O senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) xingou o Hamas nas redes sociais. Não me parece prudente ofender uma organização islâmica como essa. É uma retórica irresponsável que nos arrasta para dentro, gratuitamente, de um dos conflitos mais perigosos do mundo. O que ganhamos com isso?
O que Bolsonaro quer? Atiçar o ódio de radicais islâmicos contra o Brasil? O senador tem noção do que isso significa, em termos de aumento de riscos à segurança nacional?
Muitas empresas brasileiras operam no oriente médio. Bolsonaro entende que, ao agredir, sistematicamente, a sensibilidade islâmica, aumenta os custos de segurança de todas a suas ações comerciais na região?
Abaixo, o print do tweet irresponsável de Flavio Bolsonaro. Ele o apagou em seguida, mas isso não existe na internet, que guarda tudo:
A irresponsabilidade da família Bolsonaro é inacreditável.
Compare a balança comercial do Brasil com Israel e com os países do Oriente Médio:
Os números mostram que o Brasil tem balança comercial negativa com Israel.
Em 2018, nossa balança com Israel foi negativa em US$ 847 milhões. No mesmo ano, exportamos para Israel apenas US$ 320 milhões.
Ou seja, o Brasil perde dinheiro com Israel, na medida em que importa mais que exporta para este país.
Já com Oriente Médio, é uma região onde temos obtido, nos últimos anos, um superávit bilionário.
O saldo com o oriente médio, apenas em 2018, foi de US$ 4,6 bilhões. No mesmo ano, nossas exportações para a região totalizaram quase 10 bilhões de dólares.
O Hamas publicou esta semana, em seu site, uma nota bastante dura contra a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Israel.
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Sobre a visita do presidente brasileiro à ocupação israelense, o movimento Hamas afirma o seguinte:
O movimento Hamas condena veementemente a visita do presidente brasileiro Jair Bolsonaro à ocupação israelense como um movimento que não apenas contradiz a atitude histórica do povo brasileiro que apóia a luta pela liberdade do povo palestino contra a ocupação, mas também viola leis e normas internacionais.
Particularmente, o Hamas denuncia que o presidente brasileiro fez uma visita à Cidade Santa de Jerusalém e ao Muro Buraque acompanhado pelo primeiro-ministro das ocupações israelenses. O movimento também condena o plano anunciado de criação de um escritório comercial para o Brasil em Jerusalém.
O Hamas conclama o Brasil a reverter imediatamente essa política que é contra o direito internacional e as posições de apoio do povo brasileiro e dos povos da América Latina.
Ressaltamos que essa política não atende à estabilidade e segurança da região e ameaça os laços brasileiros com nações árabes e islâmicas.
Finalmente, o Hamas insta a Liga Árabe, a Organização da Cooperação Islâmica e todas as organizações internacionais a pressionar o governo brasileiro a voltar atrás nessas ações de apoio à ocupação israelense, que dão cobertura para seus abomináveis crimes e violações contra o povo palestino.
Original, em inglês:
Press release on Brazilian President’s visit to Israeli occupation
01 April, 19
On the Brazilian President’s visit to the Israeli occupation, Hamas movement states the following:
Hamas movement vehemently condemns the visit of the Brazilian President Jair Bolsonaro to the Israeli occupation as a move that not only does contradict the historic attitude of the Brazilian people who support the Palestinian people’s freedom struggle against the occupation but also violates the international laws and norms.
Particularly, Hamas denounces that the Brazilian President paid a visit to the Holy City of Jerusalem and the Buraq Wall accompanied by the Israeli occupations’ Prime minister. The movement also condemns the announced plan for setting up a trade office for Brazil in Jerusalem.
Hamas calls on Brazil to reverse this policy immediately that is against both the International law and the supportive positions of the Brazilian people and the peoples of Latin America.
We stress that this policy does not serve the stability and security of the region and threatens the Brazilian ties with Arab and Islamic nations.
Finally, Hamas urges the Arab League, Organisation of Islamic Cooperation, and all international organisations to pressure the Brazilian government to overturn these moves that support the Israeli occupation and provide a cover for its abhorrent crimes and violations against the Palestinian people.
Hamas Movement
April 1, 2019