CONTRA CIRO, ATÉ PEDIR O CUMPRIMENTO DA LEI VIRA ESCÂNDALO
Por Gustavo Castañon
O editorial da Folha de ontem resume a nova frente de investida contra a candidatura Ciro Gomes. Mais do mesmo: escandalizar o que Ciro fala, porque não há escândalos sobre o que ele faz.
Agora distorcem sua declaração de que em seu governo os poderes iriam “voltar para suas caixinhas”.
Ou seja, até pedir que os poderes voltem a agir dentro da lei e da Constituição, sem invadir as atribuições dos outros poderes, vira escândalo contra Ciro na Folha de São Paulo, tucana. Chamam agora o legalismo de”truculência”.
É nesse sentido que Ciro disse que a eleição dele é a única chance de Lula sair da cadeia, afinal de contas, se estivéssemos em normalidade legal, um condenado em segunda instância ainda não estaria preso antes do julgamento dos recursos.
É aquilo, a lei vale para todos, menos para o judiciário que quer ficar acima da Constituição: legislar, governar, executar, eliminar políticos da vida pública sem eleições.
Sem ter tempo de averiguar todas as acusações de corrupção e processos que pesam sobre seu candidato Geraldo Alckmin e sua formidável associação de condenados e acusados que ela chama de “coligação”, a Folha requenta até a declaração de Ciro de 2002 sobre o papel de sua esposa Patrícia Pilar na campanha.
Reproduzir a classificação de “capitão do mato” que as entidades do movimento negro fazem a Fernando Holiday passa a ter “óbvio teor racista”.
Foi em função dessa resposta de Ciro aos ataques do MBL (maior fonte de fake news da internet) que o MP paulista abriu “investigação” sobre Ciro para “apurar se a declaração teve teor racista” (?), mas parece que a imprensa tucana já deu o veredito.
Indignado, Ciro, que nunca processou nenhum adversário pelas centenas de ofensas que já recebeu na vida pública, reagiu à tentativa do MP de interditar o debate e cercear a linguagem política. Estamos virtualmente sob uma polícia da palavra e do pensamento.
Reagindo, a associação de procuradores paulistas classificou como “gravíssima” a “ameaça” de Ciro de lutar para que eles voltem a atuar dentro das suas atribuições constitucionais.
Este será o jogo daqui para frente senhoras e senhores.
Por que?
Por dois motivos básicos.
A oligarquia judiciária, a nova nobreza que trabalhamos para sustentar, não quer ameaças a seus privilégios legais e financeiros e tem na mídia sua principal parceira.
Todos já sabem que o Judiciário e o Ministério Público querem agora legislar, executar, bloquear, e escolher os candidatos em nome dos eleitores.
Como se eles fossem menos corruptos que os outros poderes.
Hoje, no Brasil, das prefeituras às autarquias federais, toda a máquina pública está sendo progressivamente paralisada pelo excesso de órgãos de controle e suas burocracias de funcionários públicos imoralmente remunerados, uma verdadeira nobreza financiada com dinheiro público de um país de pobres e miseráveis que não se importa com a economia real e a fonte de seus salários.
Quando Ciro fala em eliminar privilégios e respeito à Constituição eles se arrepiam dos pés a cabeça.
O segundo motivo é a unidade da esquerda.
Ciro tem dez dias para se viabilizar como favorito ao pleito de 2018. Para isso ele precisa do apoio do PSB e talvez do PCdoB. Isso garantiria o tempo de TV e palanques que poderiam o colocar na liderança da disputa.
O “momento Ciro” ainda não chegou. Ele chegará na hora certa com tempo suficiente de TV e o começo dos debates. Ainda assim ele já está em terceiro lugar.
Mais ainda, a imprensa paulista, acobertadora de Alckmin, Temer, de seus processos e de sua “coligação”, tem agora dez dias para garantir que a esquerda fique desunida.
Uma aliança entre as duas maiores lideranças da centro-esquerda hoje selaria o destino do golpe e das eleições.
Já uma eventual candidatura do PT que não Lula, contra Ciro, além de poder tirar a esquerda do segundo turno, pode garantir a vitória da direita se chegar a fase final.
Portanto, a prioridade do golpe agora é manter a esquerda desunida.
Teremos dez dias de espancamento de Ciro e intrigas entre ele e Lula.
Ontem, por exemplo, uma simples constatação de Ciro de que era concorrente de Lula e do PT no momento, gerou escândalo na Folha pelo uso da palavra “antagonista”.
Ciro sempre disse que a prisão de Lula era arbitrária porque ainda não transitou em julgado, sempre o reconheceu como maior líder popular do país, sempre disse que a aspiração por sua candidatura era legítima mas inviável politicamente e juridicamente por causa da lei que o próprio PT inventou e sancionou (ficha limpa) e sempre disse que Moro era um juiz que gostava de holofotes e desafiava a lei e a constituição.
Mas nada disso parece ser suficiente para o PT ou merece destaque na imprensa.
O jogo é pressionar Ciro para inibi-lo de fazer declarações de apoio a Lula e ao mesmo tempo amplificar as declarações que podem gerar algum ruído entre eles.
Porque se Lula é hoje uma ideia, Ciro é hoje nossa realidade: nada menos que nossa última chance de continuarmos a ser uma nação.