Esta é a pergunta que os militantes de esquerda devemos nos fazer.
A pista está no Roda Viva da última segunda-feira.
Os entrevistadores – todos jornalistas da grande mídia, cujo candidato é Alckmin – usaram, na maior parte do tempo, os comportamentos preconceituosos e autoritários de Bolsonaro para tentar constrange-lo. O candidato vomitou seu costumeiro bestialógico com toda a segurança do mundo e os entrevistadores, em regra, não souberam replicar com consistência.
A coisa foi diferente quando Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico – o melhor desempenho, com folga, entre os entrevistadores -, perguntou sobre como combater a mortalidade infantil diminuindo impostos. Bolsonaro deu uma bela enrolada e falau na palavra mágica “corrupção”. Maria Cristina insistiu na questão de como cuidar da saúde diminuindo os gastos. Seguiu-se, então, o trecho no qual o “mito” se perdeu bonito:
– Não, olha só, se você reduzir, o que acontece. Não só a Inglaterra… você, você vai conjugar isso daí também, com desburocratização, desregulamentação… Que é um inferno a vida de quem quer empreender no Brasil. Quem tá, em sã consciência quer ser patrão no Brasil? Em sã consciência.
– Eu to falando de saúde, deputado.
– Não, mas peraí, você falou, você falou de economia! Como é que vai reduzir impostos e vai atender a economia.
– Sim, mas eu to falando de saúde.
– Se você por exemplo aumentar o número de empregos no Brasil a tendência de alguém procurar hospital diminui.
Entendeu alguma coisa? Eu também não.
Entretanto, a estapafúrdia resposta de Bolsonaro a uma questão simples difere, em relação aos outros políticos de direita, apenas na qualidade da embromação. Bolsonaro é infinitamente mais tosco e despreparado, mas o método é o mesmo.
Como, afinal, prometer Estado mínimo e austeridade mas, ao mesmo tempo, garantir que vai melhorar a saúde e a educação? A conta não fecha.
Por isso a direita política e midiática sempre cria uma cortina de fumaça para fugir da questão econômica. Por isso os jornalistas que estavam no Roda Viva, todos empregados da mídia conservadora, não apertaram, com raras exceções, Bolsonaro nessa área.
A direita simplesmente não pode revelar que seu projeto econômico convive muito bem com a desigualdade e, portanto, com miseráveis, desvalidos, esfomeados. Com a morte, enfim. É suicídio eleitoral.
Em 2010, a campanha virou uma corrida religiosa, quando até o suposto ateísmo de Dilma Rousseff virou pauta. Em 2014, Aécio Neves, ele mesmo, bradava contra a corrupção.
Bolsonaro tem um arsenal retórico muito maior para fugir do debate econômico, pois personifica, com prazer, os medos e ódios que afligem a espécie humana há milênios.
Cabe à esquerda, portanto, trazer o debate para o cerne do nosso problema: a economia. É o modelo econômico que define se o Brasil vai ter educação, saúde e emprego para todos ou só para uns poucos.
Nessa área não há diferença significativa entre Bolsonaro, Alckmin e Temer – não que haja nas outras áreas para além da pose.
Todos repetem freneticamente, como aqueles bonecos que fazem sons ao se apertar a barriga, os mantras do liberalismo econômico.
A charge do Aroeira acima, com o guru econômico tucano Armínio Fraga guiando os cegos expoentes do conservadorismo, resume magistralmente a coisa.
Exploremos a grande fraqueza de Bolsonaro e seus amigos à destra: seu projeto econômico antipovo.