Os problemas do Estado do Rio são muitos, e agudos. Em um contexto extremamente difícil, tem passado despercebida a apagada atuação do Governador. Talvez pelas estridentes polêmicas do Bolsonarismo – de seus “Golden Showers” às diárias revisões de ditos e desditos, ou talvez por uma adoção da sabedoria de Maurice Switzer, onde “é melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida” – até aqui a marca da gestão Witzel tem sido um silêncio lacônico, à beira do precipício, para os temas decisivos ao futuro do Rio.
Chamo atenção, por exemplo, para a crise fiscal que foi tema central do período Pezão. O Estado quebrou, a paralisia dos serviços públicos matou gente e maltratou o funcionalismo e aposentados. Inventou-se o tal “regime de recuperação fiscal”, mero paliativo, que desde o nascimento jamais se propôs a recuperar coisa alguma. Sendo simples suspensão dos pagamentos ao Governo Federal com juros (duros) adiados por três anos e com possibilidade de extensão por outros três, ao fim esta dívida gigantesca voltará na cabeça do povo do Rio, toda de uma vez. Não precisa ser astrólogo, filósofo ou guru espiritual de teorias conspiracionistas para profetizar: se o governador não se mexer muito mais, o Estado vai quebrar. De novo.
Antes de qualquer dúvida sobre a origem ideológica dessa afirmação, vinda de “um comunista que disputou eleições contra Witzel”, é necessário reivindicar o caráter implacável da matemática. Ela, a matemática, tem essa inconveniência de importar-se muito pouco com ideologias.
Em recente entrevista para o jornal Valor Econômico, é o próprio Secretário Estadual de Fazenda, Luiz Cláudio de Carvalho, quem diz que a dívida do Rio com o Governo Federal é “impagável” e que o Rio está num leito de morte. Esta dívida está caminhando para 237% da Receita Corrente Líquida (RCL). O Governo Federal já avisou: não vai renovar o acordo, nem estender a mão. Com Paulo Guedes obcecado em economizar um trilhão na Deforma da Previdência e pouco sensível a qualquer tragédia social que isto represente, poderá ser acusado de tudo, menos de incoerência. Os interesses são antagônicos. Vai dar ruim.
Não há saída para o Rio sem revisão do pacto federativo. O Governador deve se colocar em defesa do Estado, de forma pública e muito firme. É urgente. Enquanto isso não acontece é muito importante avisar ao funcionalismo, aposentados e fornecedores do Rio: poupem e preparem-se, aproxima-se uma nova – e imerecida – tragédia social sobre todos nós.
Leonardo Giordano é vereador pelo PCdoB em Niterói e foi candidato a Vice-Governador na chapa encabeçada por Márcia Tiburi nas últimas eleições.