Conforme previmos aqui, explodiram os casos de violência após o forte desempenho eleitoral de Bolsonaro no primeiro turno.
Os bolsonaristas estão se sentindo totalmente à vontade para ameaçarem, intimidarem, agredirem ou mesmo matarem quem pensa ou apenas existe de forma diferente da deles. Reparem no seguinte comentário, postado no texto linkado acima:
TOMARA MESMO…
EU MESMO IREI ENVENENAR MUITOS MAGRELOS MACONHEIROS ESQUERDISTAS QUE SO VÃO NA UNIVERSIDADE P VADIAR E FUMAR E COMER BANDEJÃO.. BANDO DE VERMES..
EM BREVE ESTARÃO JUNTOS COM SEUS PARENTES… OS VERMES.#ENVENENAMENTO EM MASSA JÁ…
É MELHOR DO Q FACADA.
Só um clima de ódio e fascismo explícito, como o que vivemos, permite que alguém expresse publicamente coisas como essa.
A violência tem endereço certo: pessoas de esquerda (ou que apenas andam com adesivo do #elenão), negros, gays, mulheres. A Agência Pública listou os ataques, dividiu-os por região e relatou alguns. Veja neste link e perceba que o horror fascista é uma realidade no Brasil.
Bolsonaro, o óbvio responsável direto pela onda de violência, disse que lamenta mas não tem como controlar o que chamou de casos isolados. Ainda teve a pachorra de dizer que a violência e a intolerância vêm do outro lado.
Os bolsonaristas mais perdidos não se dão conta da gravidade do que está acontecendo. Não percebem que é exatamente o mesmo filme que ocorreu na Alemanha de Hitler: o discurso de ódio contra as minorias descamba novamente em violência física, sangue e morte.
Entretanto, alguns episódios de nazismo explícito se encarregam de não deixar qualquer margem para dúvidas sobre a natureza do que está acontecendo. Vejamos:
- Pichação na unidade Tamandaré (SP) da rede de cursinhos Anglo:
- Cartazes no bairro Menino Deus, em Porto Alegre:
- Pichação na UERJ:
- Suástica desenhada com um canivete na barriga de uma mulher em Porto Alegre:
Este caso da suástica riscada com um canivete é ilustrativo de um dos aspectos mais sombrios de períodos fascistas.
O delegado da 1ª DP de Porto Alegre falou o seguinte à BBC News Brasil:
Eu fui olhar o desenho que fizeram na barriga dela. É um símbolo budista, de harmonia, de amor, de paz e de fraternidade. Se tu fores pesquisar no Google, tu vai ver que existe um símbolo budista ali. Essa é a informação.
Segundo a BBC, “Ao ser questionado sobre a motivação de alguém cortar a pele de outra pessoa com um canivete para desenhar um símbolo de amor, o delegado ironizou. ‘Aí, eu teria de perguntar para esse alguém. Eu seria adivinho e eu não sei adivinhar’.”
Não é preciso ser adivinho para sabermos qual é o candidato do delegado.
Só um surto coletivo de insanidade fascista explica que o responsável pela investigação fale uma aberração destas. Quem faria, à força e com um canivete, um símbolo de harmonia, amor e paz em uma desconhecida? É surreal.
O aspecto sombrio ao qual me referi logo acima é exatamente este: pessoas investidas de poder estatal mandarem às favas todos os escrúpulos e virarem soldados do ódio.
É a síndrome do pequeno poder, ou “Síndrome de porteiro”, que, segundo a Wikipedia, “é uma atitude de autoritarismo por parte de um indivíduo que, ao receber um poder, usa de forma absoluta e imperativa sem se preocupar com os problemas periféricos que possa vir a ocasionar”.
Se os “homens da lei” brasileiros já são reconhecidamente abusivos e autoritários, imaginem agora que há este clima propício para a violência. Imaginem se Bolsonaro conseguir implementar seu projeto esdrúxulo de dar “retaguarda jurídica”, ou seja, carta branca para a PM matar.
Encerro o post com o relato desesperador da cozinheira Luisa Alencar, um caso típico de regimes autoritários:
“O policial que me abordou na rua, que me agrediu, que me chutou no chão, que me deu a rasteira, ele olhou para minha cara e falou assim: ‘Ele não? Você acha gostoso? Não era isso que você queria? Eu só tiro você daí se você falar ‘ele sim’”, relatou a cozinheira e doula Luisa Alencar. Os policiais, durante a abordagem, fizeram declarações de apoio ao candidato à Presidência pelo PSL. O fato ocorreu na segunda-feira, dia 9 de outubro, na 64ª Delegacia de Polícia, no bairro Jardim Coimbra, em São Paulo.
Ela foi abordada por dois PMs por volta das 14 horas, próximo à sua casa. Estava fazendo um estêncil com os dizeres “Ele Não” em um muro. “Os policiais nem me chamaram nem me advertiram verbalmente, eles já chegaram me agredindo”, contou. Um deles arrancou sua mochila, torceu seu braço e a algemou. “Enquanto ele me prensava na parede, ele começou a gritar no meu ouvido: ‘Sua puta, ele sim, sua puta, vagabunda, ele sim. Não vai ter mais nenhum vagabundo igual a você na rua fazendo essas merdas’.”
Luisa disse que o policial pediu que ela cruzasse as pernas e depois deu uma rasteira. “Eu caí de peito no chão. Ele já prensou minha cara no chão e continuou falando ‘sua puta petista, fedida’. Ele ficou ali me agredindo.” O outro policial pediu reforço e, de acordo com a cozinheira, pouco tempo depois surgiu mais uma viatura e cinco motos da Polícia Militar. “Eles ficaram ainda fazendo uma cena, me prensando no chão, as pessoas me olhando naquela situação”, contou.
Luisa chegou à delegacia por volta das 15 horas. Ela conta que foi colocada em uma cela nua enquanto homens passavam, do outro lado das grades, olhando e rindo. “A delegada mandou eu tirar a roupa, algemada. Nisso, eles abriram já uma cela e me botaram lá dentro. Disseram que precisavam averiguar minha roupa, aí me deixaram pelada um tempo dentro da cela”, disse.
“Quem me conduziu e quem pediu para eu tirar a roupa era uma mulher, a delegada Cristiane. Só que enquanto eu estava dentro da cela passaram vários policiais homens, eles me olhavam e riam”, disse.
Ela conta que só saiu de trás das grades às 18:30, depois que obedeceu às ordens do policial e falou “ele sim”.
“Ele falava: ‘Olha pra mim, olha pra minha cara, fala ele sim’, dando risadas”, contou Luisa. “Eu saí da delegacia às 21h30. A sensação era que eu estava vivendo na ditadura.” Procurada para comentar o relato da jovem, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo enviou uma nota na qual afirma que “não há indícios de irregularidade na ação dos PMs e da delegada responsável pelo registro da ocorrência”.
Não é só sensação, Luisa. A ditadura já começou.
P.S.: Bolsonaro afirmou, em uma entrevista ao CQC (veja aqui), que teria se alistado “sem problema nenhum” no exército de Hitler, mesmo sabendo da história da 2ª Guerra Mundial. Após o repórter insistir, perguntando se ele se alistaria mesmo sabendo de toda a morte nos campos de concentração, o holocausto e os 6 milhões de judeus assassinados, Bolsonaro responde, orgulhoso, que seu bisavô foi soldado de Hitler.
Atualização (em 04/01/2019): Quanto ao símbolo nazista na barriga de uma mulher de Porto Alegre, o laudo pericial e as demais evidências indicaram, algumas semanas depois da publicação deste artigo, que há uma boa probabilidade de a lesão não ter sido obra de grupos nazistas e sim um automutilamento. Fiz a correção no meu balanço de 2018. Peço desculpas às leitoras e leitores pela imprecisão da informação e também pela demora da correção.