Por Bajonas Teixeira,
Ao abrir ontem um vídeo da jornalista Nathali Macedo no DCM, fui surpreendido pela lista de vídeos recomendados pelo Youtube. Ao lado da interessante discussão de Nathali, o Youtube pôs seis vídeos configurados para a reprodução automática com conteúdo Pró-Bolsonaro. Não só o conteúdo, mas principalmente a forma, no estilo da mais reles publicidade das redes, trazia a marca inconfundível da ‘família Bolsonaro’.
Os vídeos exibem títulos sugestivos como marca de origem: “DANÇOU! Jornalista tentou encurralar Bolsonaro na”, “Manuela d’Ávila passa VERGONHA ao vivo ao defender”, “Vexame de Miriam Leitão com Bolsonaro no final do programa”. “OLHA O QUE GILBERTO GIL DISSE DE LULA A MORO”, “Jornalista da CBN tenta intimidar Bolsonaro e recebe”, etc. (A imagem está no fim do artigo)
Como se sabe, as redes sociais (Youtube, Facebook, WhatsApp, Instagram, etc.) cobram pelo que fazem circular. Ou melhor, cobram para produzir os efeitos de viralização que pode fazer a fortuna de uma empresa ou, como é o caso, decidir a vitória em uma eleição. Num país como o Brasil, cujo tempo médio dos usuários na rede supera até mesmo aquele de países como os EUA, a França, a Inglaterra e o Japão, quem domina as redes domina as opiniões. E esse é o caminho mais seguro e direto para vencer uma eleição.
Bolsonaro domina as redes produzindo para elas em escala industrial. Mas Bolsonaro não tem dinheiro. Então, quem paga por isso? Uma pequena amostra da escala da guerra de ódios implementada pela campanha de Bolsonaro nas redes foi revelada em editorial de O Globo na semana passada (13 de outubro):
O núcleo de estudos FGV-DAPP mapeou mais de seis milhões de postagens durante a campanha eleitoral e contabilizou, entre outras, 1,8 milhão de manifestações de discriminação aos nordestinos; 1,4 milhão de apoio ao nazifascismo; 1 milhão contra mulheres; 1 milhão contra minorias LGBT e outro milhão contra evangélicos, comunistas e negros.
Quem paga por isso? Quem financia o ódio que divide o país? Hoje, em uma matéria que ficou a maior parte do dia na home do UOL, Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp, a Folha de São Paulo revelou o que parece ser a ponta de um iceberg:
Empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparam uma grande operação na semana anterior ao segundo turno. A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada. A Folha apurou que cada contrato chega a R$ 12 milhões e, entre as empresas compradoras, está a Havan. Os contratos são para disparos de centenas de milhões de mensagens.
Não precisaria mais que isso, em um país que tivesse apreço pelas instituições democráticas e pelas leis vigentes, para anular o primeiro turno das eleições e varrer Bolsonaro da disputa. Para isso seria preciso um STF e um STE que honrassem a dignidade institucional investida neles. Mas o que temos, até aqui, são instituições acovardadas, intimidadas até a mudez, trêmulas de medo, fazendo vista grossa às atrocidades que a campanha de Bolsonaro, à toda hora, comete contra as instituições e as leis no país.