL

Gasto do governo com publicidade cresce 63% no 1º tri; Record supera Globo

Por Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília

Os gastos em publicidade do primeiro trimestre do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) cresceram 63% em relação ao mesmo período do ano anterior e chegaram a R$ 75,5 milhões. Os dados foram obtidos a partir de um levantamento feito pelo UOL com base em informações da Secom (Secretaria Especial de Comunicação), vinculada ao Palácio do Planalto.

O levantamento mostra também que nos três primeiros meses do governo Bolsonaro, a Record passou a Globo e foi o grupo de comunicação que mais recebeu verbas publicitárias do governo. É a primeira vez que ocorre essa inversão em ao menos dois anos, segundo as análises por trimestre.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secom informou que os pagamentos feitos no primeiro trimestre são referentes a despesas contratadas na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) e que o presidente Jair Bolsonaro autorizou, até agora, o gasto de R$ 12 milhões referentes à campanha publicitária da reforma da Previdência.

O levantamento feito pelo UOL teve como base os gastos feitos pela Secom. Esses dados são compilados em um site alimentado pelo governo. Ele não inclui os gastos em publicidade feito por ministérios e pelas empresas estatais, cujos dados são armazenados em diferentes separados.

Os dados indicam que os gastos da Secom com publicidade institucional saíram de R$ 44,5 milhões no primeiro trimestre de 2018 para R$ 75,5 milhões no mesmo período de 2019.

Esses valores são referentes aos gastos do órgão com o pagamento de agências de publicidade, pesquisas de opinião pública, comunicação digital e repasses a veículos de comunicação em todo o Brasil. Corrigindo os números pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que no período variou 4,2%, chega-se a um aumento de 63% entre um ano e outro.

Na comparação com o mesmo período de 2017, o crescimento é ainda maior. Nos primeiros três meses daquele ano, a Secom gastou R$ 35 milhões. Na comparação entre os gastos em 2017 e 2019, o crescimento é de 101%, já descontada a inflação no período.

Os levantamentos foram feitos entre os anos de 2017 e 2019 porque o sistema alimentado pelo governo só passou a compilar informações detalhadas sobre os gastos da secretaria a partir de janeiro de 2017, após a emissão de uma instrução normativa do então Ministério do Planejamento, absorvido posteriormente pelo Ministério da Economia.
Record e SBT passam a Globo em 2019

A comparação entre 2017 e 2019 mostra que, neste ano houve uma aparente quebra no padrão de distribuição das verbas publicitárias repassadas pela secretaria de comunicação do governo.

Os dados mostram que em 2017 e 2018, a Globo encontrava-se isolada na liderança do bolo publicitário, e que Record e SBT se revezavam em segundo lugar. Em 2017, por exemplo, a Globo faturou R$ 6,9 milhões no primeiro trimestre. Em segundo lugar ficou o SBT, com R$ 1,34 milhão. Em terceiro, ficou a Record com R$ 1,21 milhão.

Em 2018, o padrão se manteve. A Globo faturou R$ 5,93 milhões nos três primeiros meses do ano. Em segundo lugar ficou a Record, com R$ 1,308 milhão. Em terceiro ficou o SBT com R$ 1,1 milhão.

Em 2019, o padrão mudou. Em primeiro lugar ficou a Record, com R$ 10,3 milhões. Em segundo, veio o SBT, com R$ 7,3 milhões. Em terceiro veio a Globo, com R$ 7,07 milhões.

Para superar a Globo, Record e SBT tiveram crescimentos exponenciais de seus faturamentos publicitários junto à Secom. Em relação a 2018, o crescimento do faturamento publicitário da Record junto à Secom no primeiro trimestre de 2019 foi de 659%, valor já considerando a variação da inflação no período.

A Rede Record é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, comandada pelo bispo Edir Macedo. O religioso declarou apoio à candidatura de Bolsonaro à Presidência em setembro do ano passado.

Desde que assumiu o poder, o presidente já concedeu duas entrevistas exclusivas à rede. O SBT também experimentou um crescimento exponencial no período: 511%. Enquanto isso, o faturamento dos veículos das Organizações Globo cresceu 19%, saindo de R$ 5,9 milhões para R$ 7,07 milhões.

Bolsonaro prometeu cortar gastos

Uma das promessas de Bolsonaro em sua campanha à Presidência foi cortar gastos referentes à publicidade governamental. No início do ano, ele chegou a propor uma mudança no sistema de redirecionamento da verba estatal para veículos de comunicação.

Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, essas mudanças seriam uma estratégia para acabar com o predomínio da Globo no faturamento da verba publicitária do governo.
Outro lado

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto disse que os pagamentos feitos no primeiro trimestre do ano não têm relação com ações determinadas por Bolsonaro.

“Primeiramente, é necessário esclarecer que os valores indicados pelo jornalista se referem aos pagamentos realizados pela veiculação de campanhas publicitárias autorizadas e executadas em anos anteriores, e, portanto, sem relação com os investimentos previstos para a publicidade em 2019”, disse.

A assessoria informou que a estimativa de gastos da Secom para todo o ano é de R$ 100 milhões. Sobre o aumento de 659% no volume de repasses da Secom para a Record e de 511% para o SBT, o órgão disse apenas que os pagamentos são feitos após a comprovação da veiculação e que eles são feitos por ordem cronológica.

A reportagem enviou questionamentos às assessorias de imprensa da Record e do SBT, mas até a última atualização desta matéria, não obteve resposta.

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