É hora de sermos estratégicos.
Sempre é, na verdade, mas o início de um governo de extrema-direita e a forte guinada da população na direção do conservadorismo exigem que a prioridade natural que deve(ria) ser dada, pela esquerda, à estratégia seja ressaltada.
Por exemplo.
Esta semana foi votado, na Câmara dos Deputados, um projeto sobre sanções a pessoas ou entidades consideradas terroristas.
O PT e o PSOL votaram contra o projeto. O bloco composto por PDT, PCdoB e PSB optou por fazer uma negociação com o relator. Caso fossem retirados os movimentos sociais da lista dos que podem ser considerados terroristas, o bloco votaria a favor do projeto. A negociação foi bem-sucedida.
Não é emblemático?
Pode até parecer cool e revolucionário se recusar a negociar com políticos antipopulares, conservadores, de direita, enfim. Na dura realidade, porém, lugar em que a balança do poder não anda nada favorável para a esquerda, fazê-lo é, muitas vezes, rifar quem está na linha de frente das lutas de rua, na cidade ou no campo. Beira a irresponsabilidade.
A postura de não fazer aliança, negociação ou acordo com quem não está no mesmo espectro ideológico é uma bandeira do PSOL. O partido têm muitas qualidades, especialmente uma militância jovem e lutadora.
Esperar, todavia, que a conjuntura vire drasticamente e a população eleja um(a) psolista para algum cargo executivo de peso – acompanhado, por suposto, de uma generosa bancada para fazer a sustentação no parlamento sem precisar de alianças, enquanto o trator acelera para cima dos marginalizados de sempre, não me parece uma postura nem remotamente consequente. O mesmo vale para a atitude de não negociar com a direita no parlamento em nome de manter-se “puro” e, dessa forma, abrir mão de possibilidades de mitigação de danos como a conquistada na questão do projeto antiterrorismo.
O PT, por sua vez, atuava de forma diametralmente oposta quando era governo federal. Abdicou quase que completamente do diálogo com as bases para focar tão somente nas negociações parlamentares. Enquanto a economia ia bem, tudo certo. Bastou abater-se a crise sobre o país para o governo, sem sustentação popular, ser abatido.
Agora que está praticamente isolado no jogo do poder, o PT de certa forma volta às suas origens e alinha-se ao PSOL na tática “jogar para perder mas ficar bem na fita diante da militância”.
O que fazer, então?
Articular a atuação institucional com o diálogo com as bases, oras. É claro que é mais complexo do que parece em uma simples frase com meia dúzia de palavras, mas se este não for o norte, estamos muito mal arranjados.
Não é possível vender a ilusão de que basta fincar o pé nas nossas posições que tudo, magicamente, uma hora vai dar certo. É cruel demais com quem sente na pele a violência de um governo truculento e antipovo. A gente sofrida das periferias e dos rincões do Brasil não pode e não tem condições de esperar que a conjuntura vire a nosso favor.
Política é a arte do diálogo. De conquistar mentes e corações. Perdemos a eleição para um desqualificado. A sociedade foi para a direita.
Se esta não for a hora de baixarmos a bola e negociarmos o que for negociável no campo institucional – sempre às claras e sem abrir mão das lutas por fora dos governos e parlamentos, não sei quando será.
Precisamos amadurecer.
Chega de empurrar para o outro lado todo mundo que não se encaixa no que eu entendo por esquerda.
Achei ruim o Ciro Gomes repetir a frase do seu irmão Cid sobre o Lula. Daí a usar isso para vaticinar que Ciro, um quadraço que defende com unhas e dentes pautas caríssimas à esquerda e ao desenvolvimento nacional, é “oportunista”, “de direita”, “traidor”, e etc. vai uma distância abissal. Isto é simplesmente estúpido. Isolacionista. E é claro que muitas das análises furibundas do episódio (mal) escondem o medo de que qualquer outra liderança desbanque algumas hegemonias desmoronantes por aí.
Menos show para os holofotes. Mais estratégia.
Menos picuinha infantil. Mais discussão de projetos.
Eis o caminho.
A propósito: em que pese qualquer errônea relação que se possa fazer entre a imagem que abre o post e o título deste, que sigamos, para desespero do Pondé, festivos.