Datafolha traz um cenário difícil

O Datafolha divulgado ontem mostra um quadro muito complicado para Haddad: 58% x 42% para Bolsonaro. Esses 16 pontos de diferença, significam mais de 20 milhões de votos.

A estratificação da pesquisa, já disponível no site da Folha, traz um quadro ainda mais  negativo: Bolsonaro avançou entre mais pobres e no nordeste.

Entretanto, como já dissemos em post anterior, agora as pesquisas devem ser cotejadas e ponderadas com números concretos, o resultado do primeiro turno.

Esses são os números que temos que ter em mente, porque são os únicos reais: pesquisas são apenas projeções que, como vimos, são incapazes de penetrar fundo na consciência popular.

Jair Bolsonaro obteve 49,27 milhões de votos, contra 31,32 milhões de Haddad, 13,34 milhões de Ciro, 5,09 milhões de Geraldo Alckmin, 2,67 milhões de Amoedo, 1,34 milhão de Cabo Daciolo, 1,28 milhão de Meirelles, 1,0 milhão de Marina, 860 mil de Alvaro Dias e 617 mil de Guilherme Boulos.

Ao todo, 117,36 milhões de eleitores compareceram às urnas, dos quais 107 milhões deram voto válido (os outros votaram em branco ou anularam).

Cerca de 30 milhões de eleitores se abstiveram.

Para ganhar as eleições, o vencedor precisa ter 50% mais 1 voto. Considerando apenas os votos válidos dos eleitores que compareceram, ou seja, 107 milhões de votos, isso significa que o próximo ganhador das eleições precisa ter 53,5 milhões de votos. Isso significa que Bolsonaro precisa conquistar aproximadamente 4,2 milhões de votos, ao passo que Haddad tem de buscar mais 22,2 milhões de votos.

 

Por região, os três principais candidatos tiveram o seguinte desempenho:

– Centro-Oeste: 58% Bolsonaro, 21% Haddad, 10% Ciro.
– Nordeste: 26% Bolsonaro, 51% Haddad, 17% Ciro.
– Norte: 43% Bolsonaro, 37% Haddad, 9% Ciro.
– Sudeste: 53% Bolsonaro, 19% Haddad, 12% Ciro.
– Sul: 57% Bolsonaro, 20% Haddad, 9% Ciro.
– Exterior: 59% Bolsonaro, 10% Haddad, 14% Ciro.

O Datafolha apurou que a maioria (58%) dos votos em Ciro já estão migrando para Haddad. Mas há 15% de eleitores de Ciro que preferem votar branco ou nulo e 19% que vão de Bolsonaro. Esse percentual de eleitores de Ciro que irão votar em Bolsonaro prova que a presença do cearense na disputa foi indispensável para que houvesse um segundo turno.

Entre eleitores de Alckmin, 42% votarão em Bolsonaro, 30% em Haddad, 17% branco ou nulo e 12% não sabem.

Vou publicar aqui alguns quadros do relatório estratificado do Datafolha.

No Nordeste, a divisão das intenções dos votos válidos, nessa primeira pesquisa divulgada ontem, ficou assim:

Os números de intenção de voto do Nordeste significam que Haddad cresceu de 51% para 62%, ganhando 11 pontos, ao passo que Bolsonaro avançou de 26% para 38%, subindo 12 pontos.

Não se pode esquecer que Bolsonaro venceu em quase todas as capitais nordestinas, com exceção de Salvador, Teresina e São Luiz, onde Haddad venceu, e Fortaleza, onde Ciro teve a maioria dos votos.

Já no Sudeste, a pesquisa Datafolha apurou a seguinte situação:

No Sudeste, Bolsonaro teria crescido, portanto, de 53% para 64%, avançando 11 pontos, ao passo que Haddad foi de 19% para 36%, conquistando 17 pontos.

A maior dificuldade de Haddad, porém, é que ele já não tem uma vantagem tão expressiva entre eleitores mais pobres. Segundo o Datafolha, as intenções de voto entre eleitores com renda familiar inferior a 2 salários ficou em Haddad 54% X 46% Bolsonaro.

Nas faixas de renda superiores, a vantagem de Bolsonaro cresce muito.

A mesma coisa vale para a divisão dos eleitores por escolaridade. Haddad ainda ganha entre eleitores que tem até o ensino fundamental, mas Bolsonaro também está forte neste segmento: Haddad 53% X 47% Bolsonaro.

Nas faixas superiores de escolaridade, a vantagem de Bolsonaro é avassaladora.

Conclusão

Os leitores devem se preparar para o pior. Evidentemente, nada é impossível. Ainda pode haver uma “insurgência” dos eleitores que se abstiveram, e resolvam todos votar agora, mas é uma hipótese bastante implausível.

Na verdade, dado o avanço de Bolsonaro entre mais pobres e no nordeste, a campanha de Haddad deve se cuidar para não enfrentar uma fuga de seus próprios eleitores, dispostos a votar naquele que eles entendem que será o vencedor, ou então a cair em promessas demagógicas de Bolsonaro, como a de que dará um “décimo-terceiro” do bolsa família, conforme sugerido pelo presidente do PSL.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.