Por Theófilo Rodrigues
Após um fim de semana de idas e vindas as chapas que disputarão a eleição de outubro finalmente foram estabelecidas.
Salvo engano, a disputa presidencial de 2018 contará com 13 candidatos. Pela esquerda serão cinco postulantes: Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), João Goulart Filho (PPL), Guilherme Boulos (PSOL) e Vera Lúcia (PSTU). Pela direita, Marina Silva (REDE), Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (PODEMOS), João Amoedo (NOVO), Daciolo (PATRIOTA), Henrique Meirelles (MDB) e Eymael (PSDC).
As pesquisas de intenções de votos, ainda muito incipientes, sugerem que cinco desses nomes sejam os que realmente disputarão as duas vagas do segundo turno: Ciro, Haddad, Marina, Bolsonaro e Alckmin. Quem desses nomes chegar em outubro com aproximadamente 20% dos votos válidos estará no segundo turno. Apesar da indefinição no cenário, há tendências.
Em todas as eleições da Nova República, o candidato com maior tempo de televisão esteve no segundo turno da disputa presidencial. Se esse é um critério suficiente, então Geraldo Alckmin já tem uma vaga garantida nesse segundo turno. Mas sabemos que tempo de televisão por si só não basta. Mais do que isso, o tucano paulista conta ainda com uma poderosa coligação partidária formada por PSDB, DEM, PP, SDD, PSD, PRB, PTB, PPS e PR o que lhe garante ramificação por todo o país. Em particular no centro-oeste, no sul e no sudeste, onde essa coligação deverá eleger a maior parte dos governadores.
Essas mesmas pesquisas indicam que se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pudesse ser candidato, seria o mais votado no primeiro turno da eleição. Seu governo conquistou os melhores índices de avaliação da história política do país e isso ainda se faz presente na memória do eleitorado. Mas Lula está em uma cela em Curitiba. Em quem seu eleitorado votará?
O lulismo, expressão cunhada por André Singer, caracteriza os governos de Lula e o primeiro de Dilma, da seguinte forma: trata-se de uma forma de fazer política baseada em um reformismo fraco, capaz de criar políticas de redistribuição de renda, em particular para as parcelas mais pobres da população, sustentado por uma ampla base de governo no Congresso Nacional, que vai da esquerda à direita do espectro político.
Não obstante a enorme influência que o PT possua, esse eleitorado, em grande parte localizado no nordeste, não é homogeneamente petista, mas sim lulista. Esse eleitorado não está comprometido com uma legenda específica, mas sim com um programa de governo, com uma forma de organizar a política.
Surge daí uma contradição ou um paradoxo imposto pelo rearranjo das forças políticas operado de 2016 para cá. Embora o PT tenha um candidato indicado por Lula, Fernando Haddad, seu programa político e sua coalizão distanciam-se do lulismo. O novo programa do PT, programaticamente mais radical, afasta parcela do centro político de sua candidatura o que está refletido na chapa de sustentação de Haddad: PT, PCdoB, PCO e PROS.
Por outro lado, o candidato do PDT, Ciro Gomes, não conseguiu ser o nome indicado por Lula, mas costurou uma aliança com o centro político capaz de representar o lulismo nessa eleição. Ter Katia Abreu como sua vice torna sua chapa um retrato perfeito do que foi o lulismo. Katia Abreu não representa apenas o principal setor produtivo do país, mas também foi a principal defensora de Dilma Rousseff contra o impeachment de 2016.
Pesa em favor de Haddad o fato de ter o segundo maior tempo de televisão, a indicação de Lula e o apoio de todos os governadores do nordeste. Haddad terá ainda como vice a comunista e feminista Manuela D´Ávila, o que garante um apoio de parcela da esquerda que não tem muitas simpatias pelo PT. Mas não deve ser desconsiderado que uma parcela relevante do lulismo seguirá com Ciro. Se esse cenário de complementariedade do lulismo é real, então a animosidade entre as militâncias dos dois candidatos precisa ser apaziguada, ao menos se quiserem reciprocidade de apoios no segundo turno.
Theófilo Rodrigues é professor do Departamento de Ciência Política da UFRJ.