Na Folha
Até quando, PT?
Partido precisa definir quem substituirá Lula no caso do seu provável impedimento
Por Nabil Bonduki
24.jul.2018 às 2h00
Se o PT acredita no que sua direção, seus militantes e seus simpatizantes dizem, o nome de Lula não estará nas urnas em 7 de outubro. Afinal, como dizem, não foi para isso que o golpe foi dado? Não é por isso que Lula está preso e condenado em segunda instância, com uma velocidade ímpar no Judiciário brasileiro?
No discurso do partido, parece não restar nenhuma dúvida de que o “establishment” não o quer candidato porque, se fosse, dificilmente não seria eleito presidente.
Depois de tantas tentativas de obter alguma vitória no Judiciário, sem sucesso, será que alguém ainda acredita que, na última hora, surgirá alguma jurisprudência salvadora?
Não adianta os “conselheiros jurídicos” do PT mostrarem 145 exemplos de prefeitos que se elegeram sem ter o registro deferido e que, em 70% dos casos, acabaram revertendo a inelegibilidade e hoje governam suas cidades.
Alguém acredita que, na atual conjuntura, haja alguma equivalência entre Lula e um prefeito do interior? Que vão deixar seu nome estar nas urnas?
Enfrentar esse impasse não significa abdicar da convicção de que o ex-presidente é inocente, que sofre injustiça e que segue sendo o candidato preferido pelo partido e por 38% dos brasileiros que têm candidato no primeiro turno, segundo a última pesquisa do Datafolha.
Estamos a 75 dias das eleições e as peças se mexem com rapidez. O quadro está se configurando sem fugir muito do que tradicionalmente tem ocorrido nas últimas eleições. Com a diferença de que hoje vigora uma tremenda descrença na política e nos partidos, o que exige transparência e respeito ao eleitor.
Alckmin, o preferido do mercado, finalmente conseguiu reunir a maior parte da velhíssima política e da base parlamentar do governo Temer. O blocão tem musculatura, recursos, tempo de TV, capilaridade e muita gente suspeita. Sem dúvida, é um polo forte, apesar de ter perdido muito terreno para a extrema direita.
No outro polo, o PT é o principal partido. É preferido por 20% dos brasileiros (Datafolha de abril). Tem cinco governadores, a maior bancada federal e pode agregar outras forças de oposição ao bloco de sustentação do atual desgoverno. Para além de Lula, seu potencial é enorme. Mas não pode mais se ausentar do debate eleitoral.
Se o PT quiser agregar as forças políticas e os brasileiros que desejam dar um novo rumo para país, não pode mais perder tempo. Precisa definir quem substituirá Lula no caso do seu provável impedimento.
Isso é fundamental para negociar alianças e debater as propostas com a sociedade e com os outros candidatos. Enfim dar uma cara nova para um projeto político que não se limita a uma personalidade.
* Nabil Bonduki
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi vereador de São Paulo pelo PT.