É razoável supor que há, dentre o portentoso – e crescente – número de eleitores que pretendem votar em Lula, dois grupos.
O primeiro percebe a sua condenação e prisão como injusta e como um instrumento para retirá-lo da disputa eleitoral. Para este grupo, é óbvio que a insana ofensiva do Judiciário e da grande mídia contra o ex-presidente não tem nada a ver com combate ao crime – e tudo a ver, para ficarmos no jargão global, com perseguição política.
O segundo grupo é composto de pessoas que até acreditam na sinceridade da propalada cruzada contra a corrupção empreendida pela Lava Jato sob o foguetório da Globo. Entretanto, mesmo estes não compram a balela de que a corrupção é o grande problema do nosso país. Do contrário, não votariam em Lula, “o chefe do esquema”.
Há aqui também um previsível efeito colateral da eterna campanha antipolítica levada à cabo pela mídia: se política e corrupção são inseparáveis, como quer fazer parecer a lavagem cerebral diária dos jornais e telejornais, melhor votar no corrupto em cujo governo a vida melhorou, não é mesmo?
O fato é que ambos os grupos de eleitores não foram convencidos pelo massacre jurídico e midiático imposto a Lula. Este está preso e sem poder falar com o povo (a não ser por cartas) desde o último dia 7 de abril.
Mesmo assim, os percentuais de Lula subiram acima da margem de erro nas pesquisas Ibope e Datafolha recém divulgadas. Os adversários estão estagnados. Os números de Lula quase chegam a dar-lhe a vitória no primeiro turno, sendo que ele bate todos os adversários nas simulações de segundo.
Trata-se de mais um feito invulgar do retirante nordestino que chegou à presidência: disparar na liderança da corrida eleitoral isolado em uma cela, enquanto os outros candidatos fazem campanha. Um fenômeno.
Há uma conclusão cristalina que emerge deste quadro.
A máquina de moer gente composta pela mídia e pelo Judiciário consegue manipular parte da classe média e alta por meio do ódio e do preconceito.
O povão, por sua vez, é duro de enganar.
Resta à direita aprofundar o seu golpismo atávico. A Justiça de São Paulo recebeu denúncia por improbidade administrativa contra Haddad, ontem, tornando-o réu. O timing político do Judiciário para atingir o PT continua afiado.
Nas urnas, a coisa está cada vez mais complicada para a turma que não é muito chegada nessa coisa de povo e democracia.