VENEZUELA: OS FANTASMAS DA CASA BRANCA
Ricardo Cappelli
Morreram na guerra do Vietnã cerca de 58.000 soldados norte americanos e 3 milhões de vietnamitas, sendo 1 milhão de militares em combate e 2 milhões de civis. Quem ganhou a guerra?
Entrar numa guerra é fácil, o difícil é sair dela. Os ingredientes mais comuns são conhecidos.
Um presidente imperialista fragilizado em seu país. Uma indústria militar ávida por lucros, a sede por petróleo e a surrada desculpa da defesa dos valores democráticos. Além, obviamente, da “ameaça vermelha”, que voltou à moda com tudo.
Os EUA entraram no Vietnã arrastados pelos franceses. Saíram quase 20 anos depois derrotados e humilhados. Foi a maior aventura militar de sua história. Uma cicatriz que rachou os Estados Unidos ao meio e deixou traumas que os atormentam até hoje.
O que conta na guerra não é apenas a superioridade militar. A disposição, a motivação, a convicção dos soldados para o embate são fatores decisivos. Até onde você topa ir para vencer? Qual a motivação para colocar sua pele em risco invadindo um país sulamericano pobre que não representa qualquer ameaça à sua família na California ou em Nova York?
Num dos encontros secretos de negociação da paz em Paris entre Henry Kissinger e o representante do então Vietnã do Norte, o secretário de estado dos EUA argumentou que seu país estava vencendo todas as batalhas. A resposta do comunista foi um determinado “e daí?”.
O médico norte americano Hal Kushner ficou seis anos em poder dos vietcongues como prisioneiro de guerra. Numa oportunidade, tentou persuadir seu carcereiro argumentando que os EUA estavam ganhando todos os embates. “Para nos derrotar terão que matar todos, um a um”, respondeu o guerrilheiro.
A Venezuela tem identidade, povo, território, língua. Tem história e tradição. Não é uma junção artificial de etnias e/ou religiões realizada por imperialistas embriagados pela vitória no pós-guerra dividindo o “butim do mundo” entre si. Muitos países da África e do Oriente Médio pagam até hoje o preço de nacionalidades estéreis. Não é o caso do país de Hugo Chávez.
Uma coisa é uma briga entre irmãos. Pode ser sangrenta, deixar mortos e feridos. Outra, bem diferente, é uma invasão à sua casa. Os apoiados vão comemorar. A maioria do povo vai ficar olhando desconfiada, tentando entender o que uma potência imperialista faz no seu quintal.
Qualquer pingüim da Patagônia consegue compreender que não existe nenhuma preocupação humanitária ou compromisso democrático no coração de Donald Trump.
A sociedade norte americana está disposta a receber seus filhos em sacos pretos para saciar a ganância de sua indústria petrolífera e salvar a pele do presidente ameaçado por um impeachment?
A China triplicou seu orçamento militar. A Rússia investiu dez anos de petróleo valorizado e fez de seu complexo militar o mais avançado do planeta. Dois gigantes que parecem estar ao lado do presidente venezuelano. A defesa do território e da soberania transformará Maduro na reencarnação de Bolívar.
A maior vitória da história do Tio Sam não se deu pelas armas. Foi pela economia que viu a União Soviética desmoronar. O desembarque de Marines na América do Sul será sinal de fraqueza. Desespero de uma potência que vê sua liderança global cada vez mais ameaçada.
Em tempos de irracionalidade, todas as opções parecem estar sobre a mesa. Se olhar pelas janelas de seu gabinete, Trump verá Ho Chi Minh e Le Duan comemorando nos seus lindos jardins, todo dia 30 de abril, uma das vitórias mais épicas da história da humanidade.
Se conversar com os fantasmas de Lindon Johnson e Nixon na Casa Branca, não cometerá esta estupidez militar e política, entrando numa batalha de desfecho imprevisível perto de sua casa.