Zé de Abreu, Presidente do Brasil!

Nas vésperas do carnaval de 2019 o ator José de Abreu deu um presente para o país. Se autoproclamou Presidente do Brasil, emulando jocosamente o “autoproclamado” “presidente” da Venezuela Juan Guaidó, “representante” das elites venezuelanas.

Guaidó, obviamente financiado e controlado pelos EUA, se prestou a figurar como motivo aparente para justificar a invasão da Venezuela. Deu ruim até agora e Guaidó virou uma piada de mau gosto.

Abreu não perdeu a lide e tascou no twitter ser o Presidente autoproclamado, no que foi aclamado por milhares de pessoas. A piada do artista de repente se transmudou em esperança.

Inusitadamente, a nossa realidade semivirtual prêt-à-porter viu uma luz e não um farol de trem no fim do túnel.

Em questão de horas Abreu virou o principal assunto do twitter, a plataforma digital onde exerce a militância aguerrida pela democracia e pelo Estado de Direito desde que, em 2005, percebeu a farsa do “Mensalão”, formada para criminalizar o então Presidente Lula e a esquerda brasileira.

O futuro distópico tão bem interpretado por Abreu, e que se apresenta neste começo de 2019 de forma radical, era apenas um projeto em 2005.

Hoje, se sabe, apesar de eleitoralmente vitoriosa a estratégia de Lula de dividir o pão, ela foi devidamente minada, perseguida e encarcerada, até sufocar o grito de um povo condenado à angústia de procurar o que comer, como dizia Josué de Castro. Lula tirou quase 50 milhões da miséria extrema. Hoje temos mais de 30 milhões de desempregados, depois de golpes sucessivos na democracia brasileira.

Embora não tenha sido derrotado desde 2002, Lula teve o seu terceiro provável mandato de Presidente garfado vergonhosamente em 2018 pelo juiz que virou ministro do atual Presidente de fato, Jair Bolsonaro.

Eleito por disparos aparentemente ilegais de fake news e por suposto financiamento privado de campanha (que envolve o Ministro destituído Gustavo Bebiano), Bolsonaro se elegeu em 2018, em segundo turno.

Lula, o seu principal rival durante todo o ano de pesquisas eleitorais, permaneceu preso e acusado de comprar e mandar reformar um apartamento que não lhe pertencia, como confidenciou na sentença o próprio juiz que o condenou por isso mesmo, e por isso virou Ministro da Justiça (é sempre bom repetir).

Iniciado o mandato de Bolsonaro, o país mergulhou num surreal pesadelo de obscurantismo, ignorância e antiintelectualismo, digno de um filme de Buñuel. Hoje, por exemplo, uma frase antes alucinada, como “o Brasil pode entrar em guerra com a Venezuela”, virou realidade plausível.

A alegria, a esperança e a vontade de viver de brasileiros que acreditam na pluralidade de opiniões, na diversidade de modos de vida e na convivência pacífica e democrática foram soterradas por toneladas de preconceito, homofobia, machismo, misoginia, transfobia e violência bárbara e geral contra o povo trabalhador.

Tudo colaborava para que este carnaval de 2019 fosse o mais baixo-astral em décadas.

No dia em que ministro colombiano (com perdão aos colombianos) da educação (com perdão aos professores) exige que as escolas cantem o slogan de campanha do presidente de fato (“Deus acima…” argh!); No dia em que a Socialista Morena Cynara Menezes descobre o talento nato do Velléz Rodrigues para cantar boleros como se conduz uma tropa em marcha; Eis que, da Grécia, surge um fiat de inteligência, talento e afeto e somos inundados com essa surpresa totalmente inusitada de um Presidente que o Brasil de verdade aprendeu a amar faz é muito tempo.

Com 50 anos de carreira muito bem sucedida e premiada, o antigo, bissexto militante do PT e ator da Globo (porque o Brasil é feito de oximoros, lembra Euclides) Zé de Abreu, como é carinhosamente conhecido, resolveu encarar a barbárie vivida e resistida bravamente em seu twitter e se proclamou Presidente.

A ironia, transformada em ato político, extrai a sua força da verdade que desnuda.

Zé de Abreu e seu dream team de ministros, como reconhece na entrevista deliciosa que deu ao Brasil247 no YouTube na noite desta terça-feira, traz a boa nova.

É muito mais que óbvio que o Zé, que nunca ocupou cargo executivo em lugar nenhum, tem um discurso, uma capacidade de análise, uma legitimidade e uma sensibilidade ímpares para ser um Presidente da República zilhões de vezes mais capaz que o que hora ocupa o Palácio.

O seu time de “Ministros” – Lula, Chico Buarque, Eduardo Suplicy, Boulos, Jandira, Benedita, Jean Willys, Marcelo D2, Haddad, Wadih –  e o seu carisma o colocam automaticamente como uma possibilidade absolutamente real para sonharmos com 2022 (se tivermos 2022).

O Zé (nome óbvio para um verdadeiro presidente do povo brasileiro) traz de volta o desejo perdido nos últimos meses de desespero daqueles brasileiros que, como ele, sofrem diante do abismo.

O Zé transformou-se, do dia para a noite, no fato político mais revolucionário de 2019 até agora.

Bolsonaro Presidente, Lula preso, o Zé, reconheçamos, precisava acontecer em nossas vidas.

A alegria esfuziante dos twitters de internautas na conta do Zé é uma prova cabal disso.

Numa quimera que de repente virou realidade na imaginação de todo mundo, o Zé fez as esquerdas felizes de novo.

O Zé volta na segunda semana de março para o país.

Vai ter carnaval.

No sábado, dia 14, Zé já vai estar no Rio de Janeiro.

Convoquem-se todos para recebê-lo onde ele disser! A revolução será twittada!

Salve Zé! O verdadeiro, incontestável, amado e proclamado Presidente do Brasil!

Como disse um twitter replicado pelo Zé, “Agora o Brasil volta a sorrir!”

E viva o carnaval!

Rogerio Dultra: Professor do Departamento de Direito Público da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Justiça Administrativa (PPGJA-UFF), pesquisador Vinculado ao INCT/INEAC da UFF e Avaliador ad hoc da CAPES na Área do Direito.
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