Sem Lula, Bolsonaro tem quase 40% dos votos masculinos no Rio

Crédito: Cássio Bruno / Agência O Globo.

Alguns leitores ficam irritados com as pesquisas que publico aqui no blog. Acham que eu não deveria jamais publicá-las. Alguns vão mais longe e me xingam por isso.

Eu acho essas posturas extremamente ingênuas. Podemos ser críticos às pesquisas, não acreditar nelas, até mesmo ignorá-las, mas o meu trabalho, como blogueiro político, é olhar para todas elas, compará-las entre si, destrinchar suas inconsistências, analisar seus dados estratificados, até mesmo para combater fraudes e exageros. Não conseguirei fazer isso sem trazê-las à luz.

Tenho uma regra: trago ao blog apenas pesquisas registradas pelo Tribunal Superior Eleitoral, que tem leis extremamente severas contra fraude. Se algum internauta desconfia de fraude, e nos convencer disso (e já houve ocasiões), então comprometo-me a fazer uma denúncia pública ao TSE. Há pena de prisão e multas milionárias para institutos que fraudam pesquisas de intenção de voto.

Quanto ao “histórico” dos institutos, nenhum deles, infelizmente, é 100%. Há sombras por toda a parte, inclusive em alguns institutos tidos como “amigos” pelos internautas, então vamos nos ater ao comportamento deles nestas eleições. O Paraná Pesquisas, por exemplo, teve um momento muito questionável em 2014, quando, dias após o primeiro turno das eleições presidenciais, mostrou o candidato Aécio Neves com 17 pontos à frente de Dilma Rousseff. Naquela ocasião, o Cafezinho fez uma denúncia dura contra números que nos pareciam explicitamente fraudulentos, e outras pesquisas rapidamente comprovaram que havia inconsistências graves neles.

Nestas eleições, porém, estamos dando uma colher de chá para o Paraná Pesquisas, até porque não temos tantos institutos assim em operação para nos dar ao luxo de sermos implicantes demais. Conforme as pesquisas forem se intensificando, de qualquer forma, as distorções de uma ou outra sondagem ficarão mais evidentes.

Outro comentário importante é que o internauta não precisa “acreditar” nas pesquisas. Eu não acredito. Eu as trato simplesmente como simulacros de uma realidade que iremos conhecer apenas quando as urnas forem abertas. O que eu faço aqui são exercícios especulativos em torno dos números apresentados, tendo como fundamento o meu próprio bom senso, outras pesquisas e a observação empírica da realidade.

Meu conselho ao internauta é não olhar para as pesquisas de maneira apaixonada, a saber, não se entusiasmar demais quando seu candidato aparece bem, nem se deprimir quando ele está mal. Este conselho se destina particularmente a alguns queridos leitores petistas, que brandem triunfalmente pesquisas que mostram Lula à frente como se nem precisássemos mais de eleições, e reagem com muita irritação (contra o blogueiro que as publica) quando se deparam com números que não são tão positivos assim para Lula, muitas vezes nas páginas posteriores das mesmas pesquisas de que tanto gostaram.

Dito isso, vamos as números do Paraná Pesquisas para o Rio de Janeiro, em relação às eleições presidenciais.

Não são números confortáveis para a esquerda, porque Bolsonaro está à frente de Lula: 26,6% X 25,5%. Apesar do empate na média geral, a vantagem de Bolsonaro junto ao eleitorado masculino, de 35% X 25%, não me parece um fato promissor, porque os votos masculinos costumam antecipar a média geral.

Num cenário sem Lula, Bolsonaro atinge quase 40% dos votos masculinos no estado do Rio.

A força de Lula está no eleitorado mais velho, e entre os menos instruídos (mais pobres, portanto), onde obtêm larga vantagem: entre o eleitorado com educação até o nível fundamental, Lula tem 36% da  preferência, contra 15% de Bolsonaro. Mas entre o eleitorado com ensino médio, Lula perde de 30% a 24% de Bolsonaro, e entre cidadãos fluminenses com curso superior, Bolsonaro tem sua maior vantagem sobre o petista: 34% a 15%.

O desempenho de Marina na pesquisa, 10% com Lula e 15% sem Lula é resultado de seu forte recall no Rio de Janeiro, estado onde ela ficou num confortável segundo lugar no primeiro turno das eleições presidenciais de 2014, com 31%, logo atrás de Dilma, que obteve 36% dos votos no estado. Aécio conquistou 27% dos votos no Rio de Janeiro, um desempenho bom para um tucano.

Ciro Gomes, por sua vez, repete no Rio a sua média nacional: tem 6,1% dos votos num cenário com Lula, e 9% num cenário sem a presença do ex-presidente. O desempenho melhor do candidato está entre eleitores com mais de 60 anos, onde ele pontua 12%, e com ensino superior, onde ele tem 10%.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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