A Época, revista da Globo, publicou ontem o seguinte editorial: “Basta de ditaduras! Fora, golpistas!”.
Não há menção a nomes, mas trata-se de um recado direto e pretensamente forte – reparem nos pontos de exclamação – para os arreganhos golpistas de Bolsonaro e seu vice, o general Mourão. Há, como não poderia deixar de haver, uma ou outra cutucada no PT e na esquerda, mas o alvo dos canhões da Globo é o autoritarismo personificado pela chapa do PSL.
Escrevi, logo acima, pretensamente forte porque a Globo não tem moral nenhuma para criticar golpe: o mea-culpa pelo apoio ao golpe de 1964 mostrou-se totalmente fajuto em 2016, quando a ação da empresa dos Marinho foi decisiva para a derrubada do governo eleito nas urnas.
No momento em que consolida-se uma grande probabilidade de termos um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, esse movimento é um pouco estranho. É inimaginável, afinal, que a Globo apoie o PT caso se confirme esse cenário.
Quais seriam, então, os objetivos globais com esse editorial? Parecem ser dois os intentos.
O primeiro: limpar a própria barra, antecipadamente, caso haja, mesmo, uma intensificação dos movimentos golpistas no futuro próximo. É claro que tratar-se-ia de mais uma falsificação histórica promovida pela Globo, já que o seu furioso jornalismo de guerra contra o PT e a esquerda em geral foi o grande propulsor do fascismo e de Bolsonaro como fenômeno eleitoral.
O segundo: enquadrar Bolsonaro e demais golpistas (aqueles camaradas que pensam, de forma absolutamente autocentrada e egocêntrica, que não precisam ser eleitos por ninguém para exercer o poder). Um endurecimento ainda maior do regime, especialmente se os militares estiverem envolvidos, pode ser ruim para a imagem do Brasil e, consequentemente, para os negócios.
Não pega bem, sabe como é.
Com os presumíveis – em caso de uma bizarra e anacrônica volta da ditadura militar – perseguidos, torturados e mortos, tudo indica, se observarmos o histórico, que a Globo conviveria bem.