O quadro eleitoral começa a se definir.
Alckmin amealhou o “centrão”, que está mais para “direitão” mesmo, e contará com a maior máquina eleitoral e o maior tempo de TV. Aumentou a probabilidade de que consiga sair do atoleiro nas intenções de voto, embora seu partido continue queimadaço e seu carisma permaneça o mesmo que lhe logrou o apelido autoexplicativo de picolé de chuchu.
Bolsonaro contará com… Janaína Paschoal e Alexandre Frota. Com parco tempo de TV e, até agora, sem alianças, o candidato do ódio deve ir solitário para o pleito. Lutará contra a própria inaptidão intelectual para chegar ao segundo turno.
A esquerda, por sua vez, revive o seu eterno drama de estar dividida em um momento que pede união absoluta.
Guilherme Boulos é o candidato do PSOL. A possibilidade dele abrir mão da candidatura em nome de uma união do campo antigolpe não chega nem a ser aventada, o que se entende pela posição do PSOL de não admitir qualquer suavização do seu programa na hora de fazer alianças. Por isso mesmo, vai junto com o PSOL apenas o PCB.
O PCdoB decidiu, em sua convenção nacional, conclamar pela união do campo popular já no primeiro turno. Considerando a quadra histórica em que nos encontramos – golpe, ataques cruéis à classe trabalhadora, ascensão do fascismo e possibilidade real da esquerda ficar fora do segundo turno – é, de longe, a postura mais sensata e que deveria ser imitada por todos os partidos que se pretendem de esquerda.
O PDT lançou Ciro Gomes à presidência. O partido vem construindo a candidatura há meses. Ciro, e isso é reconhecido até por seus adversários, é extremamente inteligente e preparado. Desfila seus conhecimentos de economia e deixa sempre claro que seu governo privilegiará os trabalhadores e os pobres. Critica acidamente o rentismo e a concentração de renda no Brasil. Não enxergo um bom argumento para que Ciro e o PDT abram mão da candidatura.
O PSB tenta construir uma mínima unidade entre seus quadros, sendo que as duas possibilidades mais fortes são o apoio a Ciro Gomes ou a neutralidade, para que os estados fiquem mais à vontade para apoiar quem melhor lhes convenha. Entre as picuinhas partidárias nos estados e a responsabilidade com o futuro do país, parece óbvio que o PSB deve descartar a possibilidade de ficar neutro nacionalmente e, assim como o PCdoB, conclamar a unidade da esquerda.
O plano do PT parece ser o de manter a candidatura de Lula até o limite e, quando esta for definitivamente indeferida, o que só não ocorrerá por um verdadeiro milagre, lançar um substituto – provavelmente Fernando Haddad.
A simples descrição da situação de cada um dos partidos deixa transparecer que a estratégia do PT é a mais arriscada.
O Judiciário está comprometido até a medula com o golpe e tudo indica que Lula não poderá sequer gravar vídeos de dentro da cadeia para fazer campanha. Esperar que os demais partidos do campo popular apoiem a candidatura Lula nessas condições e, depois, o “poste” escolhido para substituí-lo é exigir uma postura de certa forma submissa e, por isso mesmo, totalmente inviável. Tanto que o PT nem conclama os demais partidos para tal aventura.
Compreende-se que o partido não queira abrir mão da cabeça de chapa por ser a maior agremiação do campo democrático, por ter o político mais popular do país em suas fileiras e por medo de perder sua hegemonia na esquerda. Entretanto, estamos diante de uma eleição arriscadíssima.
Não é preciso falar sobre a importância da esquerda estar presente no segundo turno e, assim, ter a possibilidade de ganhar a eleição. Um segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro, por exemplo, nos colocaria na posição surreal de defender o voto em um candidato tucano. A eleição de qualquer um dos dois, por sua vez, seria desastrosa para a classe trabalhadora.
A hora, portanto, é de pensar grande, de pensar diferente. É hora de o PT abrir mão da disputa pela hegemonia e tomar a decisão mais racional e sensata. Se o PT decidir apoiar Ciro Gomes, a tendência é o PSB ir junto. A vaga de Ciro no segundo turno estaria garantida e teríamos uma chance concreta de frear a avalanche neoliberal.
A bola está com o PSB e, principalmente, com o PT.