73% dos eleitores não receberam ataques a nenhum candidato.
No Estadão
WhatsApp teve efeito limitado no 1º turno, diz Ibope
Impacto de ataques e críticas disseminados pelo aplicativo atingiram Bolsonaro e Haddad na mesma proporção, aponta levantamento
Daniel Bramatti, O Estado de S.Paulo
24 Outubro 2018 | 05h00
A primeira pesquisa eleitoral com perguntas específicas sobre o possível efeito de campanhas negativas pelo WhatsApp nos resultados do primeiro turno da eleição presidencial indica um impacto limitado. O levantamento revela ainda que críticas e ataques disseminados pelo aplicativo podem ter afetado na mesma proporção tanto Jair Bolsonaro (PSL) quanto Fernando Haddad (PT).
Três em cada quatro eleitores ouvidos pela pesquisa Ibope/Estado/TV Globo disseram não ter recebido mensagens desfavoráveis a algum candidato à Presidência na semana que antecedeu o primeiro turno. Já as respostas dos expostos a propagandas negativas não indicam que um dos classificados ao segundo turno tenha sido mais afetado do que o outro.
Questionados sobre críticas ou ataques a candidatos via WhatsApp no período, 73% disseram não ter recebido. Conteúdo contra Haddad apareceu nas telas dos celulares de 18% – mesmo porcentual no caso de Bolsonaro. Outros 14% citaram os demais candidatos. A soma das taxas excede 100% porque era possível citar mais de um nome.
Mesmo entre os 25% de eleitores que afirmaram ter recebido críticas ou ataques, o impacto das mensagens parece ter sido limitado. O Ibope perguntou somente a quem viu propaganda no WhatsApp se o conteúdo ajudou ou não a decidir o voto. Nesse caso, 75% disseram não, e 24%, sim. Em relação ao universo total da pesquisa, os que receberam campanha negativa pelo aplicativo e admitiram que isso influenciou seu voto são apenas 6%.
Tomando em consideração apenas essa pequena parcela que admite tanto exposição à campanha negativa quanto influência disso no voto, 39% afirmaram ter votado em Bolsonaro no primeiro turno, 35% em Haddad e 24% em outros candidatos, em branco ou nulo.
Os resultados da pesquisa enfraquecem a tese de que o WhatsApp tenha sido decisivo para que Bolsonaro ficasse à frente no primeiro turno, mas eles não permitem conclusões definitivas. Segundo Marcia Cavallari, diretora-executiva do Ibope, é possível que muitos eleitores tenham dado respostas mais convenientes para preservar a própria imagem. Também há o fator memória: muitos não são capazes de responder com precisão sobre o que aconteceu há três semanas. Não houve avaliação do impacto de conteúdo favorável aos candidatos.
Na parcela que admitiu ter recebido conteúdo negativo relacionado a candidatos, o Ibope procurou avaliar se os eleitores checaram a veracidade das informações. Nesse caso, 56% disseram que sim, contra 44% que afirmam não ter checado. Também neste item, segundo Marcia Cavallari, o efeito “politicamente correto” pode ter pesado: é comum que entrevistados evitem dar respostas que revelem más práticas ou fraquezas.
Entre os eleitores com idade entre 16 e 24 anos, 30% admitiram ter sido expostos a algum conteúdo crítico. Na faixa com 55 anos ou mais, a taxa foi de apenas 15%. Entre os que cursaram até a quarta série do ensino fundamental, apenas 8% dos eleitores admitiram ter recebido ataques ou críticas contra candidatos pelo WhatsApp. Entre quem tem curso superior, essa taxa chega a 44%.
O Ibope ouviu 3.010 eleitores de 21 a 23 de outubro. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. Isso significa que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerando a margem de erro. O registro na Justiça Eleitoral foi feito sob o protocolo BR‐07272/2018.