Saia discretamente, Michel

Denise Assis

“Dodge pediu na denúncia que os acusados sejam punidos com a perda da função pública” … (O Globo – 20/12). Ora, ora, ora. Chega a beirar a uma peça de humor, tal exigência. Todos nós sabemos que este senhor, o Michel, está de malas prontas para deixar a tal “função pública” de que nos fala a procuradora, Raquel Dodge, no dia 1º de janeiro. Que função este senhor tem a perder, minha cara procuradora?

Deus e o mundo sabem que, embora Michel ande por aí se jactando de ter se livrado de outras duas denúncias, o que não comenta é que gastou bilhões do nosso rico dinheirinho para livrar-se delas e poder cumprir o mandato tampão que buscou para si, após derrubar da presidência a eleita pelo voto democrático, Dilma Rousseff. E derrubou por mera volúpia de poder, pois foi ele mesmo quem a classificou em recente entrevista à Folha, de “uma senhora correta e honesta”. Mas esta é outra história.

Importa aqui é que diante desta terceira denúncia, quando não terá os cofres públicos para garantir-lhe a impunidade, Michel lançou-se em uma busca frenética a um foro privilegiado pelo amor de Deus! E com este intuito foi buscar solução num caso que já dormitava no imaginário nacional: o de Cesare Battisti. Michel viu na arenga o “porto seguro” –  não é trocadilho – para o seu destino incerto e ignorado. Entrega Battisti ao governo italiano, angaria simpatia e segue para lá como embaixador do novo governo, ávido por estas questiúnculas que identificam como simpáticas à esquerda.

Então, Michel, é este o seu pedido para Papai Noel (desculpe a rima pobre e involuntária). Pois muito bem. Você se safa e nós ficamos aqui, com um item a mais no nosso já repleto repertório de insatisfações. Não o veremos respondendo por seus malfeitos. Isto me lembra até a cena final daquela novela em reprise recente: “Vale Tudo”, em que Reginaldo Farias dá uma banana para o país, a bordo de um jatinho lotado de malas de dinheiro do povo.

Ok. Você venceu. Uma, duas, vezes. Porém, vendo a foto aí do alto, me ocorreu fazer-lhe uma proposta. Sempre pouco à vontade no cargo que você usurpou e no qual não decolou – ficou ali num vou de galinha entre os 3 e 6 % de (des)aprovação) – nunca ousou envergar a faixa presidencial, que a bem da verdade não lhe pertencia, mesmo. Em sendo assim, para poupar-nos do ridículo espetáculo de vê-lo posar em público, pela primeira vez, e vê-lo passar aquilo que não o pertence – a faixa presidencial -, tive uma ideia.

A minha proposta é que você dê uma de João Baptista Figueiredo. Desafeto de José Sarney, enxotado do Planalto por uma população cheia da tutela dos militares, que no final não seguraram nem a economia, – a inflação, em fevereiro de 1985 chegou a 225,9% ao ano – o general/presidente decidiu que não transmitiria a faixa ao sucessor.

Deixou o palácio pela porta dos fundos, sequer dando as caras na cerimônia. Olha que alívio, Michel. Poupou a todos da sua carranca e do seu asco “ao cheiro do povo”. Ele pelo menos confessou.

Levando-se em conta que você nunca foi reconhecido como o nosso representante, considerando que você “governou” apenas para esta parcela aí de 3%, e que quanto menos tempo em solo brasileiro como cidadão comum, menos arriscado para você, até que a minha proposta não é de todo mal. Fala a verdade?… Sugiro que pense a respeito. E, a propósito, antes que sinta falta, como já confessou: “Fora Temer”.

 

 

 

 

 

Denise Assis: Denise Assis é jornalista e autora dos livros: "Propaganda e cinema a Serviço do Golpe" e "Imaculada". É colunista do blog O Cafezinho desde 2015.
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