Por Dafne Ramos
Os direitos civis das mulheres no Brasil são uma conquista *muito* recente.
As mulheres conseguiram efetivamente o direito ao voto aqui em 1946. Faz só 62 anos! A título de comparação, a primeira eleição no Brasil aconteceu em 1532, ainda que fosse um direito concedido apenas aos “homens bons” (os cidadãos de bem da época).
As chagas da opressão que as nossas antepassadas sofreram influenciam de maneiras complexas a nossa relação com o mundo e reverberam até hoje.
Mas o Bolsonaro chama de coitadismo as políticas afirmativas que tentam reparar essas desigualdades sociais. Vou levantar aqui alguns pontos para reflexão:
• A taxa de feminicídios cometidos no Brasil é a quinta maior do mundo. Bolsonaro é contra a lei e o termo. Mas o nome é feminicídio, sim, e se chama assim porque é um tipo específico de crime cometido contra mulheres, porque nós – *ainda* – somos vistas como propriedade dos homens.
• Nós somos as únicas responsabilizadas pela gestação e muitas vezes pela criação dos nossos filhos. Não bastasse essa carga para uma mãe solo, segundo o vice do Bolsonaro, ela é uma “fábrica de desajustados” e, sem um homem, seus filhos tenderiam a ingressar no narcotráfico (!).
• Mesmo assim, se ela quiser insistir e criar seu filho e trabalhar, encontrará dificuldades. A quantidades de creches hoje está muito aquém de atender à demanda existente. Mas não importa de qualquer forma, não é responsabilidade do Estado fornecer creches para as mães que precisam trabalhar, segundo o Bolsonaro. A responsabilidade é do pai e da mãe (da mãe).
• Vale dizer que a diferença salarial entre homens e mulheres, para o Bolsonaro, está totalmente justificada pelo fato de nós engravidarmos: damos prejuízo às empresas. O ônus, mais uma vez, é todo nosso.
• Há ainda todo o execrável discurso do candidato envolvendo estupro, merecimento e armamento. Como se armar uma mulher destreinada fosse resolver alguma coisa, sabendo que a maioria dos estupros acontece dentro de casa. A questão é cultural e complexa e deve ser tratada como tal.
Nós somos uma ínfima minoria no congresso (cerca de 10%), ainda que sejamos mais da metade da população do país. Outro dia, tive que escutar que isso acontece porque nós, mulheres, naturalmente nos interessamos menos por política (esse é o tipo de discurso que ganha força com o Bolsonaro).
O fato é que nós precisamos de representatividade política para que nossas necessidades também sejam ouvidas.
Bolsonaro não parece estar interessado em ouvir as necessidades de ninguém sem ser as dele mesmo. Para ele, a maioria tem que dominar a minoria.
Se for mesmo assim, de acordo com o último senso, nós, mulheres, somos a maioria do país. Vamo dominá, taok? Vamo virá issudaê!