No blog Segunda Opinião
A ÓPERA TRISTE
31 de julho de 2018
Segunda Opinião
A declaração do Partido dos Trabalhadores de que o candidato indicado será a sombra de Lula é uma declaração indecente. A naturalização da figura de “poste de Lula” como legítimo representante da população é acintosa. Trata-se de convite explícito ao eleitorado a que cooneste uma farsa, descrita com requinte. Segundo membros da Executiva do PT, o indicado terá que ser leal e limitar-se a ser o intermediário da palavra de Lula. Na campanha, dirá que todas as suas decisões serão decisões de Lula. Ora, jamais um candidato das forças populares teve a ousadia de se apresentar como boneco falante. As declarações, transcritas pelo jornalista Luiz Nassif, não foram contestadas.
Dilma Rousseff não foi porta voz de uma pessoa, mas de um projeto de nação. Talvez por isso leia-se em documentos pró-petistas, além de proclamado abertamente em conversas, ter sido ela a responsável pelo desastre do impedimento. Acusam-na de recusar ceder a candidatura, em 2014, ao imputado desejo de Lula de voltar ao poder. Na cegueira do descontrole, a oligarquia do PT não percebe a extensão do insulto com que recompensam a dedicação às causas populares de pessoas íntegras, de respeitabilidade independente de partidos, cujos nomes circulam como possíveis indicações de Lula. Na visão da Executiva do Partido dos Trabalhadores, seriam simplórios candidatos a moços de recado.
Causa amargor reconhecer a vitória dos reacionários curitibanos na tarefa de reduzir a histórica figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à de um obsessivo costureiro de futricas eleitoreiras e justiceiro de medíocres ressentimentos. Só um vírus de paranoia, inoculado pelas estrambóticas sentenças de Sergio Moro, explica o sacrifício de “leais” quadros partidários, como requer a Executiva, buscando, não a vitória, mas a derrota de supostos adversários. Por isso, mas não só, causa embaraço assistir Lula, sempre incorporado como um brasileiro comum, ignorado pelo poder elitista, anunciar em transe a própria transmutação em “ideia”, diante de enorme multidão, ali em apoio a um dos seus, pessoa de carne e osso, mortal como todos nós.
Mas Lula não é uma ideia, Lula é um brasileiro preso injustamente, vítima de notória perseguição política, e ao qual se castrou o direito de participar da vida pública. Razões mais do que suficientes para receber solidariedade ativa, não submissa, dos democratas socialistas e liberais. Restaurar a isonomia política no país, todavia, requer a derrota do continuísmo golpista nas eleições de outubro. Negligenciar a necessária vitória eleitoral dos democratas não equivale à celebração de uma derrota por ser moralmente reconfortante à facção islâmica do petismo. O custo real da derrota será exorbitante, inclusive para os moralmente extasiados.
A circunstancial ingratidão brasileira com um de seus maiores nomes não lhe acrescenta direitos além daqueles, cotidianamente feridos, de que dispõem brasileiros e eleitores comuns. Ser o arquiteto de uma estratégia, conforme vendida ao eleitorado, mas acobertando uma ópera, foi surpreendente; tê-la proposta ao eleitorado por “postes” partidários, uma ignomínia; tratar os militantes de primeira linha como abúlicos, um erro brutal. Lula comprometeu seriamente o descortino de estadista que possuiu enquanto um brasileiro homem comum. Vença ou perca a eleição, através de um mamulengo, Lula, o grande, sucumbirá ao nefasto projeto de Curitiba: não será mais um brasileiro comum; apenas um político comum.
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Segundo resultados do Paraná Pesquisas registrados no TSE (SP-05341/2018 e RJ-o6304/2018), obtidos, respectivamente nos dias 3 e 14 de julho, Jair Bolsonaro obteve 26,6% dos votos contra 25,5% de Lula, no Rio de Janeiro. Empate técnico. Em São Paulo, Bolsonaro aparece com superioridade estatística de 24,3% contra 21% de Lula. Ainda não chegou o momento em que pesquisas eleitorais façam sentido para mim. Publico esses dados para ilustração dos dirigentes do Partido Paulista dos Trabalhadores.