O Datafolha divulgou, a meia noite de hoje (20), sua mais nova pesquisa de intenção de voto. É o mais abrangente levantamento feito até agora, com 8.601 entrevistas, e o mais recente.
O último Ibope fez 2.506 entrevistas entre os dias 16 a 18.
O Datafolha, nos dias 18 e 19.
O instituto ainda não divulgou, em seu site, o relatório completo, mas é possível acessar todos os dados estratificados através de uma página dinâmica da Folha, que permite cruzar dados.
Neste post, iremos fazer uma análise comparativa entre Ciro Gomes e Fernando Haddad, que disputam uma vaga no segundo turno com Jair Bolsonaro.
Uma das maneiras que me pareceu mais prática e simples de compará-los, num primeiro momento, foi usar o cenário de segundo turno entre eles. É um cenário absolutamente improvável, mas nos permite avaliar o peso e potencial de cada um junto aos diferentes estratos sociais. E também nos dá uma ideia de como a sociedade, de maneira geral, se posiciona perante os dois principais candidatos do campo progressista.
Outra vantagem de analisar este cenário é identificar em quais estratos sociais um está avançando sobre o outro.
Depois de 20 dias de horário eleitoral, sendo duas semanas com Haddad já no papel de candidato a presidente da república, podemos assumir que a maioria do eleitorado já sabe ou está perto de saber quem é o substituto de Lula.
Para verificar por si mesmo, clique na página de gráficos dinâmicos da Folha, e marque a opção “Cenário”. Daí você vai selecionando o campo de “Recortes da pesquisa” que desejar.
Eu printei os gráficos correspondentes a todos os estratos pesquisados, para a gente examinar por aqui um a um. Eles são, por ordem: total, sexo, idade, escolaridade, renda familiar mensal, ocupação principal, região, estado, capital, natureza do município, porte do município, partido de preferência, religião e cor.
É preciso parabenizar o Datafolha, nenhum instituto ofereceu à população, de maneira gratuita e aberta, um conjunto tão rico e detalhado de informações sobre as intenções de voto dos brasileiros. Alguns institutos não divulgam relatórios estratificados de suas pesquisas, o que é lamentável.
No recorte total, Ciro ganha de Haddad por 42% X 31%, com 25% de votos brancos e nulos. Diferença de 11 pontos.
Nesta eleição, a questão de gênero se tornou importante, em especial por causa do profundo corte revelado no eleitorado de Bolsonaro, extremamente concentrado em homens, então é preciso olhar sempre o tamanho de cada candidato entre homens e mulheres. Os eleitorados de Ciro e Haddad são equilibrados na questão gênero, mesmo assim, vamos olhar os gráficos.
Entre homens, a vantagem de Ciro sobre Haddad é de 14 pontos.
Entre mulheres, a vantagem de Ciro é menor, 9 pontos: 41% X 32%.
Na faixa mais jovem do eleitorado, até 24 anos, Ciro Gomes vence por 44% a 36%, com 17% de votos brancos e 3% de indecisos. Uma diferença de 8 pontos. É interessante notar o baixo percentual de votos brancos/nulos (17%) junto a eleitores jovens.
Entre eleitores com idade entre 25 a 34 anos, a vantagem de Ciro é de 7 pontos: 40% X 33%.
Entre eleitores com idade de 35 a 44 anos, a vantagem de Ciro cai para 6 pontos: 38% X 32%, com uma quantidade relativamente alta (28%) de votos brancos/nulos.
Entre eleitores com idade de 45 a 59 anos, a vantagem de Ciro aumenta para 15 pontos: 43% X 28%.
Entre eleitores com mais de 60 anos, Ciro tem sua maior vantagem em relação a Haddad, 22 pontos: 46% X 24%. Nessa faixa, Haddad perde para nulos e brancos.
Entre eleitores com ensino fundamental, a vantagem de Ciro sobre Haddad, num eventual segundo turno entre os dois, é de 12 pontos: 43% X 31%.
Entre eleitores do ensino médio, Haddad melhora seu desempenho, mas ainda perde de Ciro por 7 pontos: 43% X 33%.
Entre eleitores com ensino superior, a vantagem de Ciro é maior, 19 pontos: 44% X 25%. Haddad perde para votos nulos e brancos, que atingem 29%.
No recorte por faixa de renda familiar, Haddad tem o seu melhor desempenho entre os mais pobres, onde pontuou 36% dos votos num eventual segundo turno. Ainda sim, perde de Ciro, que tem 40% entre os eleitores que ganham até 2 salários. Uma diferença de 4 pontos, o que configura quase um empate.
Conforme a renda cresce um pouco, porém, a rejeição ao PT nas camadas médias se faz presente, e Ciro amplia sua vantagem sobre Haddad. Entre quem ganha de 2 a 5 salários, por exemplo, Ciro já tem 44% das intenções de voto, contra 28% de Haddad, que empata com o percentual de nulos e brancos, 26%.
Entre quem ganha de 5 a 10 salários, Ciro Gomes tem 42% e Haddad 25%, com 32% dos eleitores votando nulo ou branco.
Na faixa de renda mais alta da pesquisa, a de eleitores com renda familiar superior a 10 salários, Ciro abriu uma vantagem de 25 pontos: 46% X 21%. Haddad perde aqui, novamente, para os nulos e brancos, que atingiram 30%.
No gráfico de ocupação, a votação dos dois candidatos foi a seguinte: entre a população economicamente ativa, deu Ciro 41% X 31% Haddad; entre a economicamente não ativa, o placar foi de 45% X 28%, também com vantagem para o pedetista.
Agora vamos ver a disputa nos cenários regionais.
No Sudeste, Ciro ganha de Haddad por 41% X 28%. Há ainda 28% de votos nulos e brancos.
No Sul, Ciro pontua 42%, Haddad 23%, e 30% dos eleitores optam por votar nulo ou em branco, além de 5% de indecisos.
Haddad tem sua melhor performance no nordeste, onde ele pontuou 39%, mas ainda assim fica atrás de Ciro, que tem 43% na região. Um total de 17% dos eleitores respondeu que votaria nulo ou branco.
No centro-oeste, a pontuação de Haddad é baixa no segundo turno, 25%, abaixo dos 30% que responderam que votarão nulo ou branco. Ciro tem 42% na região.
Na região Norte, o placar ficou em 44% X 32%.
O Datafolha traçou ainda cenários para os estados de São Paulo, Rio, Minas, Distrito Federal e Pernambuco, mais outros cenários para as respectivas capitais. Vamos aos estados.
No estado de São Paulo, Ciro venceria Haddad por 42% a 29%. Outros 27% declararam votar nulo ou branco.
No estado do Rio de Janeiro, a votação ficou em Ciro 43% X 23% Haddad, com 31% de votos nulos e brancos.
Em Minas Gerais, Haddad melhora sua performance e pontua 31%, sete pontos atrás de Ciro, que tem 38% no estado.
No fortemente antipetista Distrito Federal, o ex-prefeito de São Paulo tem apenas 22% no segundo turno, contra 45% de Ciro Gomes. 30% dos entrevistados responderam que votariam nulo ou branco.
A melhor performance de Haddad se dá em Pernambuco, terra natal de Lula, onde ele pontua 39% pontos, contra 38% de Ciro. Outros 21% escolheram voto nulo ou branco.
Vamos às capitais.
Em São Paulo, capital, onde Haddad é mais conhecido e foi prefeito, o quadro ficou assim: Ciro 40% X 35% Haddad, mais 25% de votos nulos e brancos.
No Rio de Janeiro, a vantagem de Ciro é de 17 pontos: 42% X 25%, com 31% de votos nulos e brancos.
Em Belo Horizonte, o placar ficou em 42% X 27% para Ciro, com 30% de votos nulos e brancos.
Em Recife, Ciro e Haddad empatam em 35% X 34%.
No recorte que engloba capitais e regiões metropolitanas, o quadro ficou assim: Ciro 42% X 29% Haddad, com 28% de votos nulos ou brancos.
Nas cidades de interior, Haddad tem um desempenho um pouco melhor, embora ainda fique 10 pontos atrás de Ciro num eventual segundo turno disputado com ele.
Nas cidades com até 50 mil habitantes, Haddad pontuou 35%, contra 41% de Ciro.
Nos municípios um pouco maiores, entre 50 e 200 mil habitantes, o placar ficou em 41% X 30%, com vantagem de 9 pontos para Ciro. Outros 26% declararam voto nulo ou branco.
Entre cidades com mais de 500 mil habitantes, o placar ficou em 41% X 28%, com 29% de votos nulos ou brancos.
Agora vamos entrar numa parte muito interessante da pesquisa. Como votam os eleitores de acordo com sua simpatia partidária. Vamos analisar os cenários entre simpatizantes de PT, PSDB, PMDB, PSOL e os sem partido (maioria).
Mesmo que os percentuais de eleitores simpatizantes dos partidos menores não seja significativo, suas intenções de voto nos ajudam a ver para onde estão indo as correntes de ideias que eles representam. É um voto mais politizado também, o que nos ajuda a entender como está pensando a parcela da população mais conectada aos embates políticos, tanto que o percentual de votos brancos, nulos ou indecisos nesses gráficos é insignificante.
Entre eleitores simpatizantes do PT, 69% declararam voto em Haddad, outros 25% em Ciro.
Entre eleitores do PSDB, 61% preferem Ciro Gomes, contra 19% que declararam voto em Haddad.
Entre simpatizantes do MDB, 55% declaram voto em Ciro, e 19% em Haddad; outros 24% prefeririam votar nulo ou branco.
Entre simpatizantes do PDT, 81% votariam em Ciro, contra 10% Haddad.
Entre eleitores do PSOL, 54% escolhem Ciro, contra 40% Haddad.
O PCdoB não é mensurado no Datafolha, mas há um gráfico sobre o voto do eleitor de “outro partido”. Neste segmento, o placar é de 49% X 24%, com vantagem de Ciro. Neste caso, há um número grande votos brancos ou nulos: 26%.
Entre os eleitores que declararam não ter nenhuma preferência partidária, o placar ficou 44% para Ciro e 21% para Haddad. Outros 31% declararam votar em branco ou nulo.
O Datafolha traz ainda a estratificação por religião e cor, mas paramos por aqui.