Seja qual for o resultado das eleições, podemos ter certeza de uma coisa: a culpa será posta no PT e, principalmente do Lula.
As eleições desse ano são, sem dúvida nenhuma, o resultado concreto do processo de um impeachment sem crime de responsabilidade e o PT foi de longe o partido que menos perdeu, apesar de todo o bombardeio que recebeu, vejamos:
Geraldo Alckmin, amargou no primeiro turno menos de 5%. Pífio resultado para o PSDB que, desde sua emergência, vem protagonizando as eleições presidenciais com o PT. Não fez um só governador no primeiro turno, reduziu a sua bancada de deputados federais em quase 50%, passando de terceiro maior partido para o nono, perdeu quatro senadores e está vivendo o fratricídio no 2ndo turno no seu berço, São Paulo.
O MDB, que mudou de nome para se distanciar de sua história recente idem, perdeu mais ou menos 50% da sua bancada na Câmara, um terço dos 18 senadores, governava 7 estados (incluindo o Rio de Janeiro), mas conseguiu eleger somente um governador no primeiro turno (aliás o único que se elegeu, se aliou ao PT, Renan Filho), apesar de ainda disputar o 2ndo turno em três estados. E sabe-se lá por que razão resolveu sair com um candidato inviável à presidência, dividindo ainda mais a chamada ‘centro-direita’.
A Rede se saiu bem no Senado, com cinco senadores, mas elegeu uma única deputada, a indígena Joênia Wapichana, e Marina derreteu, com apenas 1% dos votos na disputa presidencial.
O impeachment, levado a cabo pela ganância e desespero de um partido (PSDB) que não via suas chances nas urnas e por outro (PMDB) que temia a eliminação de seus quadros pela Lava Jato, se revelou um ato auto-destruidor.
Os ganhadores? Além de ascensão exponencial de Bolsonaro, foram os partidos do chamado ‘centrão’ que, apesar de terem pactuado com Alckmin para transmitir ao ex-governador de SP seus míseros segundos de televisão, foram migrando para a campanha de Jair Bolsonaro, como é de suas naturezas fazer, uma vez confirmada a súbita popularidade do capitão. O PP, partido conhecido por ter o maior número de envolvidos em atos corruptos, incluindo o notório Maluf, foi o que mais ganhou.
Temos na câmara agora 30 partidos! Todos sabemos que a fragmentação partidária é uma das razões para a falta de governabilidade, o fisiologismo e a corrupção.
Outro ganhador destas eleições é o partido Novo, que saiu do nada para fazer uma bancada de oito deputados, com a possibilidade de eleger um governador em Minas Gerais. O Novo, com ideologia claramente de mercado, não tem o empecilho do rótulo ‘social democracia’ e ainda (por ser novo) não tem casos de corrupção. O PSDB que se cuide.
Com isso, teremos (quase não é possível imaginar) o que deve ser, o pior Congresso já visto desde a redemocratização (isto é, se a maltratada democracia se manter). Pior que o congresso eleito em 2014. Mais fragmentado, mais conservador e mais fisiológico, com um aumento das bancadas BBB. A consolação? Algumas mulheres a mais e uma indígena.
Ah, e Ciro?
O Partido alugado por Ciro Gomes, o PDT se saiu bem, ganhou nove cadeiras, elegendo 28 deputados. Pena que não poderemos contar totalmente com esta bancada quando for necessário proteger (pois é só isso que vamos conseguir fazer) a agenda progressista.
Ciro teve uma votação digna, 12%, mas nada que justificasse a campanha que seus apoiadores fizeram, tentando convencer a massa petista a trocar de partido, sendo que era impossível Ciro tirar o voto da maioria dos petistas e grande parte de seus eleitores, especialmente no Nordeste, com exceção do seu estado, o Ceará.
O antipetismo subestimou a força do PT. Mas quando Haddad, o substituto de Lula, começou a dar sinais, em tão pouco tempo, de chegar ao segundo turno, o desespero bateu forte.
Então todos os candidatos, todos, com exceção de Boulos, começaram a equivaler o candidato do PT – o acadêmico de fala mansa e ‘o mais tucano dos Petistas’ Haddad – ao candidato abominável. Risível se não fosse trágico e criminoso, considerando a atual conjuntura.
Erro fatal esse, os votos que esperavam ganhar, retirados de Haddad e Bolsonaro, nunca vieram. Em vez disso, foram transferidos diretamente para Bolsonaro.
Perderam eles e perdemos nós. Perdemos nós porque parte considerável da população realmente acredita que não há diferença entre Haddad e Bolsonaro e, sem ninguém ainda para desmentir, continuam acreditando.
Pois Haddad patinou, enquanto Marina e Alckmin derreteram.
Mais de dez anos de mensalões, impeachments e lavas jatos impulsionaram o “candidato novo e apolítico”, e fundamentou o trabalho sigiloso e sujo nos zaps que, com a ajuda de algumas igrejas, de forma eficiente e precisa, inventou FakeNews e mentiras, sem ser incomodado.
Assim chegamos no segundo turno: o ‘Mito’, que se diz contra a corrupção, vai ganhar com base nas mentiras que vem espalhando e sem ter dito quase nada publicamente ou defendido suas ideias.
E não há nada de surpreendente neste segundo turno, infelizmente.
Marina, a candidata que mais bateu no Bolsonaro, a representante das mulheres, lavou as mãos e foi para casa – como fez depois de ter apoiado o Aécio e o impeachment, sem fazer críticas à Lava Jato. Pelas mágoas com o PT, a mulher que construiu toda a sua carreira no ambientalismo achou que não era necessário lutar contra um candidato que, não é só misógino e machista, mas que declarou querer renunciar ao Acordo de Paris, unir os ministérios da agricultura e meio ambiente e acabar com a demarcação das terras indígenas e quilombolas.
O PSDB também lavou as mãos, e apesar de Haddad ter se declarado aberto, não há conversa com o PT até que haja a tal ‘autocrítica’.
E o que seria a ‘autocrítica’, quando o PT reconhece que houve corrupção de alguns de seus quadros? Quando Haddad e até a própria Dilma já admitiram erros na condução da economia e em outras áreas?
Miriam Leitão, que só agora descobriu que o PT é mais democrático que Bolsonaro e admitiu que o partido foi republicano no trato da corrupção, nos dá uma pista: a ‘autocrítica’ é reconhecer que não há perseguição jurídica contra o PT.
Em outras palavras, implicaria rejeitar as exceções do judiciário. Ora, isto é completamente fora de cogitação para os petistas. Primeiro, porque não são só petistas que lamentam o ‘estado de exceção jurídico’ no qual estamos mergulhados e principalmente porque isso quer dizer a cabeça de Lula dada de bandeja.
Podemos, portanto, supor que o PSDB, ou aquilo que resta de vagamente decente no partido, também lave as mãos em relação ao futuro do país. Porém, considerando os resultados das eleições, não seria de tudo implausível pedir que os Tucanos também fizessem sua própria ‘autocrítica’.
E Ciro, o novo herói da classe média progressista, se encontra estranhamente calado. Flertou, ele também, com a equivalência PT-Bolsonaro. Alguns no seu partido, já até confiam na ‘contra-revolução’, propondo que Haddad ceda o lugar a Ciro. Quem sabe Ciro, já esperando uma derrota do PT, queira manter distância para se fortalecer, sem se imiscuir com o petismo para que, quando Bolsonaro cair, ele possa retornar como herói?
Estranha ironia a que vivemos, Lula, o “Salvador (ou destruidor) da Pátria”, tem partido e militância. Mas é ele o ‘Monstro Maquiavélico’, escondido em sua cela de Curitiba, ditando a sorte do país, mexendo os títeres da política brasileira, de esquerda e de direita. Enquanto os progressistas não-petistas esperam que Ciro, político solitário, de fala bonita e gatilho rápido, salve o Brasil das garras do Petismo e Antipetismo.
Seja qual for o resultado, as reclamações choverão sobre o Lula: porque ele – e só ele – dono imperioso e voluntarioso do seu partido detém as chaves do futuro do Brasil. E, vejam só, ainda que na prisão, ele não quer ceder!
Seja porque não convidou Ciro para ser cabeça de chapa, ou porque Haddad não cederá a candidatura a ele ou porque o PT não fez a devida autocrítica, se o Bolsonaro ganhar as eleições, Lula será o culpado.
E se, por ventura, o PT ganhar, ele será responsabilizado diretamente e sozinho, pela sua incapacidade de nos retirar da crise tamanha em que nos encontramos.
E é bom que assim seja, porque ninguém precisará ter a consciência pesada ou se remoer sobre os estragos que o impeachment e o golpe jurídico-mediático-parlamentar causaram.
Que todos agradeçam, FHC e seus Tucanos, Ciro, Marina e até Bolsonaro que na mitologia política brasileira Lula passou de um despreparado analfabeto para se tornar o mais brilhante criminoso que o Brasil já viu.