Exclusivo! Em dois anos, refinarias americanas faturam R$ 37 bilhões com a venda de diesel ao Brasil

Tem um país que está ganhando muito dinheiro com a nossa crise. Os Estados Unidos nunca exportaram tanto derivado de petróleo para ao Brasil como nos últimos dois anos.

Vamos nos concentrar no diesel, que já se tornou o principal item da pauta de importação brasileira.

Em 2018, o Brasil importou US$ 6,3 bilhões em óleo diesel, o que corresponde a quase R$ 24 bilhões, valor muito próximo do lucro líquido da Petrobras, a maior empresa nacional.

Quase todo o diesel, ou 84,3%, veio dos Estados Unidos. As exportações americanas de diesel para o Brasil totalizaram US$ 5,3 bilhões em 2018, o que significa um aumento de 195% desde 2010.

 

O Brasil se tornou o segundo maior destino das exportações americanas de diesel. Segundo a Agência de Energia do governo americano (EIA), as exportações para o Brasil cresceram, em quantidade, 221% desde 2013. O Brasil compra 15% de todo o diesel exportado pelos EUA, já encostando no México, que responde por 18%. Em 2013, o Brasil adquiria apenas 5,7% do diesel americano.

O grande salto observado nas exportações americanas de diesel para o Brasil ocorreu em 2016, coincidentemente o ano em que o governo Dilma foi derrubado por um polêmico processo de impeachment.

As importações brasileiras de gasolina e diesel, somadas, experimentaram um forte crescimento em 2017 e 2018 (batendo volumes recordes), apesar da recessão econômica observada no mesmo período.

Ao mesmo tempo, a produção nacional de derivados está estagnada há mais de 10 anos. Em 2018, o Brasil produziu 631 milhões de barris de petróleo em derivados. Como a demanda tem subido de maneira consistente no mesmo período, apesar da estagnação e declínio desde 2013, a produção nacional de derivados tem ficado cada vez mais deficitária, o que explica o aumento das importações.

Enquanto tínhamos um superávit de 114 milhões de barris em 2006, ou seja, produzíamos mais derivados do que a demanda, a partir de 2010 começamos a perder terreno, e a demanda foi ficando cada vez maior que a nossa produção. Em 2018, o déficit entre produção e demanda é de 111 milhões de barris.

 

O processo político dos últimos anos, com impeachment, Lava Jato e instauração, por fim, de um governo ultraliberal e entreguista, serviu à perfeição aos propósitos das grandes indústrias norte-americanas especializadas em refino de petróleo.

Foi tudo muito conveniente, porque as refinarias americanas nunca produziram tanto derivado como nos últimos anos, e precisavam escoar o produto para algum lugar.

A paralisação da produção brasileira de derivados, o cancelamento na construção de nossas próprias refinarias, tudo isso ajudou muito os EUA a aumentar sua exportação, e reduzir seu déficit comercial, superando a crise econômica que eles vinham sofrendo desde o problema com os subprimes, em 2008.

 

Os números do PIB e do emprego mostram que a economia experimenta, nos últimos três anos, a pior crise econômica de sua história. Ao mesmo tempo, os grandes bancos nacionais (não queria esquecer deles), e as refinarias norte-americanas, nunca ganharam tanto dinheiro no Brasil.

Somados os anos de 2017 e 2018, os EUA exportaram o equivalente a quase 10 bilhões de dólares em óleo diesel para o Brasil, o que significa quase 37 bilhões de reais.

Estamos falando apenas de diesel. Seria interessante somar gasolina, nafta, plásticos, e outros derivados de petróleo, que poderíamos produzir aqui mesmo, em nossas refinarias, mas que preferimos importar dos EUA, gerando bons empregos industriais por lá, ao mesmo tempo em que destruímos, via judiciário, nossas próprias indústrias.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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