Por Wanderley Guilherme Dos Santos
Blog Segunda Opinião
Os eleitores em busca de informações alternativas à imprensa tradicional terminam contaminados pela algazarra de blogues mistificadores. Nascidos para corrigir desvios profissionais dos jornalões, os blogueiros partidários copiam todos, aprendidos em seus tempos de William Bonner: omitem dados, deturpam acontecimentos, divulgam falsidades e, sobretudo, não deixam ninguém contrariá-los. Até os debates são forjados: a própria turma e convidados bem escolhidos promovem a farsa de estarem todos de acordo.
A corrida eleitoral é a pauta para difusão de patranhas. Os números servidos aos leitores, resultado de cálculos aberrantes sobre dados torturados, falsificam o andamento real da competição. Embora sujeita a mudanças, é possível demonstrar que a atual intenção do eleitorado difere largamente do que jornalistas profissionalmente engajados transmitem a crédulos leitores.
É quase certo que Lula não será candidato. De acordo com declarada estratégia do PT, a manutenção de seu nome tem por objetivo a transferência de seus eleitores para o sucessor, Fernando Haddad. Para tanto, o ânimo petista é ativado por números de Lula, soma de sua votação histórica e acréscimos compensando as injustiças sofridas. Mas quando se limitam àqueles que serão candidatos, os números da última pesquisa do IBOPE, em meados de agosto, revelam um quadro não tão claramente favorável a tais ambições.
As intenções de voto, computadas por estado, indicam que os três primeiros lugares são ocupados, na ordem, por Bolsonaro, Marina e Ciro. Exceções ocorrem na Bahia, Maranhão, Pernambuco, Pará, Sergipe, Amapá e Alagoas, nos quais Marina aparece à frente dos outros dois; nos estados do Ceará e Piauí, em que Ciro assume a dianteira, e no solitário Paraná, com Álvaro Dias à frente dos outros três.
O segundo grupo pertence a Geraldo Alckmin, ou vice-versa, virgem sequer de um único primeiro lugar. Pouco provável que continue assim, mas o tempo encurta, acacianamente, a cada dia, e sua plataforma de lançamento só contabiliza um segundo lugar em São Paulo e Mato Grosso, além de um empate em quarto lugar com Ciro, no Paraná. Em todas as demais unidades da federação ele monopoliza o quarto lugar.
Haddad, estrela da vez, obtém no Piauí sua melhor marca: 6% das intenções de voto. Conquista 5% na Bahia e em São Paulo, e 4% em cinco estados: Rio de Janeiro, Paraíba, Maranhão, Pernambuco e Rio Grande do Sul. No Distrito Federal e nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Sergipe e Santa Catarina, Haddad não ultrapassa 3% das intenções de voto, enquanto em outros nove estados recebe não mais do que 2%: Paraná, Acre, Espírito Santo, Tocantins, Goiás, Rio Grande do Norte, Amapá, Ceará e Alagoas. Roraima e Amazonas lhe concederam 1% das preferências de voto.
Nesta pesquisa o IBOPE não forneceu os resultados de Minas Gerais, mas julgo válido concluir que Geraldo Alckmin necessita de um sobre esforço para alcançar um dos dois primeiros lugares. A distância que o separa do terceiro lugar de Ciro Gomes não é excessiva em alguns estados. Ocorre não haver o que impeça Ciro Gomes alcançar o segundo lugar, hoje com Marina, pois as distâncias entre os dois também não são insuperáveis.
O desafio que defina, talvez, a Presidência, consiste em descobrir a quem pertencem, de fato, os votos prometidos a Jair Bolsonaro. E se, contra toda lógica elementar, sejam mesmo dele esses votos encapuzados, azedos, noturnos?
Por fim, fica mapeado o tamanho da transferência das intenções de votos em Lula para efetiva votação em Haddad. Se o comando petista dispõe de informações estimulando o otimismo agressivo de seus militantes, essas não aparecem nos blogues, ocupados com fantasias embriagantes.
Para mim, esses números ainda não fazem sentido e muita água está por correr. Mas não pelos canais da internet.