PCdoB bate o martelo pela aliança nacional com PT, PDT e PSB

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), uma das lideranças mais combativas da esquerda brasileira, resumiu em vídeo a decisão do Partido Comunista do Brasil.

Jandira explicou que a missão da legenda, ao longo dos próximos dias, decisivos porque antecedem as convencões partidárias e o próprio início das campanhas de TV, será convencer os dirigentes partidários a fecharem um grande acordo de união já no primeiro turno.

É interessante avaliar ainda o que Jandira não falou, mas que está implícito tanto em seu discurso quanto na nota do PCdoB. Os pensamentos abaixo, no entanto, são exclusivamente meus, não da deputada.

O coração do PCdoB está rachado entre o seu engajamento político na luta pela liberdade de Lula, que se confunde com a luta contra o golpe, e a necessidade de articular a estratégia eleitoral menos arriscada para garantir a vitória do campo democrático popular.

À diferença de alguns quadros petistas, no entanto, o PCdoB sempre posicionou o candidato Ciro Gomes, do PDT, como um aliado essencial no campo da esquerda. Manuela D’Ávila, em todas as suas entrevistas, sempre fez questão de mencionar Ciro Gomes como um quadro importante na luta para vencer as eleições. Nunca houve qualquer atrito entre Ciro Gomes e o PCdoB. Muito pelo contrário, há uma relação de sólida camaradagem política e ideológica.

Isso não quer dizer que o PCdoB vá se unir a Ciro Gomes, embora existam quadros influentes no partido que defendem uma aliança com PDT no primeiro turno.

O governador Flavio Dino, por exemplo, foi o primeiro grande quadro do campo popular a defender, publicamente, que a esquerda se unisse em torno de Ciro Gomes. Ele não imaginava, contudo, que setores do PT fossem reagir de maneira tão hostil à proposta.

Desde muitos anos que o PT e o próprio Lula vinham sinalizando que apoiariam outras legendas em eleições futuras, porque a única maneira de sustentar coalizões partidárias ao longo dos anos, conforme tem explicado Jaques Wagner, é permitindo a alternância. É assim que Lula sinalizara, lá trás, com a possibilidade de apoiar Eduardo Campos, nome forte do PSB, para a presidência da república. O partido hegemônico reúne seus colegas e deixa claro: olha, vocês me apoiam uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes, mas aí é a vez de um de vocês, ok?

Mas o PCdoB também pode se unir ao PT, se for esta a decisão estratégica do campo popular. Nos últimos dias, após movimentos bastante insistentes do PT (até mesmo um pouco agressivos), nos parecia que o PCdoB se encaminharia para uma aliança com o PT. A nota do partido, no entanto, deixou claro que não existe nenhuma decisão definida.

Temos outra peça fundamental neste tabuleiro: o PSB. Quem tem mais chances de receber o apoio do PSB? A neutralidade do PSB não interessa ao campo progressista. É importante que a legenda se defina: PT ou PDT?

O problema aqui é que PCdoB e PSB dão mostras de dolorosa indecisão, como que a esperar um sinal qualquer das estrelas.

Este editor não se pretende dono da verdade, mas eu acho que se todos os partidos ficarem só falando em união, união, união, de maneira repetitiva e monótona, mas não se posicionarem claramente, ou seja, não tiverem a ousadia de assumir algum tipo de risco, de arrostar algum tipo de incompreensão, então vai ficar difícil essa união se materializar.

É preciso coragem!

A solução mais óbvia, aqui, é a democrática. Quem apoia a união em torno do candidato do PT, levanta um braço, quem apoia a união em torno de Ciro Gomes, levanta outro braço. Façamos uma espécie de “prévias” dentro do nosso próprio campo, e que vença o melhor.

Eu não quero contribuir para essa indecisão. Eu tenho minha opinião, já explicitada em muitos artigos. Eu já assumi meus riscos e já arrostei incompreensões. Acho que a solução mais inteligente, para o campo da esquerda, é se unir em torno de Ciro Gomes. As razões são lógicas: ele consegue reunir o apoio do PCdoB, que se aliaria até mais alegremente ao PDT do que ao PT, e também do PSB, cuja maioria dos diretórios o apoia.

O PSB dificilmente se reuniria em apoio ao PT, tanto é assim que a luta do PT, conforme temos acompanhado pela imprensa, não é propriamente por uma aliança nacional com o PSB, que o PT sabe ser muito improvável, mas para que o PSB se mantenha neutro na disputa, isolando Ciro. É uma estratégia antipática.

Lula é a maior liderança de massas viva da América Latina, quiçá do mundo, mas o seu poder de transferência de votos é limitado, vide o resultado das últimas eleições em 2016. A própria Jandira teve apoio explícito de Lula, que veio ao Rio diversas vezes, participou de comícios, reuniões, passeatas, junto com a sua candidata, fez vídeos inúmeros de apoio. E mesmo assim Jandira obteve apenas 3,3% dos votos nas eleições municipais de 2016.

Com uma aliança fechada em torno de Ciro, alguns dilemas políticos ficam resolvidos por si mesmos. Marília Arraes pode vir candidata ao governo de Pernambuco e que vença o melhor. Não haverá necessidade de violentar uma candidatura petista que se tornou tão orgânica. Marcio Lacerda pode ser vice de Ciro e todos os partidos apoiariam a reeleição de Pimentel, que não apenas garante assim uma vitória mais segura, como reforça, desde já, a sua governabilidade a partir de 2019.

O PT sairia das eleições com seis governos estaduais: Minas Gerais, Bahia, quiçá Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí.

Com esse arranjo, várias legendas do centro poderiam se desgarrar de Alckmin e vir para o lado de cá.

Com esse recuo do PT, além disso, a gente conseguiria neutralizar as duas forças políticas mais perigosas: o antipetismo fanático e o fascismo violento. Essas forças terão papel relevante no debate eleitoral, mas a sua principal fonte de energia, o ódio anti-PT, construído ao longo dos anos pela mídia corporativa e pela omissão dos próprios governos petistas, será cortada se o candidato da esquerda não for um nome do PT.

Mas essa é apenas a minha opinião, que emito respeitosamente, e que não é necessariamente a opinião do blog, que tem colunistas que pensam de outra maneira.

Quem não concorda que dê a sua, e aí vamos medir quais são os argumentos mais fortes. Se o campo entender que o melhor candidato é um nome do PT, então vamos juntos. Se for este o caso, eu agradeceria muito (e novamente é uma opinião muito pessoal) que o PT definisse logo um nome substituto para o caso de Lula não conseguir o seu registro. Entendo perfeitamente (não concordo com ela mas entendo) a estratégia do PT de levar a candidatura Lula até o limite, mas o que não consigo compreender, nem aprovar, é manter o eleitorado inseguro em relação ao que acontecerá no caso do ex-presidente ser impedido de se candidatar, como parece ser provável que ocorra.

Se o PT pretende manter a cabeça de chapa de uma aliança nacional do campo progressista, seria saudável apresentar qual o candidato substituto de Lula, porque não me parece racional arrastar todo o campo progressista para um mergulho no escuro. Definindo um substituto, poderemos saber se ele nos parece merecedor ou não do nosso engajamento.

Entre as legendas e forças do campo popular, há diferenças de visão de mundo, algumas substantivas (outras nem tanto), algumas críticas justas (outras talvez não) de uns aos outros, mas o momento é de priorizar a convergência.

O que não pode é haver desrespeito ou preconceito político dentro do nosso campo (do tipo: “olha só, esse é um eleitor típico do PT, ou de Ciro”). Nós da esquerda já enfrentamos preconceitos demais por parte das forças reacionárias e fascistas. Os eleitores de Manuela, do PT, de Boulos e de Ciro Gomes são camaradas que defendem a liberdade de Lula, estão engajados na resistência ao golpe, defendem políticas ousadas em prol da soberania nacional e da reindustrialização do país, lutam contra o estado de exceção. Temos muito em comum!

Essa união, além disso, não é apenas para essas eleições. Se perdermos as eleições – e eu sempre considero a possibilidade de perder, porque acho que é uma postura desesperada (que nos leva, portanto, a uma insuportável neurastenia) e até mesmo antidemocrática, não admitir, a priori, a possibilidade de derrota – se perdermos, estaremos mais unidos que nunca, num processo de resistência até as eleições municipais de 2020 e depois as presidenciais de 2022. Se vencermos, a luta para dar sustentação ao governo, para pressioná-lo sem debilitá-lo, para levar adiante as grandes reformas e revogar as medidas de Temer, será infinitamente dura e complexa.

Perdendo ou ganhando, teremos muitas batalhas à nossa frente.

***

Abaixo, a nota do PCdoB, conforme publicada no site Vermelho (site oficial do PCdoB):

PCdoB conclama à unidade desde já para vencer a eleição

O Comitê Central do PCdoB reafirmou neste domingo (22) que a estratégia eleitoral para derrotar a direita nas eleições de outubro é a unidade. “O PCdoB reafirma a convicção de que a estratégia política da esquerda e das demais forças democráticas, populares e patrióticas deve ter por centro a vitória eleitoral em outubro, o que exige marcharem unidas desde já”, afirma nota divulgada pelo partido.

Clécio de Almeida Comitê Central do PCdoB encerrou reunião neste domingo (22): “Unidade desde já” Comitê Central do PCdoB encerrou reunião neste domingo (22): “Unidade desde já”

Na nota, o PCdoB conclama “o PT, PDT, PSB, PSOL e demais forças progressistas a construírem a unidade, já no primeiro turno, para vencer as eleições, derrotar a agenda neoliberal e neocolonial de Alckmin, Temer e Bolsonaro, retirar o Brasil da crise e encaminhá-lo a um novo ciclo de desenvolvimento soberano com geração de empregos, distribuição de renda e direitos”.

Confira a nota na íntegra:

PCdoB conclama PT, PDT, PSB e PSOL: Unidade desde já

Aberto o calendário das convenções partidárias, vem à tona uma nítida orquestração das forças conservadoras que entronizaram o desastroso governo Temer para tentar vencer as eleições presidenciais com uma candidatura do consórcio golpista. Desenha-se uma coesão do campo político da direita e centro-direita em torno do candidato do PSDB Geraldo Alckmin. Faz parte dessa orquestração tentar isolar o candidato do PDT Ciro Gomes e, também, concorrentes do tucano pertencentes ao seu espectro político e, ainda, manter a candidatura do MDB, Henrique Meirelles, com o intuito de descolar Alckmin de Temer.

Não se deve subestimar esse movimento de reforço a Alckmin e nem o candidato de matiz fascista Jair Bolsonaro, mas a disputa presidencial está longe de estar definida, seguirá acirrada e de resultado incerto, mesmo com o líder das pesquisas, o ex-presidente Lula, mantido arbitrariamente encarcerado. O PCdoB prossegue a luta pela liberdade do ex-presidente e pelo seu legítimo direito de ser candidato. Alckmin carregará nos ombros, mesmo que se esquive, o governo que imputou grande sofrimento e tragédias ao nosso povo; e seu programa é antinacional, antipopular e autoritário.

Neste cenário, o PCdoB reafirma a convicção de que a estratégia política da esquerda e das demais forças democráticas, populares e patrióticas deve ter por centro a vitória eleitoral em outubro, o que exige marcharem unidas desde já.

Para isto, o PCdoB conclama o PT, PDT, PSB, PSOL e demais forças progressistas a construírem a unidade, já no primeiro turno, para vencer as eleições, derrotar a agenda neoliberal e neocolonial de Alckmin, Temer e Bolsonaro, retirar o Brasil da crise e encaminhá-lo a um novo ciclo de desenvolvimento soberano com geração de empregos, distribuição de renda e direitos.

Da parte do PCdoB, reiteramos que Manuela D’Ávila, que segue com sua exitosa pré-campanha, renovará seu empenho para que se viabilize a união do campo progressista, condição imperativa para que alcancemos a quinta vitória do povo.

São Paulo, 22 de julho de 2018

Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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