O Datafolha divulgou há pouco o relatório completo de sua pesquisa de intenção de votos para presidente da república.
Vamos à nossa análise.
Uma das primeiras tabelas nos ajuda a entender com mais clareza a força avassaladora da candidatura Lula.
Ele é o único candidato realmente “conhecido” por todos os brasileiros. Apenas 1% dos entrevistados disseram que não o conhecem.
Entre os candidatos mais conhecidos, além de Lula, estão, por ordem: Marina Silva (apenas 7% não a conhecem ), Geraldo (12% não o conhecem), Ciro (18% não o conhecem), Bolsonaro (21% não o conhecem).
Olhando mais de perto a tabela, ninguém chega perto do ex-presidente: 69% dos entrevistados responderam que conhecem Lula “muito bem” . Para efeito de comparação, o segundo lugar nesse quesito, Jair Bolsonaro, tem apenas 24% de “conhece muito bem”.
A intenção de voto espontânea de Lula disparou em relação à última pesquisa, provavelmente em virtude do registro da candidatura do ex-presidente. A pontuação dos candidatos mostra um processo eleitoral extremamente polarizado em dois campos opostos: lulismo x Bolsonaro. Os candidatos da direita foram absorvidos por Bolsonaro, os de esquerda, por Lula.
O apoio do ex-presidente Lula a um candidato ainda sofre forte rejeição: 48% responderam que não votariam “de jeito nenhum” num candidato apoiado por ele. Mas os números estão melhorando.
Uma parte crescente do eleitorado lulista parece já estar assimilando quem será o candidato apoiado por Lula. O eleitor lulista, que migrava para Marina e Ciro, começa a voltar os olhos para Haddad.
Agora vejamos as tabelas com a pesquisa estimulada. Eu fiz marcações em azul para os dados positivos para os candidatos, e vermelho para os negativos.
O primeiro dado a ser destacado, apesar de óbvio, é que Lula está 20 pontos à frente do segundo colocado, Bolsonaro: 39% X 19%.
Lula mantém uma maioria folgada entre o eleitorado com renda até 5 salários; a partir daí, perde feio para Bolsonaro.
Entre os mais pobres, que ganham até 2 salários, Lula tem 49%, contra 11% de Bolsonaro.
A força de Lula entre a juventude até 24 anos, já mostrada no Ibope, se confirma na pesquisa Datafolha: o ex-presidente tem 43% dos votos nesse segmento, contra 24% de Bolsonaro.
Lula é um fenômeno da Natureza, não há nem o que discutir muito sobre ele.
O que deveria preocupar o campo progressista é Haddad. O petista ainda está alarmantemente fraco nas pesquisas, com apenas 4%, apesar de muita gente já saber que ele será o candidato apoiado por Lula quando o TSE negar o registro do ex-presidente.
Entre o eleitorado menos instruído, que é onde Lula tem mais força, Haddad tem apenas 2%. Entre mais pobres, 3%.
Para efeito de comparação, Marina Silva tem 18% entre o eleitorado que tem apenas até o ensino fundamental; Bolsonaro 13% e Ciro 11%.
O eleitorado que tem até o ensino fundamental, segundo a base usada pelo Datafolha, representa 36% do eleitorado. Considerando apenas o eleitorado lulista, os votantes com instrução até o ensino fundamental, representam 46% de todas as intenções de voto do ex-presidente.
Esse é o maior desafio do PT: convencer o eleitor menos instruído, beirando o analfabetismo, que Haddad é o candidato de Lula.
A tabela abaixo confirma os temores já trazidos acima. Haddad tem alguns pontos fracos importantes. O ex-prefeito tem apenas 2% na região Sul, 1% no Centro Oeste e 2% no Norte. No Rio de Janeiro, Haddad tem apenas 3%.
A força de Bolsonaro é maior na região Sul, onde ele tem 30% dos votos, no cenário sem Lula.
A tabela abaixo, com o desempenho dos candidatos nas capitais, reitera uma realidade que sempre achei curiosa e divertida: o mau desempenho dos tucanos no Rio de Janeiro.
Com Lula, Geraldo Alckmin tem apenas 2% no Rio, capital. Sem Lula, ele oscila para 3%
Haddad também é bem ruinzinho no Rio: 4%. O melhor desempenho de Haddad é na capital paulista, onde tem 10%, abaixo de Bolsonaro (22%) e Marina (16%).
Ciro Gomes, por sua vez, tem o seu melhor desempenho na cidade maravilhosa: 13%.
A tabela da rejeição, estratificada, mostra porque Lula está preso e não deve obter seu registro eleitoral: ele continua sendo execrado pela elite.
Eu fiz uma tabelinha, com os números usados como base pelo Datafolha, para o leitor entender a proporção dos segmentos de renda na população total.
Como se vê, a população que ganha acima de 5 salários representa cerca de 14% da população total. Os que ganham mais de 10 salários de renda familiar, apenas 4%. Este setor da elite ainda guarda uma rejeição muito alta a Lula: 55% dos entrevistados disseram que não votariam “de jeito nenhum” no ex-presidente.
Entre os mais pobres, todavia, a rejeição a Lula é baixa, apenas 24%.
Bolsonaro, por outro lado, tem alta rejeição entre os mais pobres (41%), mulheres (43%) e jovens até 24 anos (46%).
Além de Bolsonaro e Lula, os outros candidatos tem rejeição relativamente baixa, e bem distribuídas entre os diferentes estratos sociais.