Gustavo Castañon: 19 dicas para derrotar Bolsonaro

VOCÊ QUER DERROTAR O FASCISMO? QUER MESMO?

Por Gustavo Castañon

Está muito claro para a maioria da esquerda que parte dos quadros históricos do PT, não quer vencer essas eleições. Disse José Dirceu recentemente que vencer sem condições de governar é pior do que a derrota, e que seria melhor eleger deputados e se posicionar como líder da oposição esperando o futuro.

A frase atribuída a Lula hoje, “Tsunami vai e volta”, ilustra bem o inconsciente desapego com o futuro de milhões de brasileiros, já que o Tsunami vai destruindo e volta destruindo tudo o que tem pela frente.

E o que tem pela frente dele somos nós e o futuro de nossos filhos. São minorias que viverão sob terror. São nossos empregos. São nossas liberdades democráticas.

Mas a verdade é que a maioria dos petistas, como o resto da esquerda e do centro, está verdadeiramente aterrorizada com a iminência de um governo abertamente fascista abonado pelas urnas. Tão aterrorizada quanto eu estava três semanas atrás tentando avisar que a opção por Haddad nos levaria a esse desfecho.

Mas não é de minha natureza morrer sem lutar. É da sua? Se você, odiando o PT ou não, odiando o Ciro ou não, odiando a todos ou não, quer impedir a instalação do fascismo pelas urnas em solo nacional, está na hora de tomar as rédeas do processo das mãos daqueles que já estão com seus destinos de exílio devidamente acertados.

A melhor chance para vencermos essa eleição seria a renúncia de Haddad em prol de uma frente ampla democrática. Ciro era o candidato mais forte para enfrentar o fascismo e tinha de 14 a 16% de diferença no segundo turno para Haddad e de 6% a 10% de diferença para Bolsonaro. Mas sabemos que não há grandeza no PT suficiente nem para dividir uma maçã. A não ser que esteja envenenada.

Já que miseravelmente estamos no mesmo barco, tenho sugestões àqueles que estão no comando dessa campanha. É claro que se alguém se der ao trabalho de ler isso, teria que testar algumas que interessassem em pesquisas quanti ou quali. Enfim, aqui vão:

1) PAREM DE BATER NO CIRO – A blogosfera petista tem que parar ontem de bater no terceiro colocado e em seus eleitores. Esse comportamento passa a mensagem de desespero e derrota, de que não há nada a ser tentado e, portanto, é hora de tratar da disputa de seu campo político. Ciro não vai salvar vocês. O antipetismo é uma realidade e atinge 60% da população (índice de rejeição ao candidato apoiado por Lula que já conhecíamos desde o começo do ano). Ciro conseguiu parte desses votos, minoritários, mas não tem como transferi-los por cabresto. Vocês têm que lembrar que Ciro só é um coronel na mitologia petista, seu eleitor médio é autônomo cognitivamente e foi atraído por suas propostas. Não segue santos, caudilhos ou líderes populares. Facilitaria muito se parassem de perder seus eleitores, que é só o que conseguiram até aqui.

2) SURPREENDAM – A campanha está com ar de fato consumado. É preciso gerar fatos novos, como o Bolsonaro fez ao prometer 13º ao bolsa família. Concretude, por favor.

3) ENCARNEM O ANTI-SISTEMA – É muito difícil para Haddad, com sua imagem de professor da USP e do Insper, filiado ao PT, encarnar isso. Mas é isso o que está decidindo a eleição. Lula liderava porque foi um bom presidente, estava preso enquanto todo o resto está solto. Ele encarnava o anti-sistema mais do que ninguém. Agora é Bolsonaro quem o encarna. O sistema para o povo é o petucanismo, o consórcio PT-PMDB-PSDB. Mas Haddad em minha opinião deveria evitar ao máximo essas associações e investir ainda numa narrativa de vítima de um golpe que destruiu a economia, de vítima de um sistema que encontrou agora seu representante, aquele que vai perseguir o pobre, que é parte do sistema e que apoiou o PSDB esses anos todos e agora apoiava Temer. Varrer Lula para debaixo do tapete agora só enfraquecerá a narrativa petista. Agora é leva-la até o fim, sem, no entanto, fazê-la de carro chefe.

4) PROPONHAM O RECALL – Convençam-se rapidamente de que para 60% dos brasileiros a volta ao poder do PT é um pesadelo, e esse pesadelo deve ser mitigado para o eleitor de centro ou direita que não quer o fascismo. Um caminho para isso é assumir a proposta de Ciro Gomes de criação no Brasil do recall. Prometer que em dois anos o país teria um recall, aprovado por emenda constitucional antes do mandato, para decidir se quer ou não a permanência de Haddad na presidência, não só aliviaria o peso daqueles que não querem o PT de volta como também a pressão por um golpe que começaria no primeiro dia de urnas fechadas pró PT.

5) PROMETAM SER UM GOVERNO DE TRANSIÇÃO – Se comprometam com a não disputa do segundo mandato. Se a maioria dos brasileiros não quer quatro anos de PT, imagine oito.

6) PARLAMENTARISMO? – Já sabemos que o PT não teria maioria, uma forma de evitar o fascismo nesse momento é um recuo parlamentarista que pode inclusive ser usado para controlar os poderes de Bolsonaro se o pior acontecer. Essas duas propostas diminuiriam o medo do PT. Como, no entanto, a ideia é mal recebida pela população, talvez seja somente uma moeda de troca em acordos com outras forças políticas.

7) CHAMEM O FASCISMO PELO NOME – Façam uma campanha politizante mostrando as características e horrores do fascismo. Fascismo não é uma palavra muito forte para o que está acontecendo. Os horrores da tortura e ditadura ainda podem converter muitos votos na classe média para o nulo, nem todos os que estão votando em Bolsonaro sabem do que se trata.

8) ESTADO DE DIREITO – Não caiam nessa ladainha de que ninguém quer saber de estado de direito e democracia. Muita gente quer, e se isso não decide eleições, mobiliza uma massa de militantes desesperadamente motivados. Nas comunidades carentes, que não conhecem estado de direito, se conhece muito bem a arbitrariedade policial e há muito medo de que ela se torne incontrolável.

9) MOSTRE QUEM É BOLSONARO NA TV – Todo dia. Isso choca, isso constrange, não é verdade que todos estão votando nisso, a maioria está votando apesar disso, isso vai ao menos aumentar os votos nulos e acender a luz vermelha democrática no país.

10) FALEM DE FAKE NEWS O TEMPO TODO – Não há como combater na rede a máquina de mentiras da CIA e dos bolsonaristas, tudo o que resta para minimizar é denunciar o processo como um todo.

11) QUESTÃO LGBT SIM, MAS SEGMENTADA – O erro na defesa da pauta é na forma e público, e não na causa. Estima-se que 4% da população seja LGBT. Em seus laços de amor familiar, essas pessoas alcançam diretamente um irmão, uma mãe, um grande amigo. Uma enorme parcela da população ainda se aterroriza com a homofobia declarada de Bolsonaro. Essa pauta deve ser muito exposta nos grupos segmentados de rede para mobilizar essa comunidade nas eleições.

12) EXPONHAM A VIOLÊNCIA – Os episódios de violência nas últimas semanas são francamente aterradores e devem ser expostos no horário eleitoral. As pessoas têm que ficar sabendo. Vamos apostar na civilização, porque se perdermos, você quer estar do lado dos vencedores?

13) DEFENDAM A SOBERANIA E O EMPREGO NACIONAL – A principal diferença de Bolsonaro para o discurso fascista, e uma lacuna em sua imagem, é a falta de um discurso de proteção da indústria nacional, do emprego nacional e da soberania. Essa é uma falha que deve ser exposta.

14) PAUTA ECONÔMICA, ECONÔMICA, ECONÔMICA – No horário oficial, a maior parte do tempo deve ser mostrando que com o PT era melhor, que Bolsonaro apoiou as reformas de Temer que destruíram a economia e que as propostas dele levarão ao desemprego e falta de direitos. Mostrar declarações de economistas e imprensa internacional que se espera turbulências econômicas piores no país com a eleição de Bolsonaro.

15) DESMORALIZEM BOLSONARO NA SUA IMAGEM PROJETADA – Tá na hora do Haddad ficar mais durinho nas pernas e chamar Bolsonaro de covarde, de fraco que não controla a equipe, dizer que ele é político profissional e está querendo esconder coisas do povo brasileiro, que tem medo de enfrentar o PT no debate (já pensou? Ele teria que aparecer).

16) NÃO ABANDONEM A PAUTA FEMININA – Tem que se recuperar a rejeição do eleitorado feminino à chapa de Bolsonaro, repisar declarações, o voto contra as domésticas, a declaração da fábrica de delinquentes, não se pode desistir disso. A campanha mostrando Haddad como marido fiel e gentil está ótima. Alguma coisa tem que estar certa, não?

17) NÃO DESISTAM DO VOTO ANTI-PT – Foquem em levar o anti-petista a votar nulo, esqueçam o amor ao PT, o papo com o anti-petista é o de não deixar ele se sujar de sangue. “Não sujem suas mãos de sangue no dia das eleições”, é por aí.

18) EXPONHAM A DESMORALIZAÇÃO INTERNACIONAL DO PAÍS – O Brasil com Bolsonaro liderando já virou pária internacional antes de sua posse projetada. Marine Le Pen chegou a dizer que Bolsonaro dizia coisas aberrantes, inaceitáveis na França. Bolsonaro já prometeu tirar o Brasil da ONU. Exponham como está sendo recebida a liderança de Bolsonaro no exterior e como isso afetará o fluxo de investimentos e turismo no país. Brasileiro de classe média não é norte-americano, ele se importa com a visão internacional sobre o país.

19) CORAGEM – Já que vocês não têm grandeza, tenham ao menos coragem. Lutem até o último minuto. Vocês fizeram questão dessa vaga. Façam por onde. Se exponham. Morram na pista. Mesmo que percamos essa eleição, a luta contra o fascismo apenas começou. Não joguem fora o tempo de TV com outra campanha despolitizante do PT. Politizem. Na emoção já perdemos. Tentem a razão. Se forem despolitizar de novo, lembrem-se que essa tem sido a eleição do ódio contra o medo. Então que todos tenham medo. Tenham muito medo.

Movam-se. Estamos esperando sinais de que vocês querem mesmo disputar essa eleição. Pra vencer ou pra perder ela precisa ser disputada como nunca. O PT fez de tudo para ficar com essa vaga. Convenceu, com mentiras, milhões de brasileiros de que era a opção mais forte para lutar contra o fascismo que ameaça suas próprias vidas e a de seus filhos. Agora vão lá e lutem. Deixem seu sangue no ringue. É o mínimo.

Mais do que aqueles que lutam sem tréguas até a vitória, o que revela quem é quem é a luta sem trégua até a derrota inevitável. Que não seja nosso caso. Não quero mais provar nada a ninguém, eu só quero tentar salvar meu país do fascismo. De novo. Vocês querem?

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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