Como somos um país cristão, Deus acima de tudo. Não tem essa história, essa historinha de Estado laico não. É Estado cristão. E quem for contra que se mude. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. As leis devem existir para defender as maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desapareçam.
Jair Bolsonaro é o autor das palavras acima. Proferiu-as em Campina Grande/PB (veja o vídeo).
A defesa de um “Estado cristão” é extremamente autoritária. Existindo inúmeras religiões e, em virtude disso, pessoas com diferentes religiões, um Estado que se pretende democrático deve, obviamente, se abster de adotar alguma específica, garantindo que todos possam livremente escolher e professar as suas crenças.
Querer impor uma religião como a oficial é a consequência do desejo de dominação expresso na frase “As minorias têm que se curvar às maiorias”.
Se curvar?
Queremos uma sociedade em que todos convivam em paz e tenham direito a exercer a sua liberdade religiosa – e todas as outras liberdades pessoais – ou uma em que alguns tem que “se curvar” a outros, como se estes fossem melhores que aqueles?
Se as minorias não se adequarem, Bolsonaro dá o comando: “simplesmente desapareçam”.
Como as minorias vão desaparecer, caso não adotem a conduta determinada pelo nosso projeto de führer? Devem fugir do país? Caso não o façam, o que acontece?
Bolsonaro deu uma pista em discurso recente, no Acre. Após simular, segurando um tripé de câmera, estar atirando com uma metralhadora (vídeo aqui), ele diz o seguinte:
Vamo fuzilar a petralhada aqui do Acre. Vou botar esses picaretas pra correr do Acre. Já que eles gostam tanto da Venezuela, essa turma tem que ir pra lá. Só que lá não tem nem mortadaela, hein galera. Vão ter que comer é capim mesmo, hein.
Para Bolsonaro, assim como os não cristãos – nem vou entrar aqui na questão de que tudo o que o candidato diz é antagônico ao que pregava Jesus Cristo -, a “petralhada” também deve desaparecer.
Enquanto Hitler adotava principalmente câmaras de gás para fazer com que as minorias indesejadas desaparecessem, Bolsonaro sugere o fuzilamento. A diferença, como se vê, é apenas o método.
Sua assessoria afirmou que foi uma “brincadeira”. Brincadeira que faz com que pessoas sintam-se à vontade para ameaçar, agredir ou mesmo atirar em outras pessoas apenas por pensarem diferente não é brincadeira coisa nenhuma.
É incitação ao crime. Ódio em estado puro, oriundo de uma ideia de supremacia que a humanidade já viu no que dá. O horror nazista do holocausto não foi o suficiente para que aprendamos?
A exaltação ao torturador Ustra e os absurdos proferidos contra mulheres, gays e negros – outras minorias que devem desaparecer ou serem fuziladas, quem sabe? – apenas reforçam a macabra semelhança entre Jair Bolsonaro e Adolf Hitler.
Portanto, não é exagerada, de forma alguma, a definição de Ciro Gomes: Bolsonaro é, sim, um projeto de Hitler tropical.
Tenhamos paciência e sabedoria para conversar com seus potenciais eleitores e evitar, assim, um desastre de proporções inimagináveis.