Por Theófilo Rodrigues
Tudo indica que a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, no início de fevereiro, será o primeiro grande teste da oposição ao governo Bolsonaro. Os passos dados nesse processo indicarão como os partidos oposicionistas se portarão nos próximos anos.
Assumindo como pressuposto que a reeleição de Rodrigo Maia seja inevitável, a oposição parece dispor de três táticas distintas para operar no processo: (1) fragmentar o campo oposicionista e lançar candidaturas próprias que demarquem os programas de cada partido; (2) unificar o campo oposicionista em uma única candidatura que agregue a centro-esquerda e a centro-direita; (3) e apoiar Rodrigo Maia para apostar na divisão interna da base governista e, assim, impedir que a presidência da Câmara esteja automaticamente alinhada com a agenda presidencial.
A primeira tática parece ser positiva para a autoconstrução de legendas que pretendam se diferenciar das demais. Contudo, torna-se um obstáculo para a construção de uma oposição forte e unificada ao governo no imaginário popular. O PSOL parece ter apostado nesse caminho ao lançar de forma unilateral a candidatura de Marcelo Freixo.
A segunda tática, a mais difícil de todas, pressupõe que os partidos estejam dispostos a abrir mão de seus protagonismos individuais, em troca de um projeto de médio prazo. O Bloco de Esquerda. (PCdoB, PSB e PDT) parece ser o mais interessado em uma tática desse tipo.
A terceira tática é a mais simples de ser operada, mas também é a que pode gerar maior descrédito dos partidos de oposição junto aos seus respectivos eleitores. Ainda que gere algum resultado no curto prazo, esse tipo de ação alimenta na opinião pública a ideia de um sistema partidário cartelizado, como bem descrevem Peter Mair e Richard Katz. O PPS já anunciou que apoiará Maia, e o PT já discute internamente seguir por essa via.
Até o fim do mês muita coisa ainda acontecerá. Como se vê, o mais provável é que não haja convergência e que as três táticas sejam adotadas pelos diversos partidos da oposição. No meio da confusão está o eleitor sem entender direito os sinais que seus representantes enviam de Brasília.
Theófilo Rodrigues é cientista político.