Menu

Breno Pascal: Por que, mesmo de esquerda, não votarei em Haddad no 1º turno

Por que, enquanto de esquerda, não votarei ou farei campanha para Fernando Haddad no primeiro Turno Por Breno Pascal de Lacerda Brito Não posso discordar que o Haddad é um bom quadro político, nos limites de seu liberalismo civilizatório. Seria uma escolha bastante prudente (e talvez aconselhável em meio aos limites eleitorais da democracia burguesa) […]

5 comentários
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Por que, enquanto de esquerda, não votarei ou farei campanha para Fernando Haddad no primeiro Turno

Por Breno Pascal de Lacerda Brito

Não posso discordar que o Haddad é um bom quadro político, nos limites de seu liberalismo civilizatório. Seria uma escolha bastante prudente (e talvez aconselhável em meio aos limites eleitorais da democracia burguesa) em uma época de bonanças, onde pudéssemos focar nossas preocupações e forças nas agendas civilizatórios que ele tão bem representa (apesar de não ser nem de longe o único nelas) e as agendas trabalhistas e econômicas de esquerda fossem asseguradas. Porém há um problema nisso, não estamos em época de bonanças, pelo contrário, enfrentamos a pior crise político-econômica da história desse país. E em parte por conta do partido que o Haddad representa (os erros crassos do PT são culpa dele).

Talvez este seja o primeiro motivo do porque não daria meu voto a Haddad nesse momento. O PT de maior partido de massas do ocidente se tornou apenas uma sigla eleitoral do Lulismo. Lulismo esse que já se mostrou inúmeras vezes desde 2002 ter mais compromisso com a manutenção do poder do que a responsabilidade proletária que ele representa.

Da carta ao povo brasileiro em 2002, a completa traição ao programa eleitoral eleito em 2014, o PT se mostrou mais comprometido em salvar os anéis do que a mão. É interessante dizer que temos o mais radical programa eleitoral do PT desde 89, porém, muitas das ações são as mesmas prometidas desde 89 e que nunca foram compradas para a luta com o PT no governo, mesmo no auge da popularidade e apoio do PT. O que nos faz acreditar que agora será diferente? Na verdade, é difícil acreditar nisso, até mesmo porque o próprio Lula (que nunca desfez as ações deletérias do FHC), antes do início da corrida eleitoral, dizia que não ia fazer governo olhando para atrás, e não ia se comprometer a desfazer as atrocidades do Temer (1). A posição muda ao ver que essa tinha se tornado a principal pauta dos pré-candidatos a esquerda, e ai o PT diz o mesmo. Interessante notar que mesmo dizendo o mesmo, eles ainda se igualam ao prometer que terá que haver reformas, apenas diferentes das de Temer. Me preocupa saber quão diferentes serão, dado as últimas atuações do PT, voltando a fazer acordos com todos os partidos que o golpearam (2). E do que o PT/CNB tá disposto a abrir mão para a viabilidade de ser governo não é pouco, ao ponto de ir ao sacrifício da eleição certa de quadro orgânico forte do partido em Pernambuco (3), a tirar o cargo de candidato ao senado do PCdoB para dar a bolsonarista no Amazonas (4).

E se essa confiança era limitada com Lula, uma criatura política sem precedentes e com todo apoio popular, com Haddad, um tecnocrata, me deixa muito mais cabreiro. Isso sem falar o que Haddad representa. Como já disse ele é um tecnocrata preocupado com uma gestão civilizada e não necessariamente com as demandas populares – assim as disputas internas que o executivo irá obrigá-lo assim sempre saberemos qual lado ele vai pender. Não à toa ele ficou no mesmo barco que Alckmin quando teve que lidar com as manifestações (ainda não cooptadas) em 2013 (5). Esse lado tecnocrata do Haddad é realçado pelo seu caráter liberal. O qual ele não nega e reproduz com todo o debate de patrimonialismo e outras coisas que vê o Estado como algo que mais atrapalha que ajuda. É interessante notar os mitos liberais que ele reproduz e que só funcionam em países imperialistas, porque eles tem os países pobres para sugar os recursos. Uso o mito de atrair investimento privado como exemplo, coisa que nunca ocorre, a não ser quando o Estado gera renda e capital de giro. Austericidio só favorece enriquecer sem risco os já ricos. Nesse exemplo é bom lembrar que os outros candidatos ditos a esquerda são muito mais pé no chão e anti-liberais – Ciro fala abertamente que isso é balela de liberal (6). Outra questão do liberalismo de Haddad é o quanto ele evita assuntos espinhosos e compromissos que ferem a conciliação do Lulismo enfraquecido (7). Isso atrelado a uma visão de que as elites modernas devem salvar o mundo e não o povo organizado (8).

O liberalismo do Haddad não para ai, e ele claramente já é visto com melhores olhos aos empresários donos do mundo (9) aos quais procura fazer agenda em comum no camarote (10), enquanto o partido (demagogicamente, possivelmente) esbraveja contra no palco (11).

Não consigo ver com confiança isso em um liberal que é vinculado a uma think tank associada as piores think tanks liberais do mundo (12). E que possivelmente irá, como Dilma fez em 2014, colocar um neoliberal de vínculos com os bancos privados (e com o Palocci) para coordenar a economia do Brasil (13). E como bom liberal ele defende a atualização do legislação trabalhista (14), o empreendedorismo como solução para a pobreza nas favelas e tangencia quando perguntado se start-up poderia não seguir a legislação trabalhista (15).

Outra questão sobre o Haddad, que estranhamente a militância do PT se nega a lembrar, é que dos grandes nomes do PT ele foi um dos poucos que não condenou o Golpe de forma mordaz (16). Colocou panos quentes, até por que sabia que o partido não podia perder seus aliados. Diferente dos outros candidatos da “esquerda” que a militância tira para Cristo.

E essas posturas do Haddad podem ser vistas em sua administração. Mesmo que elogiáveis, elas não são imunes a essas críticas de compromisso com um projeto liberal (mesmo que civilizador) em um país dependente como os Brasil. A frente do Ministério da Educação foi um dos grandes mentores da expansão da privatização do ensino superior no Brasil. Se não privatizando diretamente as IES públicas, privatizando e priorizando a transferência de renda aos grandes fundos de investimento privado, que administram faculdades privadas de baixíssima qualidade (17). Não foi diferente enquanto prefeito. Centralizou suas políticas em PPPs, nas regiões centrais da cidade. Não só pouco fez pela periferia, como adotou caráter higienista, atacando a população em condição de rua e favorecendo a morte de frio de pelo menos sete pessoas (18). Prioridade essa não só que fez com que ele perdesse de forma ridícula para Dória no primeiro turno, como favoreceu a despolitização da população trabalhadora periférica (19). Atitude que não está na conta apenas do prefeito, mas que é cartilha do PT desde 2002 e da carta ao povo brasileiro.

Por esses motivos, não acho que Haddad seja um voto útil enquanto eleição de um projeto que possa favorecer o Brasil. Isso porque ele não representa um projeto que historicamente tira países da crise, que é o desenvolvimentismo-nacionalista (ou a revolução). Claro, que frente a um proto-fascista como Bolsonaro/Mourão, um liberal é sempre uma opção menos pior. Mas liberais também são a causa dos proto-fascistas e seu governo tende a não ser o melhor aos trabalhadores. Haddad está mais próximo de Macron (em uma situação de bonança estaria mais próximo de Trudeau) do que de Sanders. E Macron está a rifar os trabalhadores. E apesar da base do PT (que não é Haddad) e compromisso com as massas, a história recente nos mostra que quando a água bate na bunda, o PT tem maior compromisso por se manter no poder. Talvez vendo que a população se cansou desse conciliacionismo social-liberal, eles voltem a ser um partido proletário (mesmo que não revolucionário).

Breno Pascal de Lacerda Brito

Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Bahia.
Mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências – UFBA/UEFS
Doutorando em Ensino, Filosofia e História das Ciências – UFBA/UEFS
Laboratório de Ensino, História e Filosofia da Biologia – LEHFBio – IBio – UFBA (Salvador – Ba)

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

hocuspocus

28/09/2018 - 19h06

Mais um “intelectual” a cometerbo erro de esperar de um partido de CENTRO,atitudes e posturas de um partido de esquerda.
Por que será tão difícil entender que os pts são de centro??? Já no 1° governo Lula que levou Meirelles ao BC e Alencar ,empresário, como vice ,foram claras mensagens da postura do seu governo.
Até porque o PT é um partido personalista que reflete a figura do seu líder,ele é um conciliador ,portanto…
chega de balela intelectual.

Serg1o Se7e

25/09/2018 - 09h32

Muito bom texto. Com referências e tudo mais!

Mas ele deve estar errado. Certos estão os doutores em blogue Marcus Padilha e Tadeu.

Francisco

24/09/2018 - 17h35

Excelente analise. Muito bom.

Marcus Padilha

24/09/2018 - 16h51

Credo, que análise rasa!

Tadeu

24/09/2018 - 13h33

Como comentarista político, deve ser um péssimo biólogo.


Leia mais

Recentes

Recentes