Carlos Serrano entrevista deputado do Partido Comunista Português

DEPUTADO DO PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS FALA DA GERINGONÇA (aliança de esquerda que governa Portugal) E DO RETROCESSO DEMOCRÁTICO NO BRASIL

Por Carlos Serrano

No último dia da terceira sessão legislativa da XIII legislatura, 19 de julho de 2018, na sala do grupo parlamentar do Partido Comunista Português (PCP) na Assembléia da República, a equipe do Cafezinho em Lisboa foi recebida pelo deputado António Filipe, vice-presidente do grupo parlamentar do PCP, membro do Comitê Central, jurista e professor universitário.

Durante quarenta minutos, de forma muito simpática mas incisiva, respondeu às nossas questões em torno à situação política portuguesa, mas também sobre o Brasil. Apesar de problemas técnicos que adiaram a divulgação, as questões continuam mais do que atuais.

Entre os temas discutidos está a interessante experiência da Geringonça, o governo do Partido Socialista, com sustentação parlamentar do PCP, do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), e do Bloco de Esquerda (BE), que impediu o retorno ao governo da coligação de direita do Partido Social Democrata (PSD) e do Partido do Centro Democrático Social – Partido Popular (CDS-PP). António Filipe explica todo esse processo, desde a situação política durante o Governo da Troika, que sob o discurso de austeridade implementou suas políticas contra os trabalhadores, os setores pobres e os funcionários públicos. Conta os bastidores do surgimento da geringonça, de seu início com a proposição do secretário geral do PCP, o operário metalúrgico Jerónimo de Sousa, e a oposição do então presidente da República, o direitista Aníbal Cavaco Silva. Faz o balanço positivo da experiência, que demonstrou que a política das direitas não eram inevitáveis, mas apresenta os limites da solução, em particular pelas opções do Partido Socialista. Uma das questões fundamentais que responde é se há futuro para a geringonça frente às aproximações do PS e PSD em relação a questões fundamentais.

Entre os outros temas foram abordados o tema da descentralização, que como ocorreu no Brasil, está sendo feito em Portugal sem a devida transferência de recursos, colocando em risco o acesso das populações aos direitos sociais. Também da mesma forma que em nosso país, em Portugal houve forte transferência de recursos ao setor financeiro, aos grandes bancos, conta que pode ser paga pela população por muito tempo e sem nenhuma punição aos banqueiros que levaram à bancarrota essas instituições, arrastando empresas e poupanças de trabalhadores, se o rumo político não for mudado.

Ainda sobre a realidade portuguesa, discutimos o porquê da excepcionalidade do PCP no cenário português, uma rara exceção entre os partidos por nunca ser alvo de denúncias de corrupção e incoerência, quando tanto partidos de direita são envolvidos em escândalos, como também de esquerda. Um exemplo que estava naquele momento sendo muito debatido era o do Bloco de Esquerda, que sofreu com denúncias de deputados que teriam recebido subsídio por residirem fora de Lisboa, mas que possuem residência na capital, ou o muito comentado caso Robles, vereador da Câmara Municipal de Lisboa que denunciava a especulação imobiliária, mas que se descobriu teve lucros espetaculares com um imóvel.

Por fim, António Filipe faz sua análise sobre a situação brasileira, denunciando o golpe de Estado contra Dilma e sobre os retrocessos feito por Michel Temer, como a reforma trabalhista, e o papel da grande mídia e do Judiciário em tudo isso, inclusive com o processo que ele diz que “não tem pé, nem cabeça”, contra Lula, que aponta ser uma prisão política para impedi-lo de ser candidato. Ele denuncia de forma clara que no Brasil “não estamos perante o funcionamento de um Estado de direito”.

Por Carlos Serrano para o Cafezinho em Portugal.

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