O discurso de Bolsonaro do último domingo, feito por celular e transmitido ao vivo na Av. Paulista, onde ocorria ato em seu apoio, é muito grave.
Se for colocado em prática – e nada indica que Bolsonaro não o tentará -, ninguém poderá dizer que não foi avisado.
O primeiro trecho chocante é o seguinte:
A faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão para fora, ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria.
Banimento de cidadãos do próprio país é típico de ditaduras. Um regime democrático não admite algo assim. A nossa Constituição proíbe que brasileiros natos sejam extraditados mesmo em caso de solicitação da Justiça de outro país.
Bolsonaro promete ou prender, ou banir os “marginais vermelhos”.
Quando o candidato a presidente da República está prometendo determinar a prisão de pessoas, não se trata de um candidato a presidente, mas de um candidato a ditador (paradoxal, não?). No Estado de Direito, é o Judiciário quem ordena a prisão, de acordo com a lei.
Bolsonaro vai além. Ele quer prender ou expulsar do país não todos os “marginais”, mas apenas os “marginais vermelhos”.
Se a ideia é prender “marginais”, por que não todos? Por que somente os vermelhos? Ao juntar os dois termos, como se “marginal” fosse indissociável de “vermelho”, Bolsonaro se entrega: para ele e parte do seu séquito, todos os vermelhos, isto é, pessoas de esquerda, são “marginais”.
Trata-se, portanto, de uma ameaça a toda e qualquer pessoa de esquerda.
Em seguida, Bolsonaro se dirige a Lula, inflamado com a raiva típica das mentes autoritárias, e afirma que o ex-presidente “vai apodrecer na cadeia”. Diz ainda que Lindbergh Farias e Haddad também serão presos e apodrecerão na cadeia.
O instinto ditatorial está mais do que escancarado aqui.
Bolsonaro se arvora a juiz e simplesmente condena seus adversários políticos à prisão. Quem ordena a prisão de adversários políticos, um presidente ou um ditador? Ele complementa, ameaçadoramente: “será uma limpeza nunca visto (sic) na história do país”.
Bolsonaro prossegue:
Vocês, petralhada, verão uma polícia civil e militar com retaguarda jurídica pra fazer valer a lei no lombo de vocês.
Aqui temos a criminalização do partido político mais popular do país. Afinal, as polícias já trabalham com a retaguarda jurídica dada pela Constituição.
O que Bolsonaro quer dizer, então? A “retaguarda jurídica” a que o candidato se refere é, na verdade, um eufemismo para liberar de vez a matança policial.
Podemos concluir, portanto, que Bolsonaro pretende que a polícia tenha carta branca para bater, prender e matar petistas? Perseguir seus adversários políticos? Teremos um novo DOPS?
Bolsonaro promete também classificar o MST e o MTST como grupos terroristas. Ele já havia falado que iria colocar um ponto final em todos ativismos do Brasil. A luta dos movimentos sociais será considerada crime. Isso é coisa de democracia ou ditadura?
Não há como minimizar esse tipo de discurso.
Se é improvável uma ditadura militar clássica em pleno 2019, não é nada difícil imaginar um cenário em que as polícias e até mesmo o exército passem a perseguir, bater, prender e matar petistas e pessoas de esquerda em geral, os novos subversivos.
A “retaguarda jurídica” proposta por Bolsonaro daria a proteção legal necessária para tais atos. Basta enquadrar o subversivo em um crime qualquer e pronto: temos uma perseguição a opositores juridicamente perfeita.
A retórica autoritária, intolerante e raivosa de Bolsonaro cumpre, desde já, o papel de legitimadora das ações violentas contra quem não estiver adequado à ideologia dominante.
Não é brincadeira o que está acontecendo. O risco de vivermos sob uma ditadura, disfarçada ou não, caso Bolsonaro se eleja mesmo, é real demais para ignorarmos.
Não é exagero dizer que quem votar no candidato do PSL, mesmo sabendo do risco ao qual as pessoas de esquerda estarão submetidas, terá o sangue dos perseguidos em suas mãos.