A eleição para o governo de São Paulo está em aberto.
A mais recente pesquisa do Ibope, divulgada na última terça-feira (23), apurou que Doria tem 53% das intenções de voto e Márcio França tem 47%. Considerando que a margem de erro é de 3%, temos um empate técnico.
Diante da real possibilidade de São Paulo finalmente ver-se livre do domínio tucano no estado – já dura 24 anos! -, é oportuno apresentarmos uma singela lista de motivos para votar em Márcio França no próximo domingo. Vamos lá:
1 – França, embora não seja exatamente um defensor incansável da classe trabalhadora, tem uma visão social muito mais apurada do que Doria.
2 – Doria prometeu incontáveis vezes que iria cumprir todo o seu mandato na prefeitura da capital. Inclusive em carta assinada de próprio punho. Não cumpriu a promessa.
3 – Quase todo político acaba demonstrando – em maior ou menor grau e também por motivos diferentes – vontade de galgar espaços de poder cada vez maiores na vida pública. O desejo por poder de Doria, contudo, é gritantemente maior que a média. Surfando na onda da sua eleição em 1º turno para a prefeitura, Doria achou que poderia concorrer diretamente à presidência da República nessas eleições. Ele simplesmente saiu viajando pelo Brasil para construir sua candidatura, ao invés de concentrar-se em fazer um bom trabalho como prefeito da maior cidade do país. Como sua candidatura não decolou – diferentemente do seu jatinho particular -, Doria contentou-se com o prêmio menor, o governo do estado.
4 – A campanha de Doria é uma tragédia. Ele bate loucamente na tecla de que França é apoiador do PT, sendo que França foi vice-governador de Geraldo Alckmin, do PSDB, mesmo partido de Doria. O tucano chegou ao ridículo de perguntar a França, em um debate, o nome de seu partido, para poder acusá-lo de ser socialista (França é do Partido Socialista Brasileiro). Um macartismo tosco, surreal. O nível da campanha em geral está baixo, mas Doria consegue afundá-lo ainda mais.
5 – As atrocidades cometidas por Doria no curto período em que esteve à frente da prefeitura da capital. Alguns exemplos:
– O aumento do limite de velocidade nas marginais, grande promessa e peça de marketing da campanha de Doria para a prefeitura (“Acelera, SP”), provocou um aumento no número de mortes no trânsito. Não adiantou nada 10 a cada 10 especialistas advertirem que isso ocorreria; Doria preferiu sacrificar vidas para ganhar a eleição.
– Corte de mais de 50% no programa de distribuição de leite para crianças.
– Retirada de R$ 30 milhões que seriam gastos em obras contra enchentes em terminais de ônibus para contratar “serviços de consultoria”.
– Suspensão de programa voltado para deficientes auditivos criado no governo Haddad.
– Proposta de acabar com a rede pública de farmácias e transferir a distribuição de medicamentos do SUS para a rede privada.
– A guerra contra os grafiteiros e pichadores promovida no início do seu governo.
– A bizarra tentativa de acabar com a Cracolândia usando métodos medievais no tratamento de viciados em drogas. Não deu certo, obviamente.
6 – Doria apresentou o programa O Aprendiz. É sofrido, mas vale a pena assistir alguns episódios (encare como um estudo antropológico). Ali estão presentes todos os elementos da mentalidade “corporativa”: uso de palavras vazias como se significassem algo profundo, tais como ‘inovação’, ‘criatividade’, ‘empreendedorismo’, etc.; um chefe autoritário e que tem um certo prazer mórbido em humilhar os subordinados (Doria, no caso); modelo de felicidade e sucesso definido por coisas fúteis como passar um fim de semana em um resort. Um cara que apresenta um programa ruim desses não merece governar o maior estado do país.
Sei como é difícil desviar o foco da eleição nacional, mas vale a pena gastar saliva e dedos (falando e digitando, não pense besteira) para conquistar uns votos para Márcio França.
Seria espetacular acabar, de uma só vez, com o domínio do PSDB em São Paulo e com os delírios de poder de João Doria.
Quem sabe a gente possa dizer, no próximo domingo, um belo “João, você está demitido”.
P.S.: O Datafolha de ontem apurou um resultado ainda mais apertado: 52% para Doria e 48% para França.