Haddad reiterou diversas vezes, em entrevista concedida na última madrugada ao Canal Livre, da Band, que não trabalha com a hipótese de a condenação de Lula ser mantida nos tribunais superiores.
A argumentação jurídica é cristalina, já que Lula foi condenado sem provas e por um esdrúxulo “ato indeterminado” de corrupção.
No campo da realidade política, no qual o Judiciário vem atuando parcial e desavergonhadamente, Haddad, o PT, eu, você e até aquele seu tio reaça que se informa politicamente por páginas obscuras do Facebook e correntes do WhatsApp sabemos que é quase impossível uma reversão da sentença de Moro, assim como que Lula possa ser candidato.
Diante dessa realidade inescapável, a estratégia petista – seguir com o discurso de que confia na absolvição e, portanto, na manutenção da candidatura Lula – tem o claro objetivo de constranger o Judiciário e deixar o mais evidente possível o caráter político da condenação, prisão e impedimento eleitoral do líder das pesquisas.
A partir disso, desenham-se três cenários possíveis (com informações da BBC Brasil):
1) Lula considerado inelegível antes de 17 de setembro:
Nesse caso, o PT deverá simplesmente substituir Lula por Fernando Haddad, com Manuela d’Ávila na vice, já que 17 de setembro é o prazo final para que os partidos troquem seus candidatos. Trata-se do melhor – ou menos pior – cenário para o PT, que terá levado até o limite a candidatura de Lula e ainda terá algum tempo para divulgar o nome de Haddad como o candidato oficial do partido e representante de Lula. Hadadd perderia, em tese, apenas um dos seis debates televisivos restantes.
2) Lula considerado inelegível após 17 de setembro mas antes da eleição:
Poderá acontecer se o TSE não conseguir – ou não quiser – colher as provas e julgar as impugnações à candidatura Lula até 17/09. Nessa hipótese, o nome e a foto de Lula aparecerão na urna, mas seus votos serão considerados nulos e irão para o segundo turno o segundo e terceiro colocados nas eleições, já que só uma hecatombe impede Lula de ficar em primeiro se puder ser candidato. Os votos também serão anulados caso Lula seja declarado inelegível entre o primeiro e o segundo turno, substituindo-se Lula pelo terceiro colocado. É, paradoxalmente, a maneira mais segura e mais perigosa de o Judiciário impedir a volta do PT ao poder central. Segura porque jogaria no lixo os votos de Lula enquanto ao mesmo tempo em que mataria a hipótese de o PT ganhar a eleição com um substituto de Lula; perigosa porque escancararia ainda mais – sim, isso é possível – que estamos sob um golpe e que a prisão de Lula faz parte dele. Se o dia 17/09 se aproximar sem que o TSE tenha decidido a questão, o PT terá que pensar seriamente em substituir Lula antes do prazo final para tal ou correr o risco de ficar sem candidato na urna.
3) Lula considerado inelegível depois da eleição:
Nesse caso serão convocadas novas eleições diretas. Ou seja, caos.
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Além da afirmação da estratégia do PT em relação à candidatura Lula, Haddad mostrou, na entrevista ao Canal Livre, que é um “poste” muito mais qualificado, politicamente, que Dilma Rousseff.
Respondeu às questões com desenvoltura e segurança, fugindo bem das cascas de banana dos entrevistadores. É um bom orador, fala calmamente e com fluidez. Rebateu bem, inclusive, quando perguntado sobre a possibilidade de ser chamado de “poste do Lula”: “Eu acho que eu tenho um currículo que não sei se eles estão à altura de criticar.”