Sergio Moro e Paulo Guedes mostraram, com suas ações e falas da findante semana, quem são os alvos do governo Bolsonaro.
Para fazermos justiça, o primeiro alvo do novo governo foi estabelecido logo no primeiro dia do ano. Os povos indígenas foram marcados para desaparecer com a transferência da competência para demarcação de terras da Funai para o Ministério da Agricultura.
Agora, Guedes e Moro escancaram os demais alvos: trabalhadores, pobres e negros. Ou seja, os desde sempre excluídos.
Guedes não deixa espaço para nuances. Menos direitos para os ingressantes no mercado de trabalho. Nada de sindicatos ou Justiça do Trabalho.
Para combater a crise econômica, menos direitos para os trabalhadores. Espoliar ainda mais os desde sempre espoliados. Sobre o rentismo ou a sonegação de impostos da elite econômica, o governo, obviamente, pratica um silêncio ensurdecedor.
O projeto apresentado por Moro, por sua vez, pode até passar por benfazejo para os incautos. Mas só para estes.
Acrescentar à lei excludentes de ilicitude totalmente subjetivos como “medo”, quando temos uma polícia altamente truculenta e autoritária, especialmente no seu contato com os marginalizados – os pobres e negros referidos acima -, é sádico. E absolutamente fora dos marcos do Estado de Direito, assim como diversos outros pontos do projeto, muito bem analisados pelo Rogério Dultra neste artigo. Como diz o Rogério, chamar a proposta de fascista é truísmo.
Uma mentalidade medieval, desumana e estúpida pretende dar proteção legal a incabíveis fetiches autoritários.
A nova condenação de Lula é a cereja podre do indigesto bolo servido ao país nesta semana macabra. E tem, evidentemente, tudo a ver com o governo Bolsonaro. É o seu ministro da Justiça, afinal, o símbolo do que deverá ser lembrado, no futuro, como o período da caça às bruxas do Judiciário brasileiro.
A juíza Gabriela Hardt, fiel discípula de Moro, produziu mais uma sentença que não aponta o crime cometido pelo ex-presidente. As reformas no sítio são claramente um desvio ético. Utilizá-las, contudo, para fazer uma ligação esdrúxula com crimes cometidos na Petrobras é uma linha jurídica deploravelmente mesquinha e desavergonhadamente parcial.
Lula é a representação máxima de outros alvos que a furiosa máquina repressiva da direita têm em mente ao levar à cabo o seu projeto de poder: políticos e partidos de esquerda. Lula, um ex-presidente que acertou e errou na presidência mas que é amado por milhões de brasileiros, foi reduzido a um troféu humano. É uma vergonha nacional que esteja trancafiado em uma cela.
O desejo sórdido desse pessoal foi explanado por Bolsonaro na reta final da campanha: que Lula apodreça na cadeia.
Eu apostaria que isso não vai acontecer. Um governo tão profundamente antipopular deve fazer com que a conjuntura vire mais rápido do que podemos vislumbrar daqui, do olho do furacão em que estamos metidos.
De resto, se as correntes espirituais que acreditam no karma estiverem corretas, tenhamos piedade de figuras como Moro, Guedes e Bolsonaro. A quantidade de sofrimento humano que provirá dos seus atos e, segundo a lei do karma, retornará a eles, não é pouca, não.