Desenvolveu-se, nos últimos dias, um acalorado debate sobre a deputada Tabata Amaral (PDT) no seio da esquerda. A discussão foi provocada pela viralização de uma traulitada de Tabata no ministro da Educação, Ricardo Vélez, durante debate na Câmara Federal.
Como estamos na era da velocidade estonteante das informações e dos assuntos em pauta, a discussão já deu uma esfriada. Permitam-me requentá-la – no forno, que deixa as coisas mais crocantes – para pontuar algumas coisas.
A primeira é o alto potencial nocivo do maniqueísmo sectário.
Dialogar para construir alianças e consensos é parte fulcral da atividade política. Sendo assim, fuzilar qualquer um que não se encaixe perfeitamente em uma apócrifa e convenientemente volátil cartilha do bom esquerdista não me parece uma atitude inteligente. Ainda mais em um momento em que a extrema-direita e a direita tradicional engalfinham-se para ditar os rumos do país enquanto a esquerda, queimada e isolada, lambe suas feridas.
A defesa de uma educação pública universal, principal bandeira de Tabata, é evidentemente uma pauta prioritária para o país e que pode tranquilamente ser considerada “de esquerda”. Já o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente da Venezuela é uma postura no mínimo ingênua e pode decididamente ser definida como “de direita”.
Os seres humanos são dúbios, contraditórios e não costumam caber em caixinhas pré-fabricadas – que surpresa.
A intelligentsia à destra, que se expressa principalmente por meio da mídia hegemônica, sabe bem disso e explora as contradições inerentes à condição humana para, sinuosamente, semear a controvérsia no espectro político adversário. Ao mesmo tempo, busca atrair os quadros em disputa oferecendo a proteção de seu largo guarda-chuva.
A chuva de reportagens sobre Tabata que inundou a imprensa conservadora é evidência dessa estratégia. O Estadão fez uma reportagem em vídeo com a deputada cuja manchete é “Nem de esquerda e nem direita: conheça Tabata Amaral”. É uma óbvia isca para que a militância virtual caia matando e casse de vez a carteirinha de esquerdista de Tabata.
Enquanto isso, os porta-vozes da direita a bajulam. Eles sabem que, na política institucional, afagos costumam dar melhores resultados que empurrões e chutes na canela.
Seria inteligente substituirmos esse tolo jogo de acusações pela promoção de temas importantes.
Por exemplo.
Uma das críticas aventadas contra a pedetista foi a presença de grandes empresários entre seus financiadores de camapanhas. Em vez de determinar, a partir desse fato, que Tabata “serve ao capital”, por que não colocamos em pauta novamente o financiamento público de campanhas?
A única maneira de realmente mitigar o poder do dinheiro sobre as eleições parece ter sido abandonada como pauta. No lugar do debate de ideias como essa resta a discussão estéril sobre quem é mais de esquerda.
Abandonar o maniqueísmo e a busca por vilões e mocinhos – de resto infantil e contraproducente – é pré-requisito para que possamos voltar a debater questões de fundo e, assim, a fazer política com P maiúsculo.