Por Francisco Tarcísio Guedes Lima Verde Neto
Estar à esquerda do espectro político brasileiro tem sido a missão mais difícil para qualquer pessoa que se disponha a fazer um debate civilizatório. Especialmente porque, em tempos de criminalização da política, a esquerda, mais organizada, é tratada como a vilã por insistir em manter a coerência.
Sou leitor assíduo d’oCafezinho, e me senti obrigado a me manifestar, até pelo clima do debate que vejo nos comentários, onde se colocam, muitas vezes como inimigos, quem outrora lutava pela mesma causa. E tomo a oportunidade de dar essa opinião pra fazer um apelo ao debate, sim, mas sobretudo à união.
Num momento em que um quadro de renovação como o Guilherme Boulos é tratado aos quatro ventos como um terrorista, com uma visão simplista que criminaliza o movimento social, devemos estar atentos demais a como lidamos uns com os outros.
Por isso, não posso deixar de dizer: Boulos é uma opção à esquerda, uma opção que não foge à luta, e para ser breve, suas propostas de implementar mecanismos de participação social e avaliação dos serviços públicos são das mais modernas que se vê no mundo. Se fossem propostas por um tucano, seriam chamadas de govtechs. Como é o Boulos, é bolivarianismo.
Feito o destaque, parto a dar a minha opinião.
Antes da prisão de Lula, e até mesmo depois, fui receoso da candidatura de Haddad, visto que Lula seria fatalmente impedido. Digo isso porque me soaria estranho ver uma pessoa com a biografia, o preparo e a força que tem Haddad ser reduzido ao pretenso papel de menino de recados. Mal sabia eu que era vítima da simplificação reducionista que eu mesmo critiquei no início desse texto. É que às vezes o medo não nos deixa raciocinar. Fui capaz de visualizar o cenário de outra forma: Ao lançar uma candidatura, Lula evidencia a injustiça que é privar o povo de escolher o seu presidente, especialmente se tomamos em consideração, pra ser sucinto, as controvérsias que envolvem o processo que o condenou, e sobretudo os motivos que o fizeram ser preso e continuar preso. Era imperativo que Lula fosse posto candidato.
Era imperativo porque, num país que luta contra simplificações rasteiras que podem trazer a força do fascismo para o nosso dia a dia, assumir como normal uma violência desse tipo contra Lula e contra o povo, seria assumir razoável um judiciário partidarizado e uma esquerda criminalizada na figura do seu maior expoente.
Sobre a posição de Haddad, era imperativo também que o PT continuasse essa luta. Nada melhor que mantendo Haddad, o quadro petista mais admirado por toda a política programática do Brasil, uma pessoa moderada e aguerrida, com um espírito batalhador e com projetos e história de sucesso na prefeitura de São Paulo e sobretudo no Ministério da Educação. Numa eleição em que se luta contra a ameaça do fascismo e da simplificação, é importante que o Brasil abandone os arquétipos e traga um líder da esquerda intelectual e programática para o debate. E que faça o bom combate, a luta civilizada. Esse é um ponto, e essa é uma das batalhas do nosso campo. Vencer o simplismo. E para isso, a candidatura do PT é mais que necessária, é o alicerce do debate de esquerda, e o norte do qual os esquerdistas não devem se distanciar.
Ao mesmo tempo, venho agora para a minha decisão de voto, que é o voto em Ciro e no PDT.
Acredito que dentre todos os candidatos, Ciro reúna com mais intensidade características que o próximo presidente precisará demais: Uma postura combativa e a disposição ao debate, a resposta firme à calúnia da mídia e ao debate odiento, a capacidade de dialogar no “homem a homem” e finalmente, um projeto para o Brasil.
A própria campanha de Ciro revelou a necessidade de uma postura combativa com os problemas do país, e a dedicação dele em debater as questões fundamentais do Projeto Nacional de Desenvolvimento ao redor do país mostram alguém com um propósito. Como o próprio diz, na frase de Vitor Hugo: “Nada é mais forte que uma idéia cujo tempo chegou”.
Outro ponto, a resposta de Ciro contra as delações oportunistas, contra as declarações odientas e contra o confronto que rasga o tecido social do país mostram que às vezes, para vencer a intolerância, é necessário pulso, sem perder a civilidade. Ao mesmo tempo em que chama Bolsonaro e Mourão do que realmente são, é importante lembrar de como o mesmo se portou ao pedir que sua militância não hostilizasse a Marina (uma companheira que sim, por mais que às vezes esqueçamos, está no nosso campo, apesar dos pesares).
Além disso, a necessidade que o Ciro teve de construir alianças ao redor do Brasil para compensar o seu pouco tempo de TV foi razoável para alinhar uma capacidade de governança que pode inaugurar um novo modelo de presidencialismo, com uma política feita de forma micro, ao invés de macro. Basicamente, negociando com pessoas, com projetos, e não com partidos. Diga-se o que quiser de seu temperamento, mas Ciro provou essa capacidade ao compor alianças nessa campanha.
Finalizo ainda com a principal característica que vejo em Ciro Gomes que o credencia para ser o líder do campo progressista nessa eleição, independente do número de votos. O trabalhismo.
É necessário resgatar o trabalhismo como motor do desenvolvimento nacional, incluindo o nosso povo através do emprego, e melhorando a nossa competitividade sistêmica, dando para a nossa indústria infraestrutura e capacidade para um crescimento sustentável, nos livrando das amarras de um sistema bancário concentradíssimo, mas que precisa ser vencido da maneira certa. Nas palavras do Bresser-Pereira e do Mangabeira Unger. Ajuste Fiscal sim, para garantir um desenvolvimento soberano e inovador.
O programa de governo evidencia a busca desse objetivo, com a responsabilidade fiscal que é urgente, mas com o olhar social que nos é muito caro e a base de qualquer programa progressista. Ainda, dentro da tônica da simplificação que infelizmente impera na visão política brasileira, na campanha do Ciro o projeto é o tom. E talvez vencer a barbárie com propostas, resultados e inteligência seja a melhor maneira de calá-la e reduzi-la à sua insignificância.
Finalizo ainda pedindo que mantenhamos sim o debate. E em tempos de um neomacartismo tropical, eu trago a lembrança do Pete Seeger.
Solidarity Forever, for the union makes us strong.