Castañon e os significados do autoexílio de Jean Wyllys

Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil

O Cafezinho se solidariza com o deputado Jean Wyllys, do PSOL, vítima de contínuas ameaças e calúnias, numa escala tal que ele não mais suportou e decidiu renunciar a um mandato popular e sair do país. Depois da execução de Marielle Franco, ficou claro que essas ameaças representam risco real de vida. Ainda mais depois da posse de Bolsonaro, cercado de milicianos por todos os lados.

Abaixo, algumas reflexões do professor Gustavo Castañon sobre o caso.

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COMPLEXO

Por Gustavo Castañon, em seu Facebook

A renúncia de Jean Wyllys não me parece algo a ser condenado ou enaltecido.

Me parece nada mais que uma decisão humana, nada heróica nem demérita.

Um parlamentar não é obrigado a ser mártir. Ele tem o direito de não querer exercer um mandato em ambiente de falta de garantias democráticas. Tampouco considero que ele tenha traído seus eleitores: quando ele se candidatou a eleição de Bolsonaro ainda parecia um pesadelo improvável.

No entanto a narrativa de que já estamos numa ditadura parece quase tão fantasiosa quanto a narrativa da “ditadura bolivariana do PT”, que esse pessoal que está agora no poder fazia livremente sem qualquer tipo de restrição.

Bolsonaro não ganhou só a eleição, ganhou a narrativa política no imaginário popular do sul, sudeste e centro-oeste.

Por enquanto.

Quando então digo “quase tão fantasiosa” o faço por três motivos.

Primeiro porque Lula foi condenado e preso num processo completamente absurdo, quando eles bem poderiam ter esperado por uma das acusações menos frágeis que pesam sobre ele. O fato de não o terem feito, indica claramente um recado de que o estado de direito acabou.

Segundo porque o atual presidente e vários de seus auxiliares já deram declarações pregando o fim do regime democrático, e com a crise que eles vão inevitavelmente causar no país, a saída ditatorial não pode ser descartada.

Terceiro porque os EUA decidiram exterminar os nacionalistas em toda a América Latina, e um endurecimento da ditadura judicial e da estratégia de “combate à corrupção” contra a classe política desses países continua de vento em popa.

Enfim, Jean Willis não é um exilado político. Ameaças de morte contra quem não se submete à quadrilhas fazem parte da vida política. Eu mesmo nunca exerci cargo executivo ou legislativo eleito algum e já fui ameaçado seriamente duas vezes. No entanto ele tem sim motivos para se sentir em perigo e o peso político de seu auto-exílio não pode ser subestimado.

A comemoração de Bolsonaro acerca do fato só demonstra mais uma vez que ele não tem qualquer ideia de onde está e do que deveria ser. Muito menos da complexidade e da gravidade de sua situação perante o mundo.

E só vai piorar.

Redação:
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