Ciro age certo ao buscar alianças políticas
Discutir mudança de programa é regra do jogo
KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
Como o presidente da República não se elege com maioria no Congresso, ele precisa fazer alianças para governar. Nessa fase da campanha, Ciro Gomes (PDT) tem procurado modificar o seu programa de governo para atender a partidos mais conservadores, do chamado Centrão, como o DEM, por exemplo.
O pedetista está agindo dentro da regra do jogo. Na atual fase da campanha, Ciro e Geraldo Alckmin (PSDB) estão no papel deles ao buscar alianças para governar. Não se deve demonizar tais movimentos.
Mas é preciso colocar limites para que a composição política não se transforme em mera negociação cartorial, um “é dando que se recebe”. Há partidos conservadores que costumam sempre apoiar o governo de plantão. É errado que congressistas desses partidos condicionem tal suporte ao recebimento de benesses públicas, como cargos e verbas.
Também é negativo para o país negociações políticas com partidos cartoriais, controlados de forma centralizada, como o PR de Valdemar da Costa Neto e o PTB de Roberto Jefferson. Nesses casos, as articulações deixam de ser programáticas e se tornam mais fisiológicas.
O PR, por exemplo, discute dar apoio ao PT, a Ciro e Bolsonaro. Não há guia ideológico nenhum. Como conciliar as ideias de Bolsonaro com as de Ciro e de Lula, por exemplo?
Jair Bolsonaro já deu declarações racistas, homofóbicas e misóginas”. Ele defende a selvageria. Exemplo: a declaração de sexta no Pará quando ele disse que policiais que massacraram trabalhadores sem terra em Eldorado do Carajás estavam certos. Isso tá errado. Tem de ser criticado”. A defesa de um massacre é selvageria.
Por isso, é bom que haja debates programáticos para formação de alianças. Isso ajuda a civilizar a campanha. Contribui para a discussão de temas importantes, como destinar os recursos do Orçamento aos mais pobres e não a bancar privilégios de corporações e de lobbies privados.
Ouça este comentário a partir de 1 minuto e 30 segundos no áudio lá embaixo.
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Expressão histórica
Um ouvinte do “Jornal da CBN – 2ª Edição” enviou mensagem com crítica à menção a Costa Neto e Jefferson. O ouvinte disse que Lula comanda o PT de dentro da cadeia.
Ora, não dá para comparar Lula com Costa Neto e Jefferson.
Ainda não voltamos aos tempos da ditadura de 1964, quando havia cassações políticas. Há até gente com saudade daquele regime. A democracia é tão boa que permite a defesa do indefensável, como o regime dos generais-presidentes.
Tampouco há pena de morte física e política no Brasil. Lula está recorrendo na Justiça contra a condenação que recebeu do juiz Sergio Moro.
Tem gente que acha que Lula está condenado com base em provas, no mínimo, controversas e que Moro age como promoter e não como juiz imparcial. Essa é a minha opinião, já manifestada inúmeras vezes na rádio e no blog.
Lula é um líder político muito maior do que Jefferson e Costa Neto. Está no patamar de Getúlio e de JK, gostem ou não do petista. Deixou a Presidência com enorme índice de aprovação popular. Tem lugar na história independentemente do que venha a acontecer com ele daqui em diante.
Também não dá para comparar a vida partidária do PT com a do PR e PTB. O PSDB tem vida partidária mais relevante. A Rede de Marina Silva também. As bancadas do MDB na Câmara e no Senado influenciam os rumos do partido. O PSB está ouvindo governadores para decidir o que fazer, se, eventualmente, apoiará Ciro, Alckmin ou o PT ou se ficará neutro na disputa presidencial. O PR e o PTB têm um nível de controle centralizado que os deixa distante dessas legendas citadas.
Ouça este comentário a partir dos 12 minutos e 55 segundos no áudio no fim do texto.
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Corrupção tucana
A teoria do Ministério Público é que Paulo Vieira de Souza teria movimentado uma quantia alta que se referia não só a uma fortuna pessoal, mas a dinheiro para políticos do PSDB de São Paulo. Essa é a tese dos investigadores para tentar rastrear R$ 113 milhões que teriam passado pelas Bahamas. Ouça este comentário aos 28 minutos e 20 segundos no áudio no final do post.
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Outros temas
O recuo de Trump em relação ao afago em Putin e a repressão do governo da Nicarágua a oposicionistas também foram temas do “Jornal da CBN – 2ª Edição”de hoje. A análise sobre Trump começa aos 22 minutos. O comentário sobre a revolução sandinista está aos 26 minutos e 10 segundos.