É o primeiro desafio e a primeira crise do bloco.
PSB sinalizou oposição à candidatura Maia.
PDT, vindo na contramão, sinalizou apoio à reeleição de Maia. O descontentamento barulhento da militância trabalhista, todavia, empoderada ao longo dos embates dos últimos meses, põe em dúvida se o partido levará adiante o que, por enquanto, é apenas um indicativo e não uma decisão fechada.
O PCdoB faz mistério. Todo mundo sabe que existe um elo de empatia entre a direção do partido e Rodrigo Maia (o PCdoB apoiou a primeira eleição de Maia). Mas ainda não se posicionou para esta eleição.
Todos os partidos de centro-esquerda (PDT, PSB, PCdoB e PT) tinham sinalizado inicialmente apoio a Rodrigo Maia, por considerá-lo uma força independente em relação a Bolsonaro.
Entretanto, quando o PSL, partido de Bolsonaro, sinalizou apoio a Maia, os cálculos mudaram.
Apesar dos sinais trocados, os três partidos também deixaram claro que só irão bater o martelo após um acordo. Se não houver acordo nenhum, o bloco sairá machucado.
O PSOL corre por fora, com a candidatura quixotesca de Marcelo Freixo.
Quem fez a jogada mais inteligente, ao que parece, foi o PSL. Todo mundo pensava que o partido fosse lançar um nome próprio. Mas não. O PSL jogou estrategicamente, impedindo a oposição de se reunir em torno de um nome forte, com condições efetivas de ganhar.
O objetivo dos partidos é garantir vaga nas comissões, ferramentas poderosas na política de gabinetes da Câmara.
Mas há uma outra guerra mais importante em curso, que é a briga por espaço na opinião pública, que por sua vez reforça a importância de uma relação de respeito e intensa comunicação entre os partidos e suas militâncias.
Com o indicativo do PDT, Maia tem sua eleição garantida no primeiro turno, com 283 votos. Ele precisa de 257 votos.
Se PSB e PCdoB o apoiarem, seriam 327 votos.
Em nossa opinião, o indicativo do PDT é um erro, inclusive de timing político. Nenhuma decisão do PDT poderia ser tomada em contrariedade ao bloco.
O principal objetivo do PDT deveria ser consolidar o bloco, porque, com 28 deputados, o partido significa pouca coisa no processo decisório da Câmara. Mesmo o bloco não é lá grande coisa, mas ele seria um núcleo inicial para agregar mais apoios ao centro.
Um apoio a Maia pelo PDT apenas se justificaria se fosse uma decisão do bloco, e que cobrasse compromissos escritos do presidente da câmara em torno de alguns temas básicos relacionados a independência do legislativo, direitos humanos e democracia.
O ideal seria que o bloco lançasse um nome pelo PSB. Não pode ser pelo PDT, porque os petistas diriam que seria um fantoche de Ciro, e é preciso, neste ponto, desintoxicar e pacificar um pouco a relação entre PT e PDT.
Não pode ser do PCdoB, que saiu muito enfraquecido na eleição, tendo que incorporar o PPL para superar a cláusula de barreira. Tem que ser do PSB e tinha que ser um nome com peso na opinião pública. O nome até agora indicado, o deputado JHC, é do baixo clero.
O ideal seria Alessandro Molon, do PSB, que circula bem por toda a esquerda, centro e centro-direita.
A Câmara tem 513 deputados. Nenhum partido faz verão sozinho. As lideranças terão que aprender a costurar acordos e alianças.
Abaixo a nota do PSB, divulgada quinta-feira passada.
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No site do PSB
PSB indica formar bloco de oposição à candidatura de Rodrigo Maia para a Câmara
11/01/2019
Carlos Siqueira: “Não queremos que a Câmara seja apenas um carimbador de projetos do Poder Executivo”. Foto: Humberto Pradera
Os deputados federais do PSB reunidos na sede nacional do partido nesta quinta-feira (10) decidiram, por ampla maioria, indicar a formação de um bloco de oposição à candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara.
O encontro, presidido pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e pelo líder da bancada socialista, Tadeu Alencar (PE), teve caráter consultivo e reuniu 22 dos 32 deputados da atual legislatura.
Segundo Siqueira, a adesão do PSL à candidatura de Maia foi determinante para a decisão. Para o presidente do PSB, é necessário que haja “equilíbrio” entre governo e oposição no funcionamento da Câmara.
“Não queremos que a Câmara seja apenas um carimbador de projetos do Poder Executivo e que a oposição fique a ver navios cada vez que os assuntos essenciais para o país estiverem em jogo”, afirmou.
O partido irá conversar com líderes e presidentes do PDT e do PCdoB – que formam com o PSB um bloco de centro-esquerda na Casa – para discutir a preferência dos socialistas pela formação de um bloco mais amplo que fará oposição a Maia.
“É importante que a oposição ocupe espaços significativos para criar um certo equilíbrio, para que possamos combater eventuais retrocessos nas conquistas sociais históricas do nosso país”, defendeu Siqueira.
A ideia é que o blocão a ser formado tenha várias candidaturas, algumas delas já lançadas, como a do deputado federal JHC (PSB-AL), para disputar a presidência, os demais cargos da mesa diretora e as comissões temáticas.
“Estamos convencidos de que vamos chegar a um ponto comum a partir da reunião que teremos com esses partidos de esquerda. Nós valorizamos muito esse bloco, queremos atuar juntos nessa e em outras questões mais essenciais que a conjuntura já nos mostra que apresentará”, declarou o presidente do PSB.
O líder da bancada socialista, Tadeu Alencar ressaltou que o PSL levou à candidatura de Rodrigo Maia uma “identidade muito grande” com o governo de Jair Bolsonaro.
“Isso era algo que, desde o início, o nosso bloco e o PSB dissemos que era importante não ter para garantirmos a independência do poder e o nosso papel de oposição”, afirmou.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional