Datafolha: o brasileiro não é tão conservador quanto parece

Hayek (à esquerda), o conservador liberal e Keynes, inspirador do trabalhismo brasileiro

Recortei algumas tabelas, e fiz anotações gráficas dentro delas, para chamar a atenção para alguns pontos. Adianto aqui uma conclusão: os números do Datafolha, feito com base em pesquisas realizadas nos dias 18 e 19 de dezembro de 2018, revelam que o brasileiro não é tão conservador quanto parece. A maioria é a favor do ensino de temas políticos e educação sexual nas escolas, aí incluindo eleitores declarados de Bolsonaro. A maioria também é contra privatização e discorda de que é preciso “facilitar o acesso às armas”.

 

 

Repare que, mesmo entre eleitores de Bolsonaro, que são mais conservadores que os de Haddad, há maioria absoluta (71%) que concorda que “assuntos políticos devem ser tema de aula nas escolas”.

Mesmo entre eleitores de Bolsonaro, mais liberais que os os eleitores de Haddad, uma maioria de 54% discorda que o “governo deve privatizar”. No total dos entrevistados, 60% disseram que são contra privatizações.

 

Os eleitores de maior renda, onde Bolsonaro obteve vitória mais expressiva, são menos conservadores que os de menor renda, quando o assunto é o ensino de temas políticos nas escolas. Entre eleitores com renda familiar de 5 a 10 salários, 80% concorda que “assuntos políticos devem ser tema de aula nas escolas”.

 

No tocante à privatização, os brasileiros com maior renda são mais liberais que os mais pobres, e mesmo assim ainda continuam, em sua maioria, contra a privatização, ao menos até o segmento que ganha 10 salários. Entre brasileiros que ganham de 5 a 10 salários, por exemplo, 53% são contra a privatização. No total, uma ampla maioria de 60% são contra privatização.

 

As famílias de maior renda são mais liberais em relação a educação sexual nas escolas. Entre aquelas que ganham de 5 a 10 salários, 65% concordam que a “educação sexual deve ser tema de aula nas escolas”. Entre as que ganham até 2 salários, 52% concordam (ainda sim, uma maioria), contra 47% que discordam.

 

Os cidadãos com maior instrução formal (ensino médio e superior) são mais liberais em relação ao ensino de assuntos políticos nas escolas. Entre quem tem ensino médio, 72% concordam que “assuntos políticos devem ser tema de aula nas escolas”; entre quem possui ensino superior, este percentual salta para 83%. Entretanto, também entre os menos instruídos, uma maioria firme de 62% concorda que é preciso tratar de assuntos políticos nas escolas.

Em relação ao tema de aborto, observe que as pessoas menos instruídas são expressivamente mais conservadoras. Entre quem possui ensino superior, 60% discorda da afirmativa de que “mulheres estupradas não devem abortar”. Entre quem tem até o ensino fundamental, esse percentual é de apenas 28%.

 

No site do Datafolha

Pauta de prioridades de Bolsonaro gera interesse em poucos brasileiros
OPINIÃO PÚBLICA – 15/01/2019 11H53

Baixa a pesquisa completa
DE SÃO PAULO

A agenda de propostas prioritárias do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para seu governo – e para o país – está longe de coincidir com o que pensa o brasileiro sobre temas como flexibilização da posse de armas, privatizações, licenciamento ambiental e escola sem partido, entre outros. No conjunto, a pauta do governo de Jair Bolsonaro está descolada da opinião pública, mostra análise análise de Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretores do Instituto Datafolha, a partir do resultado de uma série de questões apresentada aos brasileiros em pesquisa realizada em dezembro. Todos os dados que envolvem o estudo e as conclusões dessa análise estão em artigo publicado pela Folha.

Na base desssa análise estão 12 frases sobre temas polêmicos apresentados aos brasileiros, que foram estimulados a concordar ou discordar de cada uma delas. O resultado mostra que em duas frases os entrevistados ficaram divididos e nas restantes uma parcela foi majoritária. As duas frases a dividir as opiniões envolveram os direitos da mulher.

Uma parcela de 46% declarou concordar com a frase ‘Mulheres estupradas que engravidem não deveriam abortar e sim receber ajuda financeira para ter o filho’, desses, 34% totalmente e 12% em parte, 1% não concorda e nem discorda, 51% discordam (10% em parte e 40% totalmente) e 2% não opinaram. A taxa de concordância é mais alta entre os mais pobres (55%), entre os evangélicos pentecostais (55%), entre os mais velhos (56%), entre os menos instruídos (58%) e entre os moradores de municípios com até 50 mil habitantes (58%). Por outro lado, a taxa de discordância é mais alta entre os mais instruídos e entre os mais ricos (71%, em cada segmento).

Quanto à frase ‘Mulheres ganharem menos do que os homens é um problema das empresas e não do governo’, os índices são próximos: 47% concordam com ela (34% totalmente e 13% em parte), 1% não concorda e nem discorda e 50% discordam (12% em parte e 38% totalmente).

Em ambas as frases não foram observadas diferenças significativas nas taxas de concordância ou discordância pela variável de sexo.

O tema da escola sem partido foi abordado em duas frases: ‘Assuntos políticos devem ser tema de aula nas escolas’ e ‘Educação sexual deve ser tema de aula nas escolas’. Na primeira frase, 71% declararam concordar com ela (54% totalmente e 17% em parte) e 28% discordam (8% em parte e 20% totalmente), e na segunda, 54% concordam (35% totalmente e 19% em parte) e 44% discordam (10% em parte e 35% totalmente).

Outras frases em que a taxa de concordância foi maior que a de discordância foram: ‘O Brasil deve controlar mais a entrada de imigrantes’, 67% concordam (42% totalmente e 24% em parte), 1% não concorda e nem discorda e 30% discordam (12% em parte e 18% totalmente); e, ‘Se o Brasil se envolvesse em uma guerra, hoje, eu estaria disposto a lutar pelo país’, 62% concordam (46% totalmente e 16% em parte) e 37% discordam (9% em parte e 28% totalmente).

Já as frases com índices de discordância majoritários foram: ‘É preciso facilitar o acesso de pessoas às armas’, com 68% (17% em parte e 51% totalmente) e 30% concordam (16% totalmente e 14% em parte); ‘O Brasil deve dar preferência ao governo dos EUA em relação aos outros países’, com 66% (19% em parte e 47% totalmente) e 29% concordam (15% totalmente e 14% em parte); ‘O governo deve reduzir as áreas destinadas as reservas, com 60% (13% em parte e 46% totalmente) e 37% concordam (22% totalmente e 15% em parte); ‘O governo deve privatizar, ou seja, vender para empresas particulares, o maior número possível de empresas estatais’, com 60% (17% em parte e 44% totalmente) e 34% concordam (19% totalmente e 15% em parte); ‘A política ambiental atrapalha o desenvolvimento do Brasil’, com 59% (19% em parte e 40% totalmente) e 35% concordam (18% totalmente e 17% em parte); e, ‘É preciso ter menos leis trabalhistas’, com 57% (14% em parte e 43% totalmente) e 40% concordam (22% totalmente e 17% em parte).

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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