Bolsonaro se entrega no primeiro programa eleitoral do 2º turno

Anticomunismo tosco: o vermelho do PT seria um "sinal de alerta", segundo a campanha de Bolsonaro

A candidatura Fernando Haddad abriu seu primeiro programa eleitoral do 2º turno denunciando a onda de violência fascista dos últimos dias. Foi acertada a exibição do vídeo de Bolsonaro falando em “metralhar a petralhada”. Tornou evidente a conexão do discurso de ódio do candidato com o surto de ataques.

Depois da denúncia, o programa focou-se nas realizações de Haddad no Ministério da Educação e na prefeitura, bem como nas propostas. A aparição pontual de Lula indica que a campanha deve mesmo focar mais em Haddad, embora não deixando Lula de lado.

Haddad ainda mencionou as fake news do Whatsapp, além de fazer a defesa da democracia em mais de um momento.

Foi um bom programa o da candidatura do PT. É provável – e recomendável – que o PT explore, nos próximos dias, a fuga de Bolsonaro dos debates.

O programa de Jair Bolsonaro iniciou de forma grotesca: “denunciando” o Foro de São Paulo. As teorias malucas do Olavo de Carvalho atingiram um público inédito, hoje.

Logo no começo do programa, uma fala de Lula é reproduzida como se fosse algo extremamente grave. O ex-presidente diz que a esquerda de todos os países que participaram do Foro chegou ao poder. Só isso. Uma simples constatação de Lula é pintada como algo perverso. Bizarro.

Logo na sequência, o locutor manda um “Cuba é o país mais atrasado do mundo”, o que é uma evidente mentira descarada, vide, para ficar apenas em um exemplo, na medicina avançadíssima do país.

O programa explorou as prisões de petistas feitas pela Lava Jato e, logo após, mergulhou num anticomunismo alucinado, criticando até a cor vermelha. É positivamente ridículo dizer que o PT, um partido de centro esquerda moderado, tem alguma coisa a ver com comunismo. O triste – e trágico – é que muita gente acredita nessa baboseira.

Não faltou o momento família, uma tentativa de humanizar o candidato. Ele falou bastante sobre a relação com sua filha. O alvo é o voto feminino, grande dificuldade de Bolsonaro.

Sobraram referências ao combo Deus, família e pátria, típico de movimentos autoritários de direita.

No final, Bolsonaro simplesmente se entrega:

Precisamos sim de políticos honestos e patriotas. E, mais do que tudo, um governo que saia do cangote da classe produtora.

O candidato fala em “classe produtora” se referindo aos empresários.

Repararam no mais do que tudo?

O governo “sair do cangote dos empresários” significa a retirada de direitos trabalhistas para que a taxa de lucro dos empresários se mantenha ou cresça, mesmo durante a crise. Essa é a receita da direita para ajudar os (grandes) empresários: rebaixar as condições de vida dos trabalhadores.

Sobre o drama dos trabalhadores brasileiros, que sofrem com o desemprego e a queda na renda por causa da crise, Bolsonaro não deu uma palavra. Zero.

O PT propõe aumentar o poder de compra da população e fazer a roda da economia girar, o que ajuda os pequenos e médios empresários ao mesmo tempo em que melhora a vida dos trabalhadores.

Não é evidente qual é a melhor proposta para o país?

 

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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