Flávio Dino: É preciso explorar as contradições do Brasil subalterno e autoritário de Bolsonaro
Por Felipe Bianchi
28 Março 2019
Reeleito governador do Maranhão e um dos principais líderes do progressismo brasileiro contemporâneo, Flávio Dino (PCdoB-MA) esteve, nesta quarta-feira (27), no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, em São Paulo. Em diálogo com blogueiros e mídias alternativas, o governador falou sobre os desafios colocados para o enfrentamento ao bolsonarismo não só pela esquerda, mas por todos os setores da sociedade que defendem a legalidade democrática.
“Um governo de extrema-direita eleito pelo voto é um cenário inédito para o Brasil. Bolsonaro vem de um ethos nazifascista que privilegia a retórica do inimigo e da agressão. Este governo é militante do conflito, do combate aos seus adversários”, o que implica no acirramento das contradições de um país complexo como o Brasil, conforme opina. “Quem lembra de Mussolini, na Itália, sabe que todos os fascistas extraem parte de sua legitimidade da nostalgia de um suposto passado glorioso, e é isso que o bolsonarismo evoca. Um passado supostamente grandioso do Brasil sendo repaginado”.
Essa retórica, no entanto, apresenta inúmeras brechas, que precisam ser exploradas a fim de escancar suas contradições. Dino elenca pelo menos três delas: “A primeira contradição que se agrava sob o governo de Bolsonaro é entre pobres e ricos. O caráter da reforma da Previdência é a destruição do sistema previdenciário brasileiro a partir da capitalização. Além disso, é um governo que busca a aniquilação do movimento sindical e da luta da classe trabalhadora no Brasil”.
A segunda contradição indicado por Dino é a oposição entre democracia e autoritarismo. Apesar de parecer óbvia, Dino alerta: “Uma ruptura institucional está objetivamente colocada pelo bolsonarismo. Não temos o direito de minimizar esse risco. Nós não podemos abordar uma conjuntura dessa com ilusões de que a burguesia nacional vá nos ajudar”. Segundo ele, bancar a agenda do Estado democrático de Direito e da legalidade democrática, diante do autoritarismo de Bolsonaro, é papel urgente da esquerda e dos setores que prezam pela democracia e pela Constituição.
“Defender o Estado democrático de Direito é denunciar as milícias, lutar contra a criminalização dos movimentos sociais e, do mesmo jeito que eles defendem escola sem partido, defendemos um Judiciário sem partido”, aponta. “Isso pressupõe, inclusive, a bandeira Lula Livre”, acrescenta. Em sua primeira passagem pela sede do Barão de Itararé, em janeiro de 2018, Dino classificou a sentença de Lula como uma espécie de “esoterismo judicial”. Relembre aqui.
De acordo com o governador, é preciso visão estratégica para enfrentar uma guerra que, hoje, não é de trincheira, e sim de movimentos. “Temos de ter flexibilidade tática para enfrentar a conjuntura. Estamos em uma defensiva estratégica. Precisamos de frentes amplas, o que implica dialogar com diversos segmentos que defendem o Estado democrático de Direito. As frentes amplas precisam ser ancoradas no povo, na massa. Temos que ter pé firme no povão, senão a frente ampla vira traição e perda da perspectiva estratégica. Esse é o nosso tesouro”.
Em referência às imagens que viralizaram nas redes e nos meios de comunicação, na qual cerca de 15 mil pessoas se aglomeravam no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, disputando vagas de emprego, Dino aponta: “A fila de desempregados no Anganhabaú significa a desilusão da massa trabalhadora, que está sem caminho. Nós temos de ser o caminho desse povo”.
Quando o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), antagoniza com Bolsonaro, ou quando Renan Calheiros e o Ministério Público Federal criticam a comemoração do golpe de 64, temos de entender que são elementos importantes de uma conjuntura singular. “Temos o dever de transformar esse ‘descolamento’ – do que antes era um bloco – em energia democrática, em acolhida, não em sectarismo”.
A terceira contradição latente que Dino aponta neste catastrófico início de governo é entre nação e império. “Bolsonaro rebaixa o Brasil à condição de subalterno. Não lembro de uma política externa tão abertamente subalterna desde Figueiredo, talvez”, critica. “Temos de combater essa ideia de nacionalismo de uma só nação. Somos caudatários do nacionalismo dos EUA. Angela Merkel acaba de adotar medidas protecionistas para a Alemanha e ninguém está acusando ela de ser ‘vermelha’ ou ‘comunista'”, ironiza.
Questionado sobre a entrega da Base de Alcântara para Donald Trump, em uma visita estapafúrdia do presidente ao centro do imperialismo, Dino foi sucinto: “O problema raiz disso tudo é que o Brasil abriu mão de seu programa espacial ao entregar Alcântara”. O governador não entrou em maiores detalhes pelo fato de ainda não ter acesso às minúcias do acordo.
Há uma disputa em curso no país sobre a narrativa do próprio Brasil, afirma Dino. “O vira-latismo está se tornando hegemônico. A ideia do ‘jeitinho’, da corrupção, do patrimonialismo está prevalecendo. Essa narrativa precisa ser enfrentada. Temos de retomar a concepção do povo brasileiro sob a ótica de Darcy Ribeiro”, defende. “O pato amarelo que ficou famoso é a apropriação da identidade nacional por causas antinacionais”.
Assista à íntegra da entrevista coletiva:
https://www.facebook.com/baraomidia/videos/665929400508831/
Leonardo
01/04/2019 - 16h13
Pelo que tenho entendido o Lula esta acenando um possível posto de poste ao Dino para as próximas eleições (como fez com o Ciro para 2010).
Mais uma estratégia imoral, quer dizer, genial, do PT para trazer o PC do B de volta ao puxadinho e isolar o PDT na oposição e assim obriga-lo a também a compor uma hegemonia petista.
Todas as estratégias do Lula até agora deram certo, elegeram a maior bancada e elegeram o único dos presidenciáveis que fará um governo em que a população sentira falta do tempo do governo do PT.
Cheque mate do Lula, de novo.
Amoedo e Doria agradecem
Nostradamus ( bacia & banquinho )
29/03/2019 - 16h39
LULA LIVRE ! Lula Livre sempre! Os que o detratam não estão a altura de ser estrado para os seus pés!
Ivan
29/03/2019 - 16h53
brasil247 total
Sergio Araujo
29/03/2019 - 12h08
Meu Deus do Ceu….
lucio
29/03/2019 - 11h57
1) continuar ainda com “lula livre” é estrategicamente errado
2) pelo resto dino tem razao, na teoria
3) na pratica eu nao estou vendo oposiçao alguma
Carlos Eduardo
29/03/2019 - 10h37
Excelente entrevista, esse Flávio Dino é um dos melhores políticos que temos na atualidade, basta ver o que fez e está fazendo pelo Maranhão.
Renato
30/03/2019 - 19h01
Vamos ver o que ele está fazendo pelo Maranhão depois que ele deixar o governo. Fernando Pilantrel e Dilma também já foram um dos melhores quadros da atualidade !
Paulo
29/03/2019 - 09h53
Comunista falando em democracia. Como diria aquele narrador esportivo: Opa, que beeeeeleza! E a “acolhida ao ‘Botafogo’ e ‘Atleta’? Como é meiga a esquerda, não? “Combater a corrupção e lutar pleo ‘Lula livre’ “? Parei!
lucio
29/03/2019 - 12h08
1) nao interessa como alguem se autodefine, nem como o definem os outros. interessa o que faz na pratica. entao no brasil nao tem nenhum comunista
2) partidos “comunistas” no ocidente pararam de ser revolucionarios, entao antidemocraticos, 80 anos atras. aceitando a democracia partidaria e a livre iniciativa economica.
nao vi o pt nem o pcdob nacionalizar mercadinhos e cabelereiros, ao contrario lula cortou com força os impostos para a micro e pequena empresa. na realidade foi bastante liberal.
entao as vossas acusaçoes de “comunista!” sao mentiras descaradas sem nenhum apoio na realidade.
e muitos que votaram bozo cuspiram no prato onde comeram. e logo vao se arrepender.
Sergio Araujo
29/03/2019 - 12h11
Quais impostos que Lula cortou para microempresas e pequenas ?
lucio
29/03/2019 - 15h40
“lei do simples nacional”, dezembro de 2006. nao sabe? vc tem menos de 13 anos?
ari couto
29/03/2019 - 17h11
Ou estava em coma.De qualquer forma, o crescimento que o país obteve nos 12 anos do PT já seria suficiente para alegrar qualquer coração. Apenas para dar uma ideia. Sou pequeno produtor rural, vivo no sertão norte baiano. Crio caprinos. Em 2014, vendíamos o animal a R$ 14,00 o quilo, peso vivo. Hoje, com sorte, você vende a R$ 10,00; Naquela época, o animal valorizava mais que qualquer aplicação financeira e o consumo era altíssimo. Hoje…
Sergio Araujo
29/03/2019 - 18h02
Ari Couto,
Otimo e Parabèns !!
Mas o merito d’isso tudo nào è do Governo da vèz, è 100% seu e de quem trabalha duro todos os dias.
A politica sò tem demeritos, sò atrapalha, sò faz merda….TUDO que de bom aconteçe è SEMPRE ed EXCLUSIVAMENTE merito nosso, è o natural resultado do trabalho de todos os dias (deveria ser pelo menos).
Nào se entregue para o Governo da vèz, qualquer seja.
cabra retado
29/03/2019 - 21h55
tiraram teu chao em cabra kkkkkkkkkkkkkk
Sérgio Araújo
29/03/2019 - 16h07
Isso é cortar impostos das empresas ?
Paulo
29/03/2019 - 17h51
“2) partidos’comunistas’ no OCIDENTE (grifo meu) pararam de ser revolucionarios, entao antidemocraticos, 80 anos atras, aceitando a democracia partidaria e a livre iniciativa economica. (…) entao as vossas acusaçoes de ‘comunista!’ sao mentiras descaradas sem nenhum apoio na realidade, ” He, he, he, ainda bem que estamos no Oriente…desculpe-me mas não podia deixar passar, rsrs…
lucio
29/03/2019 - 19h11
OCIDENTE é europa.
america do norte já nao é tanto assim, digamos 50%.
aqui é 0%.
Paulo
29/03/2019 - 20h14
É melhor pararmos com nossas conceituações do que seja Oriente e Ocidente. Creia, não vamos chegar a um acordo!
lucio
30/03/2019 - 09h04
paulo,
nao foi eu que começei, foi vc que falou de “ocidente”, repetindo a demagogia de bozo, para justificar as recentes medidas de submissao colonial
Ivan
29/03/2019 - 18h15
Paulo, sim, comunista falando em democracia, isso mostra como vc está preso a conceitos (equivocados) do século passado e que vc precisa revê-los com certa urgência.
Não?
Paulo
29/03/2019 - 20h24
Não vejo assim, Ivan! Uma coisa é socialismo democrático, Internacional Socialista (da qual Brizola fazia parte). Comunismo sempre vai soar pra mim como algo radical, ou com tendência de se radicalizar. Foi assim em todos os países em que tomaram o Poder. Eles podem até se dizerem democratas, se mimetizarem perante a sociedade, para serem aceitos. Mas, tampouco possam fazê-lo, com segurança, eles se converterão numa ditadura. Veja o caso da Venezuela, que é uma proto-ditadura em processo de radicalização crescente! E só não se transformou num regime aos moldes castristas, ainda, por pressão externa, especialmente dos EUA (Maduro precisa se disfarçar pra permanecer no comando). É da essência do comunismo o confisco das propriedades produtivas – podendo haver nuances – e, com isso, a perseguição ao que chamam de “burgueses”, com prisões arbitrárias e censura à imprensa, além de perversão do processo eleitoral. É uma contradição teórica, pois, pra eles, a democracia é “burguesa” (e é mesmo), mas eles se dizem “democratas genuínos”. Logo se vê que há algo errado…
Ivan
30/03/2019 - 10h10
Com todo respeito, li seu comentário e continuo achando que vc está preso a conceitos do passado que não se aplicam mais na modernidade.
Então vc acha que a Manuela D’Ávila (pegando-a apenas como exemplo) é stalinista só pq é do PCdoB?? Não tem nada a ver uma coisa com a outra! Os tempos são outros, a ideia comunista atual nada tem a ver com as sandices que ditadores sanguinários comunistas fizeram no passado, da mesma forma que o capitalismo atual, apesar de selvagem, nada tem a ver com Videla, Pinochet, Strossner, Hitler, Franco e outros ditadores anti-comunistas, por isso que penso que muitos simpatizantes da direita de certa forma vivem no século passado, não sei se por ignorância ou por esperteza, ou os dois…
Paulo
30/03/2019 - 17h11
Não, Ivan, você que é um “socialista utópico”…não confie em ninguém que se diz comunista, porque, das duas uma, ou ele é um mentiroso ou um hipotético assassino em série (como Stálin e Mao), e ainda se dirão “absolvidos pela história”…
Ivan
30/03/2019 - 18h52
Os ditadores de direita a história absolveu né? rs
Paulo
30/03/2019 - 22h22
Ivan, não seja terrível! Eu não absolvi ninguém, nem a história o fez, porém, a bem da verdade, devo reconhecer que absolvo o Golpe Militar de 1964, por ter livrado o país do comunismo e da possível intervenção americana e secessão territorial subsequente (a meu ver, teria havido uma guerra civil e nosso futuro estaria sepultado). Condeno-o, todavia, pela tortura do aparato repressivo (como condeno, igualmente, Marighella, Lamarca “et caterva”), mas o absolvo pela relativa curta duração. Veja o Regime de Fidel quanto tempo já escraviza o povo cubano! A ex-URSS, então, e a China maoísta, o que dizer?
Ivan
30/03/2019 - 23h19
Paulo, não seja presunçoso! Não é vc, é a história que vc mesmo citou. Fingiu não entender pq?? rs
Ah, Stalin e Mao foram assassinos em série? Óbvio que foram! E a diferença entre nós é essa, eu condeno as ditaduras, vc as de esquerda.
E sobre Cuba, sabe como o povo cubano se refere a Fidel? Não? Procure saber… rs
Paulo
31/03/2019 - 20h53
A que cubanos se refere? Aos de Cuba? Ou aos da Flórida? Mas, pensando bem, não deve haver diferença no tratamento ao ditador…desde que os cubanos ilhotas estejam no recôndito do lar e possam se expressar livremente, cercados por pessoas da família, de estrita confiança…