Podemos esperar, primeiramente, um aumento no número de acidentes com arma de fogo. Não são raras as histórias de pessoas que, manuseando uma arma, seja para limpar, brincar ou mostrar a alguém, acabaram disparando sem querer, provocando uma tragédia.
As histórias ficam ainda mais escabrosas quando envolvem crianças. Mesmo que os pais escondam a arma, a curiosidade natural dos pequenos pode levá-los a encontrar e manusear o perigoso objeto. Um caso bem recente, de poucos dias atrás: um garoto de 9 anos levou a arma de fogo do pai para a escola e fez um disparo involuntário. O tiro atingiu sua própria perna esquerda. Leia a matéria aqui.
O número de brigas com ferimentos graves e mortes também crescerá vertiginosamente, com toda a certeza.
Todos presenciamos brigas durante a vida. Seja dentro da própria família, com vizinhos, no trânsito ou na balada, seres humanos perdem a cabeça e brigam entre si.
Agora faça o exercício mental de imaginar como as brigas se resolveriam caso o porte de armas seja liberado. Com tiros, obviamente.
A raiva e a adrenalina do momento já podem ser suficientes para que o cidadão perca a cabeça e faça uma besteira. Quando a briga envolver pessoas alcoolizadas – o que não é nada incomum – a chance de dar merda aumentará exponencialmente.
Escolheremos, em sã consciência, aumentar o risco de perdermos entes queridos ou grandes amigos por uma besteira qualquer?
Existe ainda a possibilidade de que passemos a vivenciar massacres como os que são corriqueiros nos EUA, país onde adquirir uma arma é fácil como comprar bombom no mercado da esquina.
“Mas e a criminalidade?”, talvez você esteja se perguntando. Será que as armas liberadas não ajudariam a diminuir a violência urbana, que assola tanta gente?
Vamos raciocinar.
O assaltante sempre terá o efeito surpresa. Mesmo que você esteja armado, será muito difícil ter tempo hábil de sacar a arma e impedir o assalto.
O próprio Jair Bolsonaro, ele mesmo, o cara que supostamente vai acabar com a bandidagem na base do tiroteio, já foi assaltado enquanto portava uma arma. Resultado: Bolsonaro não conseguiu reagir e entregou a arma para os bandidos. Não impediu o assalto e ainda forneceu armamento para o crime. Que beleza, não? Confira aqui.
Se Bolsonaro, que tem treinamento militar, não teve condições de reagir ao assalto, o cidadão comum terá? Ele agiu corretamente em não reagir. O cidadão comum, que acreditou piamente que ter uma arma resolveria o problema da insegurança, terá a mesma atitude sensata? Ou poderá reagir equivocadamente e colocar sua vida e, quem sabe, de sua família em risco?
A simples lógica nos mostra que liberar o porte de armas criará enormes riscos para as vidas dos brasileiros e não adiantará muito no combate à criminalidade. Por que, então, tem tanto entusiasta dessa estúpida ideia?
Quem sabe se olharmos para a turma do dinheiro, consigamos uma pista.
As ações da Forjas Taurus, fabricante de armas, cresceram 527,35% nesse ano. Vou escrever por extenso: quinhentos e vinte e sete com trinta e cinco por cento, em apenas um ano. A possibilidade de Bolsonaro ser eleito e articular uma mudança na legislação sobre o porte de arma certamente é o que provocou essa explosão nas ações da Taurus.
É impressionante como sempre tem alguém lucrando em cima da desgraça alheia. Alguns espertos faturarão horrores caso o horror da liberação do porte de armas seja instaurado no Brasil.
Bolsonaro visitou um stand da Taurus e falou o seguinte (enquanto segurava um fuzil como se fosse um ursinho de pelúcia): “Há muito tempo saí do exército né, continuo capitão, mas a paixão pelas armas continua. Tanto é que eu sempre digo, se eu chegar lá, você, cidadão de bem, vai ter isso aqui (mostra uma arma) em casa”. Veja o vídeo.
Já cantava Renato Russo na Canção do Senhor da Guerra: “Pra que exportar comida se as armas dão mais lucros na exportação?”