A violência como método

Imagem divulgada nas redes sociais de Jean Wyllys

O anúncio de Jean Wyllys de que não permanecerá no Brasil, abrindo mão do seu mandato de deputado federal, é um marco.

Não me parece exagero considerá-lo um exilado político.

Não cabe, evidentemente, qualquer espécie de crítica à sua atitude. Jean é alvo, há anos, de uma sórdida campanha de difamação, a qual resultou em um sem número de ameaças de morte recebidas pelo deputado.

De esquerda, ativista da causa LGBT e de origem pobre, Jean atrai o ódio da parcela mais reacionária, ressentida e fanatizada da população. Na entrevista à Folha em que revelou que não voltará ao Brasil, Jean conta que após a morte de Marielle Franco – também de esquerda, ativista da causa LGBT e de origem pobre – passou a andar escoltado, pois percebeu que sua vida corria risco.

O clã Bolsonaro tem um histórico de apoio explícito a milícias, que nada mais são do que organizações criminosas. Nos últimos dias tivemos a chocante revelação de que parentes próximos de um miliciano foragido – suspeito de matar Marielle – foram nomeados para cargos públicos por Flávio Bolsonaro.

Jair, o presidente da República que se borra de medo de dar entrevista, debochou no Twitter, lugar em que ganha coragem. “Grande dia!”, escreveu, complementando com um tosco sinal de positivo com a mão. Bolsonaro pai é um antagonista histórico de Jean.

Seu outro filho, Carlos, escreveu “Vá com Deus e seja feliz!”, também complementando com o patético dedinho de positivo. Alexandre Frota, condenado a indenizar Jean por divulgar uma monstruosa mentira ligando-o ao incentivo à pedofilia, será deputado federal no próximo período, acompanhado de uma enorme bancada de trogloditas do PSL.

Os que usam métodos abjetos e violentos de disputa política chegaram ao poder. Se já provocavam estragos e tormentos gigantescos na vida de Jean e de muitos outros antes, podemos imaginar como será agora.

Como condenar Jean?

Só podemos prestar-lhe toda a nossa solidariedade, independente de qualquer divergência política que tenhamos.

Que saibamos usar como combustível para a luta a nossa justa indignação com quem usa a violência como método.

David Miranda, que assumirá a vaga de Jean na Câmara, já mandou o recado:

Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília.

Após o assassinato de Marielle, uma amiga da vereadora e três ex-assessoras foram eleitas  nas últimas eleições – a amiga para a Câmara Federal, as demais para Assembleia do Rio.

A política de extermínio, violência e intimidação só faz aumentar o furor revolucionário do lado do campo popular. A frase atribuída a Che Guevara é certeira: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera”.

Bolsonaro é um admirador do torturador Brilhante Ustra. Um entusiasta da ditadura militar. Seu autoritarismo escorre pelo canto da boca, como uma gosma putrefata, em cada frase ofensiva que profere.

Seria esperar demais de criatura tão limitada uma reação ao triste anúncio de Jean minimamente condizente com o cargo que ocupa.

A pequenez moral, a desqualificação e a violência, tanto a simbólica quanto a real, que permeiam os atos advindos do clã Bolsonaro e sua turma não serão esquecidas.

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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