É uma injustiça depositar nas frases a responsabilidade de gritar ao mundo que vivemos um genocídio em nossos tempos. A matemática macabra de deixar passar pela divisa menos que um ser humano necessita não poderia resultar em outra coisa que na morte programada por uma política de governo de Israel. Nesta realidade o bombardeio se torna o próximo capítulo.
Esta ordem de ideias nos leva ao documentário ‘Gaza’, assinado pelo maiorquino Carles Bover e o espanhol Julio Perez del Campo, falam diretamente com o coração e nos sequestram os olhos. Foram vitoriosos na premiação de Goya como melhor documentário de curta metragem. A premiação é outorgada anualmente pela ‘Academia das Artes e Ciências Cinematográficas da Espanha’ com o objetivo de condecorar os melhores profissionais em cada uma das diversas especialidades do setor. Os vencedores recebem o busto do pintor Francisco Goya(1746-1828) feito em bronze pelo escultor José Luis Fernández.
Mesmo que as palavras procurem o papel para descrever a verdade de Gaza, faltaria muito alcançar o que imagens denunciam.
“Papai os israelenses estão gritando, vai começar disparos contra nós(…) Quando vem os disparos alguém pode perguntar para onde devo ir, aqui é minha casa, minha terra, não tenho dinheiro no banco, não tenho nada, pra onde iria?”
Estes momentos nos prendem ao assistir o documentário, mas tem um olhar no final que fala profundamente. É de uma criança retirada dos escombros já recebendo atendimento no hospital, ela está viva mas não parece estar aqui. Ela olha, mas é nós que temos vergonha de enxergar. Paralisada com olhos arregalados é como se perguntasse como o mundo deixa isto acontecer. O que passa na Faixa de Gaza é reflexo da política de um governo de estrema direita de Israel. Roubam-lhes as terras, as casas, mas principalmente o direito de existir.
Em entrevista ao Diario de Mallorca, que publicou originalmente o documentário, Bover declarou :
“Dar o Goya para ‘Gaza’ é uma ação que faz as pessoas abrirem os olhos. Os acadêmicos premiaram uma obra que retrata a violação dos direitos humanos sofrida diariamente pela população palestina na Faixa de Gaza. A conquista do Goya tem sido uma maneira de reivindicar e dar voz a essas histórias que tentam silenciar”
Dias antes de receber o prêmio, no dia 2 de fevereiro em Sevilha, ‘Gaza’ sofreu a censura do Arcebispado de Madri, que o proibiu sua exibição no centro pastoral de San Carlos Borromeo. No entanto, Carles Bover explicou(DdeM) que não é a primeira vez que a exibição do filme é cancelada, pontuou que em algumas salas onde planejavam exibir receberam ligações da embaixada israelense pedindo que não exibissem este tipo de documentário.
O relato que Bover, nos reporta à um campo de não normalizar as atrocidades praticadas contra a humanidade, seja contra os judeus, seja contra os palestinos o sentido de campo de concentração é semelhante. É fato que grupos da sociedade preferem não assistir verdades tão gritantes. Mas para os que não podem fazer muito, assistir é o mínimo de solidariedade ao povo palestino, na esperança de parar este genocídio. Em vez de mais tristes, devemos descobrir como o sentido de humanidade está vivo em nós, e que eles nos domine para ajudar estancar os sofrimentos dos outros.
Texto originalmente publicado em www.geonoticias.com.br
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Assista “Gaza” de Bover e Perez publicado originalmente pelo Diário de Mallorca: