Havia um tempo em que existiam as pessoas escolhidas por Deus para governar os demais e usufruir da riqueza. Ou ao menos era essa a história que as “famílias reais” contavam para justificar a hereditariedade do exercício do poder.
Ao resto da população restava obedecer. Eram, não por acaso, chamados de servos.
De lá para cá a humanidade evoluiu e, percebendo que os seres humanos são, em essência, todos iguais, passou a, na maioria dos países, escolher os governantes por meio do voto universal.
Afinal, se “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, não faz sentido que alguns poucos iluminados se autointitulem como os manda-chuvas.
Nem todos percebem, entretanto, essa singela lógica. O general Mourão, vice candidato na chapa do Bolsonaro, é um destes.
Ele defendeu, ontem (13), que uma “comissão de notáveis” faça uma nova Constituição para o nosso país. A população não elegeria esses notáveis, mas apenas aprovaria ou não o texto em um plebiscito.
“Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo”, disse o simpático general.
Essa frase provoca, de cara, uma óbvia questão: quem escolheria os constituintes, se não for o povo?
Suponho que Mourão acredite ser um dos capacitados para escolher os tais “notáveis”. Ou ele mesmo pensa ser um dos notáveis, quem sabe? Todo autoritário é, afinal, um ególatra.
De qualquer forma, não me parece prudente deixarmos Mourão escolher todos os notáveis. Como faríamos, então?
Quem sabe uma eleição para escolher aqueles que, por sua vez, indicariam os notáveis que fariam a Constituição? Mourão provavelmente consideraria que o povo ainda está muito próximo do processo…
Talvez uma eleição para elegermos aqueles que escolheriam outros que indicariam os notáveis que, aí sim, fariam a nossa Constituição? Ficou um pouco confuso…
Bom, se a ideia é impedir que o povo escolha os que vão fazer a Constituição do seu próprio país (!), de repente chutamos o balde e deixamos o próprio Mourão fazer a nova Constituição.
Depois é só mandar a Constituição do Mourão a plebiscito. Para evitar que o populacho faça besteira, as duas opções de voto seriam: “sim” ou “não, mas tudo bem, fazer o quê?”.