Milton Temer e o papel dos militares no governo Bolsonaro

Na entrevista, há trechos interessantes sobre a relação das Forças Armadas e o governo Bolsonaro.

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No programa Faixa Livre

Milton Temer: “Esquerda deve se concentrar em Paulo Guedes”

As inúmeras contradições estabelecidas no futuro governo de Jair Bolsonaro apontam para a necessidade de uma estratégia de resistência coordenada da militância progressista para imposição de pautas que atendam aos anseios das classes menos favorecidas da sociedade.

O diagnóstico é do jornalista Milton Temer, que divide a gestão que toma posse em janeiro em três setores bem definidos, baseados em figuras-chave no processo eleitoral.

“O Governo está fundado em dois eixos civis e um militar: os dois eixos civis são Sérgio Moro e Paulo Guedes. Moro vai desempenhar o papel da performance na área do senso comum imbecilizado, com a questão da segurança, o combate à corrupção, contra um regime que na sua essência tem na corrupção uma das principais armas do seu próprio desdobramento que é o regime capitalista”, destacou.

“É na luta contra a área de Paulo Guedes que a esquerda deve se concentrar. Não se deve disputar a cabeça dos pentecostais, esses são pessoas da fé, ficarão com o governo até que cometa muitos erros, mas a outra parte dos eleitores, que não votou no Bolsonaro, não vai aceitar qualquer coisa que venha dessa área”, continuou Milton Temer.

No segundo turno da eleição presidencial, o ex-capitão do Exército recebeu pouco mais de 57 milhões de votos. Somados aqueles que preferiram Fernando Haddad, brancos, nulos e abstenções, chega-se a quase 90 milhões de eleitores. “Essa ampla maioria tem de ser trabalhada para a perspectiva de ataques aos direitos civis e sociais que estão sendo encaminhados”, comentou o jornalista.

A oposição ao deputado federal pelo PSL tende a crescer conforme a sua estadia no Palácio do Planalto se prolongue, de acordo com Milton Temer. A tendência é que as promessas de campanha atendam apenas os setores sociais mais altos, o que pode provocar conflitos internos.

“À medida que questões fundamentais não forem atendidas, como áreas de emprego e renda, e não serão porque as medidas propostas não visam objetivamente cuidar disso, mas de manter os privilégios da base dominante que apoiou o Bolsonaro, entendo que começarão a surgir contradições dentro do próprio grupo de governo. Nesse caso, os militares serão uma espécie de árbitro com respeito a soluções que devem ser tomadas“, avaliou.

Para apresentação de uma alternativa à camada de eleitores que não votou em Bolsonaro, o jornalista enxerga dificuldades a partir da leitura dos quadros da principal legenda progressista, que apresenta pautas difusas.

“Não vejo o quadro de forma fácil. Embora a base social da esquerda seja ampla, o chamado papel de agente intelectual orgânico não está fácil organizar. O quadro interno do PT, que ainda abriga grande parte dessa simbologia de representação de uma esquerda possível, é uma esbórnia. Só falta adesão ao Bolsonaro porque todo o resto existe, do Lula Livre a uma acomodação total”, lamentou.

Ouça a entrevista de Milton Temer abaixo:

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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